Diário de Notícias

Estudantes de Medicina britânicos juntaram- se a jihadistas na Síria

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TERRORISMO Jovens estarão a trabalhar em hospitais e não a combater. Pais viajaram para a fronteira e querem que eles regressem a casa

Nove estudantes de Medicina britânicos entraram ilegalment­e na Síria na semana passada para se juntarem ao Estado Islâmico e suspeita- se que estarão a trabalhar em hospitais de zonas controlada­s pelos jihadistas, de acordo com o jornal The Guardian.

Os jovens, cinco rapazes e quatro raparigas, voaram de Cartum, a capital do Sudão, para Istambul, na Turquia, no passado dia 12, onde apanharam no dia seguinte um autocarro para a fronteira com a Síria, entrando no país governado por Bashar al- Assad pouco depois. Aparenteme­nte nenhum deles informou as famílias dos seus planos.

Quando chegou à Síria, Lena Maumoon Abdulqadir, de 19 anos, deixou em alerta a sua família ao enviar uma curta mensagem à irmã através da aplicação WhatsApp, na qual dizia que queria “voluntaria­rse para ajudar os feridos da Síria”, de acordo com o mesmo jornal britânico.

“Acreditamo­s que eles estão agora em Tel Abyad, que é uma cidade controlada pelo Estado Islâmico. O conflito lá é violento, por isso devem precisar de ajuda médica”, declarou ao The Guardian Mehmet Ali Ediboglu, um elemento da oposição política turca. “Eles foram enganados, alvo de uma lavagem cerebral. É o que eu e os seus familiares pensamos”, acrescento­u o político.

Assim que souberam do destino dos nove jovens, os seus pais viajaram para a Turquia, junto à fronteira com a Síria, para tentarem de alguma forma convencê- los a voltar para casa. E acreditam que os estudantes estão a trabalhar em hospitais e não planeiam combater. “Não nos esqueçamos de que eles são médicos. Eles foram para lá para ajudar, não para lutar. Por isso este caso é diferente”, sublinhou Mehmet Ali Ediboglu.

O Ministério da Administra­ção Interna britânico adiantou ao The Guardian que se os jovens regressare­m ao Reino Unido não serão acusados automatica­mente no âmbito das leis antiterror­ismo se conseguire­m provar que não combateram. “A legislação do Reino Unido tem amplitude para lidar com diferentes conflitos de formas diversas – combater numa guerra no estrangeir­o não é automatica­mente um delito, mas dependerá da natureza do conflito e das atividades do indivíduo”, disse fonte do governo de David Cameron ao The Guardian.

Um porta- voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os britânico adiantou que está a ser “prestada assistênci­a consular às famílias”, tentando- se descobrir, em colaboraçã­o com a polícia turca, “o paradeiro” do grupo.

Os nove jovens, cujas idades variam entre o fim da adolescênc­ia e o início dos 20 anos, têm todos raízes sudanesas e estudavam Medicina em Cartum, a capital do Sudão. Três deles já tinham concluído a licenciatu­ra. “Estes miúdos nasceram e foram criados em Inglaterra, mas foram para o Sudão estudar Medicina. Perguntei às famílias porque tinham mandado os filhos estudar lá e, pelo que percebi, eles queriam que os jovens experienci­assem uma cultura mais islâmica e não esquecesse­m as suas raízes”, explicou ao The Guardian Mehmet Ali Ediboglu.

“Ela estava a viver numa terra [ África] que necessita de muitos médicos em todo o lado. Por que razão é que ela foi para a Síria fazer trabalho de voluntaria­do?”, declarou ao jornal turco Birgün Maumoon Abdulqadir, o pai de Lena, a jovem que enviou a mensagem à irmã depois de o grupo entrar em território sírio. ANA MEIRELES

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Os nove jovens são de origem sudanesa e viajaram secretamen­te

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