Tem nome de princesa da mitologia grega, anda de moto e conquistou Yanis Varoufakis
A artista plástica conheceu o ministro- estrela do Syriza em 2005 quando este vivia uma crise pessoal. Nunca mais se separaram. De volta a Atenas, Danae quer ter “uma vida normal”
Quando era pequena, o que Danae Stratou mais gostava de fazer nos tempos livres era ajudar o pai a arranjar os motores do barco e das motos da família. Talvez por isso esta miúda burguesa tenha aprendido a conduzir uma ainda adolescente e, ainda hoje, seja comum vê- la montada na sua BMW preta a passear pela capital grega com o marido, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis. “Continuamos a andar de moto por Atenas. Tentamos fazer uma vida normal”, explicou a artista plástica numa entrevista dada à Vanity Fair espanhola em finais de fevereiro.
Alta, loura, de olhos azuis, Danae não passa despercebida por onde passa. E desde que o marido se tornou o ministro- estrela do governo Syriza – impondo o estilo descontraído e o sorriso matador seja nas ruas de Atenas ou nas reuniões do Eurogrupo –, a artista é também uma das mulheres mais invejadas da atualidade. Danae conheceu Yanis em 2005, na inauguração de uma das suas exposições. E nunca mais se separaram.
Mãe de dois filhos – Esmeralda e Nicolas – de um primeiro casamento, Danae tornou- se o pilar na vida de Yanis. “Fui salvo por Danae Stratou, com quem, desde então, tenho partilhado a minha vida, trabalho e uma miríade de projetos”, escreveu Varoufakis no seu blogue yanisfaroufakis. eu. Na altura, a primeira mulher do agora ministro acabava de se mudar para a Austrália, levando a filha bebé de ambos, Xenia.
“Estamos no mesmo comprimento de onda”, afirmou Danae ao Corriere della Sera, sobre a sua relação com o marido. E acrescentou: “Admiro- o por tudo aquilo que faz.” Nos últimos dez anos, a “burguesa cosmopolita” e o “professor marxista”, como os apelidou o mesmo jornal italiano, dividiram o tempo entre os filhos, as exposições e as aulas – que ela deu em Atenas e ele no Texas. Era em Austin que viviam quando o Syriza ganhou as eleições gregas de 25 de janeiro e Varoufakis foi chamado por Alexis Tsipras para ocupar a difícil pasta das Finanças.
Pouco inclinada a falar sobre questões políticas, Danae contou à Vanity Fair como a nova vida do marido afeta o quotidiano da família. “Quando saímos à rua, as pessoas tiram- lhe fotografias.” No momento de aceitar o desafio político, esta apaixonada por tai chi não hesitou em apoiar Varoufakis: “Sabíamos que as coisas iam mudar, mas Yanis sentia que tinha de aceitar este trabalho.” Quanto ao futuro da Grécia, Danae garante: “Gostaria que as forças criativas e progressistas triunfassem. Assim poderíamos ter um futuro, criar os nossos filhos, avançar...” Família rica Nascida em Atenas em 1964, Danae é a terceira de cinco irmãs. Filha do empresário Phaedon Stratou e da pintora e escultora Eleni Potaga, pertence a uma das famílias mais ricas da Grécia. O seu avô paterno fundou a Piraiki- Patraiki, empresa do setor têxtil que chegou a empregar dez mil pessoas em vários países e durante a Segunda Guerra Mundial forneceu mantas e tecido para os uniformes das tropas gregas que combatiam os nazis. Mas nos anos 1980, o governo de Atenas decidiu nacionalizar a empresa e acabou por a encerrar.
Desde que voltou a Atenas, Danae – que deve o nome à princesa da mitologia grega pela qual Zeus se apaixonou – regressou com o marido ao apartamento no edifício propriedade da sua família. Foi no terraço com vista para a Acrópole que a artista e o marido posaram para os fotógrafos da revista francesa Paris Match, numa produção que gerou polémica. Yanis ao piano, os dois à mesa ou abraçados com o Partenon em fundo – as imagens valeram críticas, muitas delas nas redes sociais, a Varoufakis por estar a exibir a casa de luxo quando o seu país está endividado. O próprio ministro mostrou- se “arrependido” de ter aceitado fazer na produção fotográfica para a revista francesa. A ideia, explicou, era “dar uma imagem positiva da Grécia”, mas, acrescentou, “gostaria que aquela sessão nunca tivesse acontecido. Estou arrependido. Não sou fã do estilo daquelas fotografias”. Entre a carreira e a família Formada em Artes Plásticas em Londres no St. Martins College of Art and Design, Danae faz sobretudo instalações de grandes dimensões, no interior ou no exterior. As suas obras misturam elementos naturais, áudio, vídeo e fotografia, bem como componentes arquitetónicos e construções em metal. Uma das mais conhecidas é Desert Breath, uma instalação que, passados 18 anos, continua a exibir os seus cones de areia ( foram deslocados mais de 8000 m3 de areia para uma área de 100 000 m2) em forma de espiral no deserto egípcio, junto ao mar Vermelho.
Representante da Grécia na Bineal de Veneza em 1999 – experiência que descreveu à Vanity Fair como “um dos momentos mais incríveis” da sua carreira” –, Danae explicou à revista ter sido aí que percebeu “como funciona o mundo da arte a nível internacional”. Admitindo que se queria “entrar no circuito” teria tido de se mudar “para Londres ou para Nova Iorque”, a artista admitiu que na altura optou por pôr a família à frente da carreira: “Tinha dois filhos pequenos e a minha decisão foi clara: escolhi ficar na Grécia.”
Mais tarde, Danae acabou por juntar as duas paixões. Como em 2011 no projeto Cut- 7 que a levou a fotografar sete fronteiras em conflito no mundo. “Com Yanis.” Na altura o casal esteve em Chipre, Kosovo, Belfast, Etiópia- Eritreia, Palestina, Índia- Paquistão e México- EUA. E admite que nessas viagens teve sustos, como na Etiópia, quando uns militares lhe arrancaram a máquina fotográfica das maõs. Aventuras que lhe valeram a alcunha de “Indiana Jones” dos artistas contemporâneos. Em setembro virá a Portugal para expor na Bienal de Cerveira.
Empresa do avô de Danae forneceu uniformes a tropas gregas na II Guerra