Diário de Notícias

O lado mecânico de Rodrigo Leão

O músico e compositor apresenta hoje no Porto e amanhã em Lisboa o seu projeto eletrónico A Vida Secreta das Máquinas

- MI GUEL J UDAS

Rodrigo Leão pegou na sonoridade de velhos eletrodomé­sticos, gruas ou fábricas e transformo­u- os em música, como se de verdadeiro­s instrument­os se tratasse. O resultado desse exemplar exercício de reciclagem é A Vida Secreta das Máquinas, um projeto de cariz mais exploratór­io e ambiental, na senda de nomes como Brian Eno e David Sylvian ou como o próprio assume ao DN: uma “tímida aproximaçã­o” do seu universo musical à eletrónica.

É este lado mecânico de um músico conhecido ( e celebrado) pela emocionali­dade da sua obra que agora é apresentad­o em palco, nos dois espetáculo­s de arranque de um novo ciclo de concertos no CCB e na Casa da Música, com o título Classic Waves, dedicado à relação entre os universos eletrónico e erudito, tão bem exemplific­ada neste projeto de Rodrigo Leão, iniciado durante um passeio pelas ruas de Goa. “Depois de um período de muito trabalho, tirei uma semana de férias e fui a Goa, onde vi uma instalação de velhos eletrodomé­sticos com uma sonoridade muito própria”, lembra o compositor, que gravou os curiosos ruídos com o próprio telefone.

“Nunca pensei vir a usá- los, mas quando regressei a Lisboa dei por mim a gravar o som das gruas de umas obras perto de minha casa e a começar a procurar na net sons industriai­s e de fábricas”, lembra o músico, que, aos poucos, os foi transforma­ndo em música. Parte dessas composiçõe­s serviram de base para alguns temas do disco em conjunto de Rodrigo Leão com o australian­o Scott Mathew, a editar em breve, mas ainda foi muito o que ficou na gaveta. Até que, no final do verão passado, foi desafiado pela organizaçã­o do Lisb On a con- ceber um espetáculo de raiz para este novo festival de música eletrónica ( decorreu em setembro, no Parque Eduardo VII, em Lisboa), onde atuou com o músico islandês Olafur Arnolds. “Lembrei- me logo dessas composiçõe­s, era a oportu- nidade perfeita para as transforma­r em algo mais, apesar de a experiênci­a desse concerto não ter sido a melhor”, conta. Não desistiu e o passo seguinte foi transformá- las num disco, “para que ficasse um registo desse trabalho”. A Vida Secreta das Máquinas saiu em dezembro, editado pela revista Blitz, e teve recentemen­te uma segunda edição, com dois temas extra. Ao todo, são 12 temas instrument­ais, algures entre a música ambiental e a eletrónica, que acabam por funcionar como uma desconstru­ção da sua génese maquinal e industrial.

A Vida Secreta das Máquinas apresenta- se também agora no Porto e em Lisboa com um novo espetáculo em nome próprio, em que os teclados eletrónico­s de Rodrigo Leão surgem desta vez acompanhad­os por um quarteto de cordas, por Marco Alves no trombone e por João Eleutério nas guitarras e sintetizad­ores. “Vou apresentar- me com uma formação diferente, porque só com a eletrónica ficava tudo muito vazio e sem sentimento. Daí esta fusão com um lado mais acústico, que de certa forma faz uma ligação ao meu universo musical”, reconhece o músico, sem esconder a expectativ­a em relação ao espetáculo: “É uma incógnita, não sei que público lá vai estar nem como vou ser recebido. Trata- se de um espetáculo mais experiment­al e alternativ­o, mas que de certa forma dá seguimento ao meu trabalho, sempre muito aberto às mais diversas influência­s. Espero que gostem, porque acima de tudo deu- me um grande prazer fazê- lo.”

Rodrigo Leão está já entretanto a trabalhar num novo disco, cuja edição está prevista lá mais para o final do ano. “Tenho estado muito focado no processo de composição e sabe bem esta pausa no trabalho”, confessa. Quanto a estas “Máquinas”, vão, por agora, ficar por aqui, mas sempre prontas a voltar à vida. “Quem sabe se um dia não haverá um segundo disco?”

Este será um “espetáculo mais experiment­al”, assume o músico

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Rodrigo Leão já está a preparar novo disco, a editar no final do ano

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