Twin Peaks de regresso? O futuro está num impasse
Cinco meses depois de noticiado o seu regresso, David Lynch não sabe se o projeto avança. O canal desmente. Em que ficamos?
Misteriosa e intrigante. Assim era a sua essência e assim é o seu presente. O que se passa com Twin Peaks? É esta a pergunta que milhões de fãs fazem mundo fora. E o caso não é para menos. Cinco meses depois de ter anunciado que a icónica série dos anos 1990 iria ter uma terceira temporada, com regresso marcado para 2016, David Lynch, o criador do projeto ( ao lado de Mark Frost), tem dúvidas quanto a isso.
“Já não tenho a certeza de que o projeto irá para a frente. Têm decorrido algumas complicações ao longo destes meses”, afirmou o cineasta, durante um evento de arte na Austrália. A imprensa internacional tem avançado, através de fontes ligadas ao thriller dramático, que o guião para os nove episódios da nova temporada já está escrito, mas que “a negociação dos contratos não tem corrido como esperado”.
As declarações do realizador de Mulholland Drive e A Estrada Perdida rapidamente se tornaram virais e levaram a hashtag #TwinPeaksComplications a ser uma das mais usadas no Twitter em alguns países. Face às reações do público, o canal norte- americano Showtime apressou- se a emitir um comunicado a desvalorizar a questão. “Não se passa nada de mais, a não ser o processo de pré- produção ao lado de David Lynch. Tudo está a andar e toda a equipa está entusiasmada e efusiva”, lê- se. Afinal, em que ficamos?
O futuro incerto da série de culto que ajudou a redefinir a televisão, no início da década de 1990, com enredos e linguagens misteriosos, desconcertantes e intrigantes, e que colocou o mundo a questionar “quem matou Laura Palmer [ uma jovem estudante admirada pela sua beleza mas que escondia uma depressão e outros segredos, interpretada por Sheryl Lee]?” já levou até a uma reação do protagonista da trama, Kyle MacLachlan, que deu vida ao agente do FBI, Dale Cooper, e que já confirmou presença na terceira temporada. “Ainda há questões que precisam de ser tratadas, mas mantenho um pensamento positivo acerca do regresso da série”, disse ao site Popcorn Talk.
Recorde- se que em outubro, aquando do anúncio desta produção, Mark Frost, o braço direito de David Lynch em Twin Peaks, frisou que os novos episódios vão contar com caras antigas e outras novas. E engane- se quem estiver à espera de uma espécie de remake. A concretizar- se, a nova Twin Peaks será um prolongamento: um enredo nos dias de hoje que irá responder a questões do passado. “A história continua. As sementes que nos indicam para onde vamos f oram plantadas no que já fizemos. Acho que vamos conseguir transportá- la, de forma eficiente, para a linguagem cultural de hoje sem problemas. Será sinistro e perigoso”, observou, na altura.
De resto, algumas notícias divulgadas na imprensa internacional especulam, com as complicações que parecem estar a acontecer nos bastidores da terceira temporada, se o projeto poderá andar para a frente, mas não pela mão de Lynch. Uma teoria muito pouco provável, uma vez que foi precisamente a visão artística e cinematográfica única de Lynch que fez de Twin Peaks o fenómeno em que se tornou.
A trama que deu ainda a conhecer personagens como o anão Bob, a bela Audrey, o xerife Truman, e que em Portugal foi exibida pela RTP1, deixou um legado como poucas conseguiram. Uma audiência fiel, a conquista dos elogios da crítica, o desbravar caminho para séries que se seguiram e que a ela foram beber inspiração – casos de Ficheiros Secretos ou Os Sopranos –e a vitória de mais de dez prémios em apenas dois anos, em que se contam dois Emmys, três Globos de Ouro e um Grammy ( para a banda sonora criada por Angelo Badalamenti).
“Voltamos a ver- nos daqui a 25 anos”, sussurrava Laura Palmer ao agente Cooper no último episódio de Twin Peaks. Estávamos em pleno verão de 1991. Se a profecia se concretiza, ninguém sabe. Mas se há algo que aprendemos com a série de Lynch foi a nunca darmos nada por garantido e a habituarmo- nos ao suspense e à surpresa.