Diário de Notícias

A blogger e escritora que gerou uma onda de irritação no Facebook

Escritora portuguesa no top da Amazon lançou Coisas Que Uma Mãe Descobre e foi ao Você na TV. A conversa sobre amamentaçã­o não caiu bem. Em 12 horas, o vídeo foi visto 11 mil vezes

- A NA L ÚCI A S OUSA

Como conseguir mil visualizaç­ões por hora com um vídeo no Facebook? Se não tem à mão um gato que toque piano, basta dizer qualquer coisa contra a corrente. A verdade é que nunca passou pela cabeça de Filipa Silva, blogger e escritora portuguesa que chegou ao top da Amazon, ter tanta publicidad­e com a sua entrevista sobre o outro lado da maternidad­e. Mas a frase “sentimo- nos umas autênticas vacas” quando estamos a amamentar, dita no programa Você na TV, da TVI, na quinta- feira, numa conversa com Cristina Ferreira, gerou irritação e tornou- se, desde esse dia, um dos tópicos de maior discussão no Facebook. O que acabou por cair que nem sopa no mel na semana em que Filipa Silva, mãe de dois filhos, lançava o livro de crónicas Coisas Que Uma Mãe Descobre.

No programa das manhãs da estação de Queluz de Baixo, a autora falou “sem tabus e com sentido de humor” sobre amamentaçã­o, sexo depois de ser mãe e “aquilo que nor- malmente as mães não dizem”. As respostas provocaram uma on da de indignação que dura há quatro dias.

“Não tem sido fácil. Foi inesperado. O meu intuito não era falar daquela crónica em específico. Essa é apenas uma das 35 do livro. A Cristina Ferreira pediu- me para, num minuto, enumerar cinco razões para não gostar de amamentar. Dei co - mo exemplo o que sentia quando tirava o leite com a bomba”, conta a blogger ao DN. O livro, que está nas bancas desde sexta- feira e que foi “escrito com humor”, “exagero” e “sem qualquer tipo de carácter científico ou pedagógico”, contém apenas textos que retratam a sua experiênci­a enquanto mãe. “Fui escrevendo ao longo dos úl timos três anos no meu blogue. A Bertrand e eu achámos que, pelo sucesso que os textos estavam a ter na minha página, deviam ser compilados. O sucesso é exatamente porque há inúmeras mulheres que se reveem naquelas situações, mas que não fa - lam disso porque parece que é um tema tabu e sentem vergonha.” “Seja a amamentaçã­o, o sexo, o haver dias em que dizemos que não nos apetece ser mães, em que os miúdos nos tiram do sério e que nos apetece fugir durante umas horas.”

A verdade é que a autora, que já tem dois outros livros publicados – Os 30 – Nada É como Sonhámos, que chegou ao top da Amazon, e O Estranho Ano de Vanessa M. – tem qualquer coisa a ganhar com as proporções que o caso tomou nas redes sociais. “O lado bom desta polémica é que pode trazer um acréscimo de vendas. Pode ser que fiquem curiosos para saber a razão de tanta controvérs­ia. Tenho a cer- teza de que vão gostar, é de facto um livro muito leve e divertido”, diz.

Na era das redes sociais, este não é o primeiro – nem será o último – caso a causar agitação. Recorde- se, por exemplo, o da Samsung, que escolheu um grupo de bloggers para falar sobre os seus desejos para o Natal e acabou por se ver obrigada a retirar a campanha porque alguém formulou o desejo de ter uma mala Chanel numa altura em que o país estava em plena crise. Como comentou, na altura, Mário Mandacaru, brand design manager da Brandia Central, a força da internet não deve ser subestimad­a.

Mas essa força também pode ser muito bem aproveitad­a, como mostra a discussão generaliza­da no último mês à volta das verdadeira­s cores de um vestido fotografad­o numa montra. Depois de um dia nas redes sociais em todo o mundo em que só se discutiu esse tema, uma agência apressou- se a torná- lo viral associando- o a uma importante causa: a violência doméstica. O anúncio criado pela Ireland/ Davenport para o Exército de Salvação da África do Sul mostra uma mulher com o céle- bre vestido ( na versão dourada), mas com uma mensagem especial: “Porque é tão difícil ver os pretos e azuis?” Na fotografia, uma mulher com nódoas negras ( blacks and blues) e visíveis sinais de violência.

No caso mais recente, que levou 11 500 pessoas a ver o vídeo de Filipa Silva em 12 horas, a agitação po - de ter resultados nas vendas. A escritora revela que há um grupo de mulheres que pensam escrever diretament­e à Bertrand como forma de mostrar a sua indignação. “Estão a preparar uma carta- aberta para retirar o livro do mercado.” A alguns protestos a autora tem respondido mesmo no Facebook, a que têm chegado também centenas de comentário­s de apoio e testemunho­s de quem já comprou o livro, só pela polémica. “Isto está a tomar proporções completame­nte exageradas. Eu não só não sou contra a amamentaçã­o como acho que cada mãe de ve fazer o que é melhor para si e para o seu filho”, diz Filipa Silva.

Mãe de dois filhos, Tiago, de 3 anos, e Carlota, de 1, a autora sublinha que adora este papel da maternidad­e, que “não trocava isso por nada”. “Considero- me uma ótima mãe, mas há coisas que os bebés, crianças e adolescent­es fazem que não são um mar de rosas. A relação entre os casais mu da, tal como as relações no círculo de amizades... e muitas vezes as pessoas têm medo de dizer que lhes apetece sair com os amigos pelo que as outras pessoas possam pensar. O livro está nas livrarias e eu vou continuar com a minha agenda como está planeada.” O próximo encontro é com Herman José. com J. P.

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Filipa Silva já tem dois romances publicados, além do livro de crónicas

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