Diário de Notícias

São já cinco as mulheres no topo em Portugal

Maria José Costeira é a primeira líder dos juízes e junta- se à ministra das polícias, à PGR e à bastonária dos Advogados. Na Justiça está Paula Teixeira da Cruz. O DN tentou perceber o que traz esta aparente revolução de género

- RUTE COELHO

E vão cinco. Com a eleição no sábado de Maria José Costeira como presidente da Associação Sindical dos Juízes Portuguese­s ( ASJP), os maiores cargos na área da justiça, sejam políticos ou corporativ­os, passaram a ser ocupados por mulheres. A que se junta ainda o primeiro rosto feminino a mandar nas polícias em Portugal, a ministra da Administra­ção Interna. Mas esta aparente revolução de género na área judicial muda alguma coisa na hora de tomar decisões?

Anabela Rodrigues, que substituiu Miguel Macedo à frente do MAI em novembro de 2014, já conseguiu “surpreende­r” os sindicatos da PSP quando manifestou “total abertura” para rever, artigo por artigo, a proposta de estatuto profission­al, revelou ao DN Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profission­ais de Polícia. “Foi clara e objetiva, disse- nos na reunião de sexta- feira que se era assim tão consensual que a proposta de estatuto era má, pois então íamos construir uma melhor.” Uma postura que o dirigente sindical garante não ser tí- pica. “Normalment­e, os políticos têm muita dificuldad­e em passar a mensagem de que estão abertos a discutir ou a rever propostas.”

Num comentário enviado ao DN, a própria ministra, que foi também pioneira quando dirigiu o Centro de Estudos Judiciário­s ( CEJ), faz questão de sublinhar que as diferenças de género não são, para si, determinan­tes. “O facto de ser mulher não condiciona em nada o exercício do poder, mas tendo homem e mulher perspetiva­s diferentes, é natural que isso se reflita na forma como lideram e exercem a autoridade.” Nova líder dos juízes preparada Se no MAI reina, para já, a diplomacia, no Ministério da Justiça as políticas de Paula Teixeira da Cruz, 54 anos, a segunda ministra da Justiça que o país teve ( a primeira foi Celeste Cardona), têm sido alvo de várias críticas do setor. O DN procurou ontem obter um comentário seu mas a ministra estava incontactá­vel, referiu o seu gabinete. Uma das vozes discordant­es tem sido a da juíza Maria José Costeira, a nova representa­nte dos juízes portuguese­s .

A juíza do Tribunal do Comércio de Lisboa é a primeira mulher neste cargo. Maria José Costeira assinala que o meio judicial já é mais feminino do que masculino. “Há mais mulheres do que homens nos tribunais de primeira instância. Essa diferença só se esbate na Relação e depois completame­nte no Supremo porque as mulheres só puderam ser juízas depois do 25 de Abril. E, para o Supremo, só se acede com muitos anos de carreira.” Maria José Costeira vai ter muitas questões do foro sindical a resolver com a ministra. Para a nova representa­nte dos juízes, a diferença nes tes cargos não está no género. Pinto Monteiro e as mulheres O antecessor de Joana Marques Vidal na Procurador­ia- Geral da República não se surpreende por, pela primeira vez, uma mulher ter chegado ao topo da hierarquia do Ministério Público. É que têm havido várias magistrada­s do Ministério Público a desbravar caminho, algumas pela sua mão, como lembrou. “Eu indiquei sempre mulheres para os mais altos cargos mas apenas porque eram as profission­ais mais competente­s no momento da escolha. Foi o caso de Maria José Morgado para o DIAP de Lisboa e também o de Francisca van Dunem para o cargo de procurador­a- geral distrital de Lisboa”, sublinha Pinto Monteiro.

A atual procurador­a- geral da República, Joana Marques Vidal, 58 anos, tem sido elogiada no setor pela sua aparente tenacidade em levar para a frente os processos por corrupção que têm atingido as mais altas figuras do Estado. “Há uma rede que utiliza o aparelho do Estado para a corrupção”, disse recentemen­te, na comunicaçã­o social, a PGR. Filha de um ex- diretor da Polícia Judiciária, José Marques Vidal, e irmã do procurador do ca - so Face Oculta, Joana Marques Vidal também tem um estilo determinad­o na condução do cargo. O DN também lhe pediu um co- mentário sobre as mulheres no poder, mas não obteve resposta. À laia de complement­o, o seu antecessor, Fernando Pinto Monteiro, lembrou que os tribunais de primeira instância “já têm mais de 60% de mulheres juízas e 80% dos candidatos ao CEJ são mulheres”.

A propósito, o ex- PGR lembrou que no tempo do socialista Alberto Costa como ministro da Justiça “chegou a haver 85% de mulheres no CEJ e havia vozes a discutir que se calhar devia haver numerus clausus para limitar a sua entrada. Fui sempre contra isso”. Maioria feminina na Ordem Elina Fraga, 44 anos, é a segunda mulher a exercer o cargo de bastonária dos Advogados. E a própria Ordem dos Advogados ( OA) é “a única no mundo que tem uma maioria de mulheres na direção: 11 mulheres para 10 homens”, realça o antecessor da bastonária, António Marinho e Pinto. O advogado e político sempre lutou pela paridade na OA e prefere trabalhar com mulheres: “Usam mais a inteligênc­ia do que os homens.” O DN contactou Elina Fraga, mas esta esteve indisponív­el.

Anabela Rodrigues já conseguiu “surpreende­r” sindicatos da PSP

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