Memórias dos primeiros eleitores livres
Quarenta anos depois ouvem- se as memórias de quem votou pela primeira vez a 25 de abril de 1975. Muitos já tinham vivido metade da vida e recomeçaram uma nova, como diz o escultor João Cutileiro
O dia 25 de abril de 1974 está mais na memória dos portugueses do que o dia 25 de abril de 1975, mesmo que só neste ano é que tenham tido direito a escolher os partidos que iriam debater e decidir a Lei que regulou o país nas últimas quatro décadas.
Quem tinha mais de 18 anos votava: fosse mulher, fosse jovem, fosse velho, fosse analfabeto ou doutor, fosse o que fosse. E nunca mais foram tantos a enfiar o boletim de voto nas urnas, embora ao fim de tantos anos em democracia a maior parte dos eleitores que nesse dia saíram à rua em todo o país para exercer o primeiro direito cívico já baralhem as memórias.
Tal como nas fotografias, veem tudo a preto e branco e pouco se destaca a cores. Lembram- se de ter votado. Recordam as filas à volta das escolas até desembocarem na secção de voto. Sabem em quem votaram e por que escolheram este ou aquele partido. É, no entanto, uma memória a esfumar- se à mesma velocidade com que apontam o declínio da democracia atual e questionam o rumo da interpretação da Constituição. A situação atual impõe- se sempre à conversa sobre o passado, mesmo que aquele dia seja constantemente definido por palavras muito parecidas tanto em eleitores de esquerda como nos de direita: inesquecível, euforia, muita gente...
A palavra “euforia” é sempre repetida em todos os depoimentos recolhidos e parece ser aquela que os primeiros eleitores livres de Portugal preferem usar para descrever aquela jornada eleitoral. Curiosamente, consideram que naquela eleição cada um deveria votar à sua vontade e despreocupado com maiorias e consensos.