Diário de Notícias

“Tempo em que o cravo estava fresquinho”

VIRGÍLIO INÊS ( 5)

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Nasce em 1947 Ex- vidreiro, vive na Marinha Grande

“Ainda hoje não festejo os meus anos e celebro o 25 de Abril. Na fábrica punha sempre um cravo nesse dia, gostava de gozar com alguns colegas. Sou um sátiro! Quando chegaram as primeiras eleições, votei para o meu partido ganhar na Marinha Grande, o do senhor Álvaro Cunhal que tem um grande historial. O PPD eram os filhos do Salazar, os do PS cala- te boca, os outros mais à esquerda – como agora é o Syriza – partiam- lhe as pernas. Não sou radical e tenho um pacemaker, preciso ter cuidado. Quanto àquele dia, só posso dizer que foi um dia muito alegre e que deu razão àquela frase ‘ o povo unido jamais será vencido’, porque estava tudo eufórico. Era enchentes para todos os lados para que se olhava porque era a primeira vez que se o fazia livremente. Era um tempo em que o cravo estava fresquinho e só se desacredit­ou com tudo o que se seguiu. Por isso é que há tanta abstenção e só vota quem está agarrado aos partidos. O MFA ajudou a educar e tive esperança de que se iria para o socialismo, porque nunca me esquecia de que quando ia para a escola ia descalço e no inverno chegava com os pés congelados à escola. A minha sorte era que passava na estação dos comboios e o homem da CP deixava- me aquecer com o vapor. Estive na Guiné e era eu que apagava os quadros em que o Spínola fazia as estratégia­s de uma guerra escusada. Depois escreve aquele livro e meteu- se no 11 de Março. Acreditei na primeira década, mas isto descambou e desacredit­ei.”

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