Diário de Notícias

Elogios à direita e críticas à esquerda para o novo plano económico do PS

Ex- ministros das Finanças de um governo PSD- CDS elogiam estudo “Uma década para Portugal” por constituir boa base para discussão. Já na esquerda do PS há apreensão

- J OÃO PE DRO HENRI QUES

Enquanto na esquerda do PS António Costa ouve críticas ao novo plano económico do partido, à sua direita ouve elogios.

Uma proposta “séria, honesta e credível”, disse na TVI 24 a ex- ministra das Finanças e ex- líder do PSD, Manuela Ferreira Leite. Admitindo discordar de muitas ideias veiculadas no plano – feito para o PS por um grupo de economista­s maioritari­amente independen­te –, Ferreira Leite salientou no entanto que a sua “grande valia é constituir uma verdadeira alternativ­a e acabarmos de vez com a ideia de via única”.

“Gostaria que fosse a base para, genuinamen­te e seriamente, se discutir o que está bem, o que está mal, o que tem de ser ajustado”, disse a ex- ministra. Que acrescento­u: “Já não há ninguém que defenda que a austeridad­e só por si é suscetível de resolver os problemas dos países em dificuldad­es.” Para Manuela Ferreira Leite, foi criticável a forma como a maioria PSD- CDS reagiu ao documento, “na base do desprezo”. “É um papão e um susto que se quer lançar e que não tem base. Tenho pena se isto não servir de base a uma discussão e análise.”

Quem também elogiou a proposta foi o centrista Lobo Xavier, na quinta- feira, na Quadratura do Círculo ( SIC Notícias)

“Não consigo pôr- me aos gritos a dizer que este é um programa que vai arruinar Portugal”, afirmou o antigo líder parlamenta­r centrista. Segundo disse, o programa posiciona o PS “num terreno moderado, europeísta, respeitado­r dos compromiss­os”. “Aquilo que o PS quer é algo que é moderado e é algo que se po - de a presentara­os eleitores. Não é nada de dramático.”

Escrevendo no seu blogue no Público, outro ex- ministro das Finanças, Bagão Félix, próximo do CDS- PP, salientou que o documento – intitulado “Uma década para Portugal” – tem “a vantagem de colocar a análise e a discussão dos principais desafios do país em campos bem diferencia­dos do ponto de vista ideológico”. “De um lado, uma doutrina liberal, apostando no cresciment­o pelo lado da oferta, do tecido empresaria­l e das exportaçõe­s, com preocupaçõ­es sociais q. b.; de outro lado, uma visão neo - keynesiana, centrada no estímulo da procura por via do aumento do rendimento disponível, do investimen­to público e com um pendor social mais visível. De um lado pague já, receba depois ( receita certa, fé na redução da despesa), do outro lado, receba já, pague depois ( despesa certa, receita logo se vê).” Bagão criticou no entanto as propostas na parte relativa à Segurança Social. “O PS fala numa macedónia de novos impostos ou eliminação de reduções de taxas como no IRC ( co - mo se uma não redução do IRC fosse uma receita efetiva!) e nu - ma fezada no ritmo de cresciment­o. Isto não é a diversific­ação das fontes de financiame­nto da SS { Segurança Social], é a usurpação da base contributi­va e a diluição da lógica previdenci­al trocando o certo pelo incerto e discricion­ário.” Portanto, “o PS não deve ser levado muito a sério”.

Na esquerda do PS, o plano foi criticado por duas das principais vozes da esquerda do partido, Sérgio Sousa Pinto ( membro do secretaria­do nacional) e Pedro Nuno Santos ( vice- presidente do grupo parlamenta­r) criticaram as ideias sobre a TSU ( mas não só).

O primeiro pôs em causa que todos os discursos económicos tenham de necessaria­mente passar pela TSU, uma sigla tóxica desde setembro de 2012, quando o país em peso se levantou contra as medidas que o governo preparava ( aumentar a TSU para os trabalhado­res e baixar a das empresas).

Já Pedro Nuno Santos falou de uma contradiçã­o inaceitáve­l na proposta do PS: o corte da TSU para os trabalhado­res ser provisório e para as empresas ser definitivo. Considerou também que o combate cerrado que o PS agora promete aos contratos a prazo poderá levar muitas empresas a apostar em vínculos mais frágeis ( recibo verde).

Entretanto, Paulo Trigo Pereira, um dos economista­s do grupo que preparou o plano, avisou numa entrevista à Renascença que ele será incumpríve­l “se o PS mantiver a cultura do passado”. Um ministro das Finanças que venha do aparelho do PS pode ser “mais permeável a pressões” do que um independen­te, afirmou – embora garantindo que ele próprio não é candidato ao cargo.

Manuela Ferreira Leite criticou reação da maioria PSD- CDS ao plano

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