Diário de Notícias

Gestor do grupo Lena suspeito de transferir 15 milhões com destino a Sócrates

Joaquim Barroca fica, por agora, em prisão preventiva. É suspeito de corrupção ativa por intermédio de Santos Silva

- C A R LO S RODRIGUES L I MA

Entre julho de 2007 e fevereiro de 2008, Joaquim Barroca, um dos administra­dores do Grupo Lena, terá transferid­o 15,8 milhões de euros de contas pessoais para uma conta de Carlos Santos Silva na Suíça. Segundo o procurador Rosário Teixeira, este dinheiro tinha como destinatár­io final José Sócrates e seria uma contrapart­ida pelos concursos ganhos pelo grupo empresaria­l de Leiria durante os mandatos do ex- primeiro- ministro, que terão totalizado 200 milhões de euros. Ontem, o juiz Carlos Alexandre decidiu colocar Joaquim Barroca em prisão preventiva, até que os técnicos do Instituto de Reinserção Social confirmem que é possível instalar na sua casa o sistema de vigilância eletrónica. O gestor é suspeito de fraude fiscal, corrupção ativa e branqueame­nto de capitais.

Os 15,8 milhões foram revelados pelo procurador Rosário Teixeira a 24 de fevereiro, num despacho onde defendeu a manutenção da prisão preventiva de Carlos Santos Silva, amigo de José Sócrates ( também em preventiva por suspeita de corrupção, fraude fiscal e branqueame­nto de capitais). Durante o interrogat­ório judicial, o magistrado do Ministério Público terá confrontad­o diretament­e Joaquim Barroca com o valor, assim como o terá questionad­o quanto aos motivos que terão levado o administra­dor do Grupo Lena a fazer transferên­cias para Santos Silva, daquele montante.

Porém, e ainda segundo o procurador, as contas de Joaquim Barroca também poderão ter servido de passagem para outros fundos com origem diferente, segundo a tese do procurador. Uma dessas transferên­cias provém de Hélder Bataglia, dono da ESCOM, que terá comprado um negócio de exploração de salinas em Angola a José Pinto de Sousa, primo de Sócrates, que tinha uma sociedade com Carlos Santos Silva naquele país.

Segundo alega o Ministério Público, o dinheiro que circulou entre o Grupo Lena e Carlos Santos Silva tinha como destinatár­io José Sócrates. E isto porque, depois de ter sido transferid­o da Suíça para Portugal, ao abrigo de dois Regimes Excecionai­s de Regulariza­ção Tributária ( RERT), a investigaç­ão da Operação Marquês concluiu que quem punha e dispunha do dinheiro era o ex- governante, fosse para despesas correntes ou para, por exemplo, a compra e decoração de um apartament­o em Paris, avaliado em três milhões de euros.

Ontem, em comunicado, o Tribunal Central de Instrução Criminal adiantou que imputou a Joaquim Barroca os crimes de fraude fiscal qualificad­a, corrupção ativa e branqueame­nto de capitais. O juiz de instrução considerou que há indícios de que tenham sido cometidos “quer ao nível da esfera pessoal do arguido quer ao nível das sociedades que integram o Grupo Lena”.

Segundo o tribunal, além de ficar provisoria­mente em prisão preventiva, o arguido está proibido de manter contacto com “qualquer outro membro da administra­ção ou da comissão executiva ou colaborado­res das sociedades do Grupo Lena”, bem como com “qualquer dos outros arguidos constituíd­os no inquérito”: “Carlos Santos Silva, João Perna, Gonçalo Trindade Ferreira, José Sócrates, Lalanda de Castro e Inês do Rosário [ mulher de Carlos Santos Silva].” Esta foi a última a ser constituíd­a arguida.

Tal como a detenção de Joaquim Barroca, a constituiç­ão de Inês do Joaquim Barroca

vai ficar preso: primeiro na cadeia e depois em casa Rosário já era há muito esperada. Na resposta ao recurso de Carlos Santos Silva da prisão preventiva, o procurador Rosário Teixeira já afirmava que a mulher do empresário estava comprometi­da com o alegado esquema de entregas de dinheiro a José Sócrates, assim como ti- nha movimentad­o contas pessoais suas para fazer chegar dinheiro ao ex- primeiro- ministro.

Depois da detenção de Joaquim Barroca, o Grupo Lena manifestou- se, em comunicado, aberto a disponibil­izar “todo e qualquer documento” e “clarificar muito do ruí- do” a propósito da Operação Marquês. O grupo empresaria­l de Leiria desafiou ainda a comunicaçã­o social “a rever os números e valores que têm vindo a ser apresentad­os, porque são errados e erróneos, desde as PPP, ao Parque Escolar, de Venezuela a Angola”.

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Sócrates ( com o advogado, João Araújo) está preso desde novembro
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