Como eles conseguem bater recordes depois dos 100 anos
Centenários desafiam a idade e entram no Guinness. Segredo é fazer uma vida saudável. Mas a genética é também decisiva
A nadar desde os 80 anos, a japonesa Mieko Nagaoka, agora com 100, tornou- se, recentemente, a primeira centenária a conseguir completar uma prova de 1500 metros livres numa piscina de 25 ( demorou uma hora e 16 minutos). Mas está longe de ser a única idosa a conseguir feitos históricos no desporto. No ano passado, o japonês Hidekichi Miyazaki, de 103 anos, bateu o recorde de 100 metros de corrida na sua faixa etária ( 29.83 segundos) e, imagine- se, até desafiou Bolt para uma corrida. Já em 2011, o indiano Fauja Singh também bateu um recorde aos 100 anos: foi o atleta mais velho a terminar uma maratona ( demorou 8.25.16 horas). Afinal, que segredos guardam estes veteranos? A explicação está, em parte, nos genes, dizem os médicos, mas sobretudo no estilo de vida.
“A longevidade e a robustez está relacionada com a genética ( 35 por cento) e com o estilo de vida ( 65 por cento)”, indica Manuel Carrageta, presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia. De acordo com um estudo da National Geographic, refere, o Japão é o país onde se vive mais, o que tem muito que ver com a alimentação, já que comem pouco e optam por alimentos saudáveis. Relativamente aos americanos, por exemplo, os japoneses ingerem menos 40 por cento das calorias e têm menos 80 por cento de enfartes e alguns tipos de cancro.
A atividade física é uma medida eficaz para atrasar o envelhecimento, destaca o especialista em cardiologia. Nos casos referidos, a idade que aparece no bilhete de identidade não corresponde à biológica: “Têm 105 anos, por exemplo, mas a idade biológica são 90.” Além da alimentação ( restrição calórica) e do exercício físico, não fumar é também chave de ouro.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, “casos como estes são raridades, não só pela longevidade como pelos feitos conseguidos”. Na opinião do médico, es- tas proezas estão relacionadas com “um controlo de doenças cardiovasculares, mas também com a sorte de não ter nenhum cancro até aos 70 anos”. Sem esquecer um estilo de vida ativo e saudável. “As pessoas que mantêm atividade física moderada ao longo da vida e não engordam têm a possibilidade de conseguir estes fenómenos.”
Não raras vezes, os protagonistas destes recordes são japoneses. “Quer pela alimentação quer pela componente física, têm maior longevidade. Os hábitos culturais es- tão muito relacionados com os anos de vida”, explica Rui Nogueira. Embora em alguns casos o segredo possa residir no código genético, “estará sempre mais relacionado com estilos de vida saudáveis com a sorte de não ter doença oncológica”.
Outro exemplo de sucesso é o de Joy Johnson, que em 2013 correu a Maratona de Nova Iorque, aos 86 anos, pela 25. ª vez. Todos os dias, a professora de educação física aposentada acordava às 04.30 para treinar com os seus colegas. Dias antes da prova, Joy disse aos seus amigos que, se algo lhe acontecesse na pista, não queria ser reanimada. Na maratona, a octogenária sofreu uma queda, batendo com a cabeça no chão, mas recusou assistência médica. Só viria a ser assistida no final, mas negou- se a ir ao hospital e a fazer exames. No dia seguinte, Joy foi encontrada morta no quarto de hotel onde estava instalada. Era uma das 18 pessoas em competição na faixa dos 80 aos 89 anos.
Por cá, não se ouve falar de muitos feitos como estes, mas há muitos portugueses com mais de 100 anos, assegura Manuel Carrageta. No ano passado, por exemplo, Portugal bateu o recorde de três mil centenários. “Vive- se cada vez mais”, salienta o presidente da SPGG. Para atrasar o envelhecimento, basta meia hora de atividade física por dia. “Pode ser mesmo marcha.” A atrofia muscular, explica Manuel Carrageta, está relacionada com a inatividade. Segundo um estudo publicado nesta semana, fazer as tarefas domésticas tem benefícios para a saúde. “As pessoas sedentárias têm de fazer atividade. Lavar a loiça, por exemplo, faz bem à saúde e atrasa o envelhecimento”, afirma o presidente da SPGG.