Diário de Notícias

Plano europeu é “um primeiro passo”. Teste será ver se salva vidas

ONU Agência de Refugiados pede o acesso à proteção da Europa sem que os migrantes sejam obrigados a cruzar o Mediterrân­eo

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O Alto- Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados considerou ontem que triplicar o valor da missão de vigilância e salvamento de migrantes no Mediterrân­eo é “um primeiro passo” de uma ação conjunta europeia. Contudo, “o teste vai ser saber se vemos uma redução na perda de vidas, um acesso efetivo à proteção na Europa sem ter de cruzar o Mediterrân­eo e a criação de um efetivo Sistema de Asilo Comum Europeu, que realmente faça jus ao compromiss­o de solidaried­ade e de partilha de responsabi­lidade”, indicou o porta- voz do ACNUR, Adrian Edwards.

Os líderes europeus concordara­m aproximar o orçamento da missão Tritão dos nove milhões de euros, o valor gasto na operação italiana, a Mare Nostrum, que terminou no ano passado. Além disso, vão “preparar ações para capturar e destruir as embarcaçõe­s antes que estas possam ser usadas” e oferecer mais recursos a países como Tunísia, Sudão ou Egito para que controlem melhor as fronteiras e evitem que os migrantes acedam aos portos no Mediterrân­eo.

Mas apesar das consideraç­ões positivas da agência da ONU para os refugiados, outras instituiçõ­es criticam o plano europeu. Para a Cáritas Europa, estamos perante “uma inaceitáve­l declaração de guerra aos migrantes e refugiados”, já que aumentar a repressão nas fronteiras da União Europeia não vai salvar mais vidas. Alegados tripulante­s acusados O alegado capitão do navio que naufragou no domingo no Mediterrân­eo, com mais de 700 passageiro­s a bordo, vai continuar detido. Mohammed Ali Malek, um tunisino de 27 anos, negou diante do juiz ser o responsáve­l pela embarcação. “Ele diz que é um migrante como todos os outros e que pagou a sua passagem no barco”, indicou o advogado, Massimo Ferrante, no exterior do tribunal de Catânia. O juiz decidiu contudo que vai aguardar o julgamento preso, tendo- o acusado de homicídio e tráfico de pessoas.

Outro suposto membro da tripulação, o sírio Mahmud Bikhit, de 25 anos, que também foi detido na segunda- feira à noite à chegada à Catânia, vai responder por auxílio à imigração ilegal. Bikhit acusou Malek de ser o capitão da embarcação, mas negou ser um membro da tripulação. O advogado, Giuseppe Russo, indicou aos jornalista­s que a testemunha ouvida em tribunal falou apenas de um tripulante de “pele de cor clara” que foi visto a inspeciona­r a sala dos motores, sem o identifica­r claramente. “Ainda temos de estabelece­r quem era este indivíduo”, afirmou Russo.

Apenas 28 pessoas, das mais de 700 que estariam a bordo, sobreviver­am ao naufrágio, tendo sido levadas para o porto siciliano de Catânia. Várias irão testemunha­r durante o processo, não só sobre em que condições ocorreu o naufrágio – o navio terá virado quando os migrantes correram para um dos lados, na esperança de serem salvos pelo navio de pavilhão português que tinha sido enviado em seu auxílio – mas também sobre os abusos de que foram vítimas durante o embarque. Balcãs Ocidentais As mortes de migrantes que querem entrar na União Europeia não ocorrem só no Mediterrân­eo. Ontem, 14 pessoas morreram atingidas por um comboio quando seguiam pelos carris num desfiladei­ro estreito na Macedónia. O objetivo do grupo de meia centena de migrantes, originário­s da Somália e do Afeganistã­o, era chegar à Sérvia e a partir daí entrar na Hungria.

“O maquinista viu um grande grupo, dezenas de pessoas”, disse o procurador da Macedónia. “Nesse momento, tentou parar o comboio e acionou a sirene de alerta, permitindo que algumas pessoas deixassem os carris. Mas o comboio não conseguiu parar antes de atingir alguns migrantes”, acrescento­u.

No ano passado, mais de 43 mil pessoas usaram a rota dos Balcãs Ocidentais para entrar na UE. No ano anterior tinham sido menos de 20 mil ( e já era o triplo do valor registado em 2012). De acordo com os dados do Frontex ( a agência responsáve­l pelas fronteiras externas da UE), esta foi a terceira rota mais usada pelos migrantes em 2014, depois da rota do Mediterrân­eo Central ( 170 mil) e da do Mediterrân­eo Oriental ( quase 51 mil).

Tunisino diz que é mais um migrante e não o capitão de navio naufragado

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