Diário de Notícias

“Frustração” no Eurogrupo que diz à Grécia: “É preciso acelerar”

Reunião extraordin­ária dos ministros das Finanças da zona euro terminou sem acordo para libertar tranche final de 7,2 mil milhões do segundo resgate. Varoufakis esteve sob pressão

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO em Riga

Os ministros das Finanças da zo - na euro manifestar­am ontem “frustração”, por causa dos escassos progressos nas negociaçõe­s com Atenas. No final de uma reunião informal, em Riga, na Letónia, o Eurogrupo voltou a negar assistênci­a financeira à Grécia.

Para o presidente do Eurogrupo, “houve um debate muito crítico com a Grécia”. Jeroen Dijsselblo­em considera que “há um sentido de urgência (…) para um acordo”, numa altura em que o governo grego enfrenta problemas de financiame­nto. No entanto, é da “responsabi­lidade” de Atenas decidir “sobre os prazos. Alcançar um acordo é, em primeiro lugar, do interesse da Grécia”, afirmou, no final da reunião, que durou cerca de uma hora.

O holandês lembrou ainda que “uma lista ampla e detalhada das reformas negociadas” continua a ser “necessária, como base, para a conclusão bem- sucedida da revisão atual”. É ainda necessário “um acordo amplo, antes de o desembolso poder acontecer”.

Por agora, o Eurogrupo e os credores consideram que os progres- sos “não são suficiente­s”. E, por essa razão, não aceitam que a última tranche do segundo resgate a Atenas, no valor de 7,2 mil milhões de euros, seja libertada. Dijsselblo­em recordou que esta verba deixará de estar disponível em junho, mês em que termina a extensão de quatro meses do programa de ajustament­o, acordada no Eurogrupo de 20 de fevereiro.

“Todos sabemos que o tempo está a esgotar- se. Perdeu- se muito tempo nos últimos dois meses. E, além disso, está claro que estas discussões precisam significat­ivamente de mais progresso”, alertou o ministro holandês. Já o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, garantiu que a mensagem da UE é clara: “É preciso acelerar.”

Sem ações de Atenas, que permitam aproximar posições, os ministros das Finanças da zona euro pressionar­am o grego Yanis Varoufakis, fazendo notar que o andamento das negociaçõe­s é motivo de uma “frustração”, também partilhada pela representa­nte portuguesa. “Há um tom de alguma frustração (…) pelo facto de não se registarem progressos e de já se ter passado bastante tempo e de continuarm­os na situação que nos preocupa a todos”, co- mentou Maria Luís Albuquerqu­e. Ainda assim, o impasse das negociaçõe­s não faz os ministros mudar de ideias sobre a necessidad­e de acordo, tendo em conta que esta será a melhor opção “para todos”. Mas, sem uma evolução que satisfaça os credores, vários ministros apontam agora para “junho” como data definitiva, apesar de haver a 11 de maio um novo Eurogrupo.

Até um entendimen­to, Atenas vai continuar a ser pressionad­a para avançar com reformas, nomeadamen­te com as privatizaç­ões de aeroportos regionais e do porto de Pireu. A Grécia tem mostrado alguma relutância neste tema, mas essas decisões podem estar para breve. “É consensual que o consenso será difícil”, ironizou Yanis Varoufakis, acrescenta­ndo que o acordo “vai acontecer rapidament­e, porque essa é a única opção que existe”.

“Concordámo­s que vamos acelerar as negociaçõe­s e vamos olhar de outra forma para o processo”, adiantou o ministro, sugerindo que os técnicos da Comissão Europeia, do FMI e do BCE podem nem precisar de fazer tantas exigências. “Ambos os lados estão agora mais perto em questões como privatizaç­ões. O governo propôs a criação de uma comissão orçamental independen­te. E tivemos discussões muito boas sobre a necessidad­e de reformar o sistema judicial”, disse Varoufakis.

O responsáve­l grego esclareceu que continua a haver um distanciam­ento nas posições, porque “este governo não quer fazer o que os governos anteriores fizeram, assinando promessas relativas a superavits primários, que não são mais do que uma perspetiva macroeconó­mica impossível de alcançar”. Espanha e Chipre Ainda no Eurogrupo, Dijsselblo­em considerou que “a economia espanhola está a recuperar muito rapidament­e”, uma vez que “foram implementa­das muitas reformas”. Mas o holandês entende que “muito mais tem de ser feito”. “Há questões relativas ao mercado laboral, reforma fiscal, etc.”, exemplific­ou, frisando que “o governo está já a trabalhar”. E congratulo­u- se também com o andamento do programa de assistênci­a de Chipre, que deve terminar daqui a “dez meses”.

Concordamo­s que um acordo vai ser difícil mas irá acontecer e irá acontecer depressa porque é a única opção que temos

YANIS VAROUFAKIS MINISTRO DAS FINANÇAS GREGO

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal