“Frustração” no Eurogrupo que diz à Grécia: “É preciso acelerar”
Reunião extraordinária dos ministros das Finanças da zona euro terminou sem acordo para libertar tranche final de 7,2 mil milhões do segundo resgate. Varoufakis esteve sob pressão
Os ministros das Finanças da zo - na euro manifestaram ontem “frustração”, por causa dos escassos progressos nas negociações com Atenas. No final de uma reunião informal, em Riga, na Letónia, o Eurogrupo voltou a negar assistência financeira à Grécia.
Para o presidente do Eurogrupo, “houve um debate muito crítico com a Grécia”. Jeroen Dijsselbloem considera que “há um sentido de urgência (…) para um acordo”, numa altura em que o governo grego enfrenta problemas de financiamento. No entanto, é da “responsabilidade” de Atenas decidir “sobre os prazos. Alcançar um acordo é, em primeiro lugar, do interesse da Grécia”, afirmou, no final da reunião, que durou cerca de uma hora.
O holandês lembrou ainda que “uma lista ampla e detalhada das reformas negociadas” continua a ser “necessária, como base, para a conclusão bem- sucedida da revisão atual”. É ainda necessário “um acordo amplo, antes de o desembolso poder acontecer”.
Por agora, o Eurogrupo e os credores consideram que os progres- sos “não são suficientes”. E, por essa razão, não aceitam que a última tranche do segundo resgate a Atenas, no valor de 7,2 mil milhões de euros, seja libertada. Dijsselbloem recordou que esta verba deixará de estar disponível em junho, mês em que termina a extensão de quatro meses do programa de ajustamento, acordada no Eurogrupo de 20 de fevereiro.
“Todos sabemos que o tempo está a esgotar- se. Perdeu- se muito tempo nos últimos dois meses. E, além disso, está claro que estas discussões precisam significativamente de mais progresso”, alertou o ministro holandês. Já o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, garantiu que a mensagem da UE é clara: “É preciso acelerar.”
Sem ações de Atenas, que permitam aproximar posições, os ministros das Finanças da zona euro pressionaram o grego Yanis Varoufakis, fazendo notar que o andamento das negociações é motivo de uma “frustração”, também partilhada pela representante portuguesa. “Há um tom de alguma frustração (…) pelo facto de não se registarem progressos e de já se ter passado bastante tempo e de continuarmos na situação que nos preocupa a todos”, co- mentou Maria Luís Albuquerque. Ainda assim, o impasse das negociações não faz os ministros mudar de ideias sobre a necessidade de acordo, tendo em conta que esta será a melhor opção “para todos”. Mas, sem uma evolução que satisfaça os credores, vários ministros apontam agora para “junho” como data definitiva, apesar de haver a 11 de maio um novo Eurogrupo.
Até um entendimento, Atenas vai continuar a ser pressionada para avançar com reformas, nomeadamente com as privatizações de aeroportos regionais e do porto de Pireu. A Grécia tem mostrado alguma relutância neste tema, mas essas decisões podem estar para breve. “É consensual que o consenso será difícil”, ironizou Yanis Varoufakis, acrescentando que o acordo “vai acontecer rapidamente, porque essa é a única opção que existe”.
“Concordámos que vamos acelerar as negociações e vamos olhar de outra forma para o processo”, adiantou o ministro, sugerindo que os técnicos da Comissão Europeia, do FMI e do BCE podem nem precisar de fazer tantas exigências. “Ambos os lados estão agora mais perto em questões como privatizações. O governo propôs a criação de uma comissão orçamental independente. E tivemos discussões muito boas sobre a necessidade de reformar o sistema judicial”, disse Varoufakis.
O responsável grego esclareceu que continua a haver um distanciamento nas posições, porque “este governo não quer fazer o que os governos anteriores fizeram, assinando promessas relativas a superavits primários, que não são mais do que uma perspetiva macroeconómica impossível de alcançar”. Espanha e Chipre Ainda no Eurogrupo, Dijsselbloem considerou que “a economia espanhola está a recuperar muito rapidamente”, uma vez que “foram implementadas muitas reformas”. Mas o holandês entende que “muito mais tem de ser feito”. “Há questões relativas ao mercado laboral, reforma fiscal, etc.”, exemplificou, frisando que “o governo está já a trabalhar”. E congratulou- se também com o andamento do programa de assistência de Chipre, que deve terminar daqui a “dez meses”.
Concordamos que um acordo vai ser difícil mas irá acontecer e irá acontecer depressa porque é a única opção que temos
YANIS VAROUFAKIS MINISTRO DAS FINANÇAS GREGO