Diário de Notícias

Celebrar a liberdade de personagen­s imperfeita­s

Festival. O Dia da Liberdade no IndieLisbo­a celebra- se com uma festa na Culturgest dedicada à realizador­a Mia Hansen- Løve, que apresenta Eden no Grande Auditório

- FL Á V I O GONÇALVES

O que leva Mia Hansen- Løve a filmar jovens, personagen­s que se recusam a ser perfeitas, que vivem na incerteza e de acordo com o imperativo do sentimento? São estes os corpos que habitam a obra da realizador­a parisiense de 34 anos que, ao fim de quatro longas- metragens, é celebrada no IndieLisbo­a como heroína independen­te.

O cinema cruza- se no final da adolescênc­ia, sintoma de um apelo artístico e espiritual, através da crítica de cinema e da interpreta­ção – é em Fin Août, Début Septembre ( 1999), que será exibido no dia 28 às 21.30 no Cinema São Jorge, que começa o “amor de juventude” com o realizador Olivier Assayas, com quem é até hoje casada. Curiosamen­te, assim como o marido refletiu sobre o cinema em Irma Vep ( 1996), também Hansen- Løve exprimiu as suas preocupaçõ­es sobre as dificuldad­es da produção independen­te na Europa em O Pai dos Meus Filhos ( 2009), que passa amanhã no São Jorge às 19.00. Inspirado na figura do produtor francês Humbert Balsan, a realizador­a abordou, através da sua ausência, os sentimento­s graves que assolam uma família em prol de um ideal maior.

Assim, para Hansen- Løve, o cinema também se estabelece como meio de reconstruç­ão da sua experiênci­a de vida, não com o fim último de lhe descobrir ou fixar um sentido, mas gesto que lança luz sobre as nossas contradiçõ­es e nos lembra ( ou não nos permite esquecer?) a necessidad­e de sermos amados.

Eden, que a autora apresenta esta noite às 21.15 no Grande Auditório da Culturgest, é talvez o título mais destemido da sua obra, olhando de frente os últimos 20 anos da vida de um músico da cena da eletrónica francesa ( onde nasceram os Daft Punk) e de toda uma geração romântica. O músico Paul é inspirado no irmão mais velho da realizador­a, Sven Hansen- Løve, que também escreveu o argumento – nele, relembra um trajeto em que viu de perto a desilusão, as raves e as ilusões que decorrem da dependênci­a da droga.

O filme, contudo, recusa- se a fantasiar o universo na perspetiva de um insider. Numa entrevista ao portal IndieWire, a cineasta confessou que procurou a distância para evitar “retratar as discotecas do ponto de vista de alguém que tomou ecstasy” – um olhar narcisista que se impõe sobre a realidade e que poderia perpetuar a ideia de que as drogas dão acesso a algo que é mais verdadeiro e profundo do que a realidade. Não devemos, por isso, esperar um Spring Breakers de Eden, caleidoscó­pio de tempos e modos diferentes de entender a vida.

Ao lado do DJ português Xinobi, o ator protagonis­ta Félix de Givry estará na Garagem da Culturgest para um afterparty depois do filme – momento em que, na noite do Dia da Liberdade, poderemos imitar a ficção.

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O músico Paul é inspirado no irmão mais velho da realizador­a

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