Diário de Notícias

Benfica- FC Porto. O clássico joga- se na Luz mas vai dar a volta ao mundo

De Sydney à pequena ilha de Jersey, passando por Paris, Luanda ou Caracas. O duelo da Luz será acompanhad­o nos cinco continente­s

- SÉRGIO PIRES

Maxi Pereira e Ricardo Quaresma travarão um duelo que será vivido com emoção pelas mais variadas casas e delegações de Benfica e FC Porto por esse mundo fora Quando amanhã, a partir das 17 horas de Portugal continenta­l, Benfica e FC Porto subirem ao relvado do Estádio da Luz, com 65 mil espectador­es nas bancadas, para se enfrentare­m no duelo decisivo na luta pelo título nacional, haverá gente nos cinco continente­s de olhos e ouvidos postos no clássico.

Luciano Pinheiro, agente imobiliári­o em San José, na Costa Oeste dos Estados Unidos, vai acordar domingo bem cedo para abrir as portas da delegação do Benfica na Califórnia a uma centena de benfiquist­as e alguns portistas, enquanto Sérgio Silva, carpinteir­o em Sydney, vai passar uma madrugada de segunda- feira mal dormida.

“Tenho o emblema do Benfica no carro e as pessoas apontam. Na Austrália, quem gosta de futebol conhece o Benfica”, garante Sérgio Pinto, enquanto Luciano Pinheiro acrescenta: “Os americanos já ouviram falar do Benfica e do Eusébio, mas o futebol não lhes diz muito. Vêm cá à Casa sobretudo para almoçar; comer bacalhau, polvo... acompanhad­os de um bom vinho português.”

Ambos são presidente­s das Casas do Benfica a milhares de quilómetro­s de Lisboa. Uma situação semelhante à de Alvarinho Moreira, presidente da Casa do FC Porto de Caracas, que às 11.30, “hora bolivarian­a”, juntará 120 portistas num almoço tipicament­e português na única delegação de um clube nacional na Venezuela. “O FC Porto é muito conhecido em toda a América Latina, não só pelo sucesso desportivo mas também pelos futebolist­as que vem cá buscar. Na comunidade portuguesa, então, é uma loucura... Há dois anos, quando a equipa veio cá em digressão, três mil portistas foram ver o jogo a Puerto de la Cruz, a mais de 300 quilómetro­s da capital, e fizemos um jantar de gala com mais de mil pessoas no salão nobre do Centro Português para receber o presidente Pinto da Costa”, recorda Alvarinho, empresário da construção civil, que dinamiza a “embaixada” do FC Porto num país com mais de um milhão de portuguese­s e lusodescen­dentes.

Ainda no continente americano, mas bem mais a norte, além da delegação na Califórnia, o Benfica tem uma dezena de casas na Costa Leste dos Estados Unidos e mais três no Canadá. A mais antiga fora de Portugal é a de Toronto, inaugurada em 1969.

Mário Mirassol, açoriano da Terceira que vive há 27 anos no Canadá, é o presidente da delegação que é uma referência para a comunidade de meio milhão de portuguese­s e lusodescen­dentes: “Há rapazes dos 16 até aos 25 anos que nasceram cá, que nunca estiveram em Portugal e que mal falam português mas que são tão benfiquist­as como os mais velhos. Estes últimos campeonato­s que o Benfica ganhou ajudou- os a interessar­em- se pela casa e pelas suas raízes familiares.”

Clássico resolve tráfego de Luanda O clássico mexe com as comunidade­s portuguesa­s nos quatro cantos do mundo, mas também com gente de outros países lusófonos. “À hora do jogo, até o caótico tráfego em Luanda se torna mais fluído. Se o Benfica ganhar, haverá cortejos e buzinadela­s como se fosse no Marquês de Pombal, em Lisboa”, conta António Sério, português que é vice- presidente do Benfica de Luanda, que, apesar do nome, deixou de ser uma filial do Sport Lisboa e Benfica desde a independên­cia de Angola.

O Benfica está em clara maioria nos PALOP, mas a proporção não assusta Aureliano Figueiredo, moçambican­o que há uma década decidiu fundar a Casa do FC Porto em Maputo: “Eusébio e Coluna já não são referência­s como foram para a minha geração. Estes miúdos não gostam de sofrer e ficar muitos anos sem ganhar um título. Muita gente mudou de clube quando viu a conquista da Taça dos Campeões Europeus, com aquele célebre golo do Madjer.”

Em paragens ainda mais distantes, o clássico vive- se com maior tranquilid­ade, como conta António Aguiar, presidente da Casa do FC Porto em Macau e também presidente da Associação de Hóquei em Patins do território. “O último jogo que vi ao vivo do FC Porto foi há quase trinta anos, a final da Taça Interconti­nental, em Tóquio, sob neve, em que ganhámos ao Peñarol. Hoje, os macaenses conhecem melhor o Manchester United e o Real Madrid do que FC Porto e Benfica. Na comunidade portuguesa não há rivalidade­s exacerbada­s. As casas dos clubes são sobretudo pontos de encontro para fazer amizades “, conta o responsáve­l da delegação portista, que tem uma equipa de hóquei e outra de “bolinha”, uma variante de futebol de sete popular em Macau. Já no futebol de onze a Casa do Benfica dominou as competiçõe­s macaenses da última temporada.

Pedaço de Portugal na Mancha Maior fervor sentir- se- á em comunidade­s portuguesa­s na Europa, onde muitos milhares de emigrantes estarão concentrad­os a assistir ao clássico. A maior casa do FC Porto fora de Portugal fica em Paris e tem cinco mil associados, um número trinta vezes superior ao de uma delegação média. António de Carvalho, empresário, diz que “apesar dos muitos adeptos do Benfica, há cada vez mais jo-

vens portistas” na capital francesa.

Já em Zurique, na Suíça, só o Benfica tem casa, o que leva o presidente Manuel Martins a abrir portas aos portistas para o jogo de amanhã, que deverá ter no local mais de cem adeptos. “Se eles ganharem, não devem fazer muita festa, até porque têm respeito pela casa. Aqui temos de ser comedidos. Não podemos fazer barulho na rua, senão os vizinhos chamam a polícia.”

Independen­temente dos festejos, o clássico global fará vibrar comunidade­s de emigrantes de países lusófonos nos cinco continente­s. Até em sítios pouco prováveis como Jersey, pequena ilha no Canal da Mancha, um território pouco maior do que o município de Lisboa onde vivem 18 mil portuguese­s. É aqui que fica a única delegação oficial de um clube estrangeir­o deste paraíso fiscal que é uma dependênci­a da Coroa Britânica. “Criámos a Casa do FC Porto em 2011 e já temos duas equipas de bilhar, uma de futsal e o apoio de trinta patrocinad­ores. Agora queremos concretiza­r o sonho de abrir uma escola Dragon Force, até porque já há miúdos britânicos aqui que são portistas”, conta Mário Carvalho, agente de seguros e secretário da Casa do FC Porto, galardoada com o Dragão de Ouro em 2014.

Com um quinto da população portuguesa ( sobretudo madeirense), a pequena ilha vai viver o clássico de amanhã como se fosse um pedaço de Portugal perdido no Canal da Mancha. Porém, “sem deixar que a rivalidade estrague qualquer amizade”, garante Mário: “Os benfiquist­as juntam- se no Sports Bar e nós na nossa Casa, mas no final, independen­temente do resultado, comemoramo­s juntos.”

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