Paula Radcliffe de regresso ao ponto de partida para os últimos 42 quilómetros
Britânica compete amanhã em Londres, pela primeira vez desde 2006, na cidade onde bateu a melhor marca mundial há 12 anos. É a última corrida competitiva da carreira da atleta cujo brilho nem o vazio olímpico apagou
Buffon, Ibrahimovic, Ronaldo e Diego Maradona são exemplos de futebolistas que, sendo dos melhores de sempre, nunca ganharam a Liga dos Campeões. No atletismo, pode alguém reclamar um lugar na galeria dos melhores sem nunca ter alcançado a glória olímpica? Paula Radcliffe é a prova viva de que sim. Amanhã termina, na Maratona de Londres, a carreira de uma das mais emblemáticas atletas do desporto britânico, sem que o facto de nunca ter chegado às medalhas olímpicas dê a ideia de que ficou algo por fazer.
“Na minha filosofia de vida, não tenho espaço para arrependimentos, pois não posso voltar atrás e mudar nada”, explica a atleta, de 41 anos, que competiu em duas maratonas, duas finais dos 10 000 metros e uma dos 5000, durante as quatro edições dos Jogos Olímpicos ( de 1996 a 2008) em que participou. O mais próximo que esteve de chegar à medalha foi em 2000, nos 10 mil metros, tendo ficado a um lugar do bronze. Já em 2012, uma lesão num pé impediu- a de competir nas Olimpíadas em “casa”, ela que nasceu em Davenham, Cheshire, a cerca de 300 quilómetros de Londres.
Embora não esconda que sente a “falta de algo” no palmarés, Radcliffe admite que as sucessivas conquistas em maratonas europeias, e o facto de deter o recorde mundial há 12 anos, contribuem para que superasse a mágoa por não ter chegado aos pódios olímpicos. “Claro que foi desapontante, especialmente nas maratonas. Sempre que corria sentia que ia conseguir chegar lá [ às medalhas], dando o meu melhor. Mas espe- cialmente em Sydney, em 2010, não fui boa o suficiente e fiquei no quarto lugar”, recordou.
Amanhã, Paula Radcliffe vai disputar a última competição da carreira, precisamente na cidade onde, há 12 anos, estabeleceu a nova marca mundial feminina na maratona: 2h15m25s, melhorando a marca que a própria estabelecera meio ano antes, em outubro de 2012, em Chicago ( 2h17m18s). Será apenas a décima maratona que a fundista disputa na carreira, e o saldo é sugestivo da sua capacidade: ganhou sete.
Radcliffe venceu por três vezes em Londres ( 2002, 2003 e 2005), outras tantas em Nova Iorque ( 2004, 2007 e 2008) e uma em Chicago, na sua estreia na distância, em 2002. Nas suas duas últimas tentativas, já após ser mãe e reduzido o plano de treinos e de competição, foi 4. ª em Nova Iorque, em 2009, e 3. ª em Berlim, em 2011. Agora, prepara- se para cumprir uma última vez a distância de 42,195 quilómetros.
Uma carreira com um Laureus Além do vasto currículo de conquistas da atleta, que ao longo da carreira competiu em 21 variantes ( a mais curta os 400 metros, a mais longa a maratona), Paula Radcliffe já foi distinguida por diversas entidades pelos seus resultados desportivos. A Federação Internacional de Atletismo já a considerou a melhor atleta do ano, a BBC atribui- lhe o prémio de personalidade do desporto do ano, foi distinguida como a melhor fundista do ano três vezes e é membro da Ordem do Império Britânico.
Em 2008, foi a vez de ser distinguida com o prémio Laureus, os “Óscares” do desporto, para a categoria de melhor regresso do ano – esteve ausente quase dois anos, após ter tido o primeiro filho e superado uma das várias lesões que a prejudicaram na carreira, tantas vezes associadas aos resultados aquém das expectativas nos Jogos Olímpicos.
Amanhã, em Londres, tentará destacar- se entre cerca de 35 mil corredores na 34. ª edição da prova, numa competição que lhe valeu, no ano passado, a entrada numa lista dos dez melhores momentos da história das maratonas. E não foi por ter ganho: foi por, em 2005, ter parado a meio da corrida para urinar, em frente a espectadores e câmaras de filmar. Pediu desculpa, mas quando tem de ser, tem de ser...