Diário de Notícias

João Sousa espera “estar à altura”. Como o tenista se preparou para o Estoril Open

Português confessa que não será fácil ganhar, mas espera apoio do público. Treinador conta ao DN a preparação e alguns segredos

- I S AURA A L MEI DA

A pressão de jogar em casa, no Estoril Open, que começa hoje ( qualifying) e termina a 3 de maio, não assusta João Sousa, o melhor tenista português de sempre no ranking ATP. “Em qualquer país a grande ambição é que um jogador da casa possa ganhar. Claro que não é fácil, o quadro do Estoril Open é bom e equilibrad­o, mas o apoio do público é fundamenta­l. É ótimo jogar em casa, sentir o carinho, e espero poder estar à altura”, disse ao DN o tenista, que só deve entrar em campo na terça- feira.

O primeiro objetivo é passar o primeiro jogo, já que no open português do ano passado foi eliminado na primeira ronda. Depois então pode sonhar em vencer. Neste momento, o tenista de 23 anos, natural de Guimarães, filho de um juiz e de uma bancária, é o número 56 do ranking mundial, o que o deixou de fora do quadro de oito cabeças- de- série do torneio.

O título de único português a ter conseguido vencer um torneio ATP, em Kuala Lumpur, em 2013, “pesa um pouco”. Depois desse dia de glória teve mais duas oportunida­des para vencer uma prova, mas não conseguiu. Ficou “um pouco triste” por não vencer pelo menos um deles, mas prefere destacar que jogou “a um nível altíssimo” que lhe permitiu jogar as finais. Vencer no Estoril significa fazer história, já que seria o primeiro português a consegui- lo, depois de Frederico Gil ter jogado uma final.

O título de 2013 deu- lhe notoriedad­e internacio­nal e também o respeito dos grandes nomes do ténis. Agora é mais fácil receber ou fazer um convite para treinar com Roger Federer ( em Monte Carlo em 2015) ou Novak Djokovic ( Mónaco, em 2014). Com Rafael Nadal é mais frequente – bateram umas bolas no Open de São Paulo, por exemplo – porque ambos treinam na Academia de Barcelona e os treinadore­s conhecem- se bem.

Frederico Marques treina João Sousa desde 2010 e trabalha na Academia de Ténis de Barcelona, dirigida por Francisco Roig, um dos treinadore­s de Nadal.

João Sousa não esconde que gosta dos duelos com os tenistas do top 10: “Há o momento em que tudo é uma surpresa e aprende- se sempre, mas chega a altura em que também quero vencer e cruzar- me com eles. Já joguei cinco vezes com Andy Murray e não está fácil tirar- lhe as medidas [ risos]. Mas é muito bom jogar com eles, ver o nível que é preciso para estar no topo da elite mundial.” O “maluco do Fred” Já o treinador de João Sousa não esconde que há grande expectativ­a para o Estoril Open. “É uma pressão extra, não vamos fugir a isso, jogamos em casa, com público que nos apoiou sempre muito, e gostávamos de fazer um grande resultado”, assumiu Frederico Marques ao DN, o homem- sombra de João Sousa Depois de 25 anos do torneio português, que Federer venceu em 2008 e Djokovic em 2007, quem será o 1. º a vencer o Estoril Open? desde 2010. “Há muito trabalho invisível. Sessenta ou 70% do que faz um treinador de ténis passa despercebi­do aos olhos dos adeptos, e ainda bem porque eles querem é ver o resultado disso: bom ténis”, apontou o português de 28 anos, que começou a trabalhar com João Sousa ainda como n. º 260 do mundo e em três anos ajudou- o a chegar a 35. º , depois de vencer o seu primeiro torneio ATP.

Na preparação de um torneio nada é deixado ao acaso. Desde o plano alimentar até à análise dos adversário­s, passando pela marcação de hotéis e viagens. O “maluco do Fred”, como o trata o tenista, é quem organiza tudo. “O meu papel é evitar e resolver problemas, seja de nível técnico, tático ou outro, para que o João só tenha de se concentrar nos treinos e descansar até à hora de entrar no court”, referiu o jovem treinador. E deu um exemplo: “Antes dos jogos, nem pensar ir comer sushi a um restaurant­e que não conhecemos, há que ter em conta que o peixe é cru e se não for 100% fresco pode causar problemas. Há que ter cuidados excessivos com as saladas também, basta não ser bem lavada e manda abaixo um trabalho de meses.”

Para o Estoril Open, como para outro torneio, a dieta do tenista é composta de saladas, carnes brancas e peixe bem passado, alimentos de fácil digestão e nutritivos. “Eu tiro cursos sobre questões alimentare­s e falo com nutricioni­stas e outros treinadore­s”, lembra Frederico Marques. Claro que as caracterís­ticas dos torneios são tidas em conta: “Um jogador não pode ter sede. Quando chega a esse ponto está desidratad­o. O João hidrata- se desde que acorda até se ir deitar, com água, batidos energético­s e de recuperaçã­o com sais marinhos e proteínas. Ele é muito profission­al e consciente do seu metabolism­o.” Preparação e técnicas O jovem vimaranens­e esteve recentemen­te no ATP Barcelona – foi eliminado na segunda ronda, na quarta- feira – e ontem já estava no Com- plexo de Ténis do Estoril a conhecer os cantos à casa. “Viemos com tempo para preparar o torneio de forma tranquila, ver como são as bolas, como é a terra... nem toda a terra batida é igual. Ver também como se joga à noite, a humidade é diferente e a bola fica mais peluda e anda menos”, contou o treinador, revelando que planeou treinos matinais, vespertino­s e noturnos para Sousa se adaptar, e de preferênci­a com atletas do quadro. Ontem, por exemplo, o treino de João Sousa foi com Frederico Silva, o primeiro português a receber um wild card.

Frederico Marques é o mais jovem treinador português do top 100 do ranking ATP: “Antes era o mais jovem do top 50 [ risos], porque o João estava nos 50 primeiros.” Foi convidado pela Associação de Tenistas Profission­ais ( ATP) a integrar um grupo de 20/ 25 técnicos que pretende estudar mudanças a introduzir no circuito. O objetivo é criar uma base de dados dos cem melhores tenistas a nível mundial. “O nosso trabalho muitas vezes é dificultad­o pelo próprio circuito e pelas regras rígidas. Se quero estudar um adversário tenho de ir ao YouTube ver os vídeos e nunca há filmes de um jogo com- pleto”, lamentou, mesmo que ele próprio já tenha a sua base de dados. “Por exemplo, se o João tem pela frente um adversário canhoto, eu procuro um colega de treino canhoto, as bolas vêm de maneira diferente, o serviço e o jogo são diferente”, conta.

Uma das regras que o circuito cultiva é o silêncio. “Não é permitido dar indicações durante os jogos, mas há técnicas para falar... sem falar [ risos]. Nós conhecemo- nos à dez anos, somos como irmãos e temos as nossas técnicas. Às vezes basta um olhar ou uma posição diferente na cadeira para lhe passar indicações. Ou o mexer no boné para dar indicação para que lado ele deve servir. Ou quando estão a bater palmas ele aproveita a paragem para ir buscar a toalha e se aproximar de mim, tudo abafado pelo barulho das palmas”, contou. E nunca foram apanhados? “Já. Fomos repreendid­os e pagámos uma multa pesada, cinco mil euros.”

Para Frederico, o cartaz do open português “melhorou muito, está equilibrad­o e com jogadores de grande nível para ver bom ténis”. “Um bom cartaz em vez de grandes nomes e será ótimo para o ténis português”, assegura.

Sousa é o único português com um título ATP, em

Kuala Lumpur

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