Diário de Notícias

“MacGyver” agora é marinheiro e continua a fazer milagres

Novo susto gigante para o barco chinês Dongfeng. Avariou- se- lhe a máquina que transforma água salgada em água potável. Um suplício. Até que alguém entrou em ação

- J OÃO PE DRO HENRI QUES B. P.

Bomba manual de produção de água potável obrigaria, no mínimo, a 4,5 horas de esforço por dia Não há nada que não aconteça ao Dongfeng, o barco de bandeira chinesa comandado pelo francês Charles Caudrelier. Quase dá a impressão de que fazem tudo para estar sempre no centro das atenções.

Na etapa anterior da Volvo Ocean Race, que ligou Aukland ( Nova Zelândia) a Itajaí ( Brasil), partiu- se- lhes o mastro.

O barco foi a motor depois até ao ponto final da etapa enquanto a equipa de terra se envolvia numa operação logística gigantesca para transporta­r do Dubai até ao Brasil um mastro novo. O barco ficou pronto mesmo a tempo do arranque da nova etapa, a que agora está em curso, entre Itajaí e Newport ( EUA). Também conseguiu participar na regata costeira que antecipou a partida para o mar alto, ao largo da cidade brasileira. Uma regata, aliás, verdadeira­mente exasperant­e, devido à falta de vento, que o Team Brunel venceu ( o Dongfeng, a passo de caracol como todos os outros, ficou em quarto lugar).

Por causa do problema do mastro, o repórter de bordo do barco, o americano Sam Greenfield, teorizou largamente sobre a Lei de Murphy – que diz que tudo o que pode correr mal, corre mesmo mal.

Não se confirmou... nesses dias. A frota partiu no domingo para Newport e, logo no dia seguinte, nova tragédia a bordo. Se calhar a Lei de Murphy é mesmo para levar a sério – só que não no tempo em que se espera.

O que aconteceu foi simples: avariou- se a bomba elétrica que transforma água salgada em água potável. Ou seja, deixou de haver água doce a bordo, e esta é indispensá­vel: para dar de beber aos marinheiro­s; é a partir da água potável que se fazem as refeições ( alimentos liofilizad­os pré- cozinhados que se tornam comestívei­s adicionand­o água a ferver); serve também para fazer o café e o chá indispensá­veis às longas vigílias que a navegação implica ( cada marinheiro não dorme mais do que 4/ 5 horas por dia); e para lavar os dentes.

Para substituir a máquina avariada foram ao baú buscar uma bomba manual. As contas foram feitas: 27 litros de água por dia. Ou seja, 4,5 horas por dia a bombar manualment­e e a encher garrafas. Um suplício. Ou muito mais do que isso, por estarem rodeados de água por todo o lado.

Charles Caudrelier escreveu então, no site da equipa: “Sem água potável não podemos continuar. Se pararmos para reparar o problema as regras obrigam- nos a uma paragem mínima de dez horas. E não há nenhum porto que não nos obrigue a um grande desvio.”

E então entrou em ação o MacGyver da tripulação, o francês Kevin Escofier, Mr. Fix it, como é conhecido pelos seus camaradas. Antigo estudante de Engenharia Mecânica, Escofier esteve dois dias às voltas com a bomba elétrica. O seu sorriso quando do tubo da máquina começou finalmente a jorrar água potável iluminaria todo o hemisfério sul. A tripulação pode então voltar a concentrar- se na corrida – embora na verdade ninguém garanta que a máquina funcione até ao fim da etapa. A frota, toda junta como de costume, está a 4100 milhas ( 7600 km) do destino. Disputa- se hoje em Oschersleb­en, no Norte da Alemanha, uma corrida de Fórmula 4, competição que tem como patrono o tetracampe­ão mundial de Fórmula 1 Sebastian Vettel. Mas não é isso que está a tornar a corrida mais mediática, mas sim a estreia de Mick Schumacher, filho do heptacampe­ão mundial Michael Schumacher, atualmente a convalesce­r de um acidente de esqui sofrido em dezembro de 2013.

O jovem de 16 anos vai correr pela escuderia holandesa Team Van Amersfoort, cujo diretor desportivo tece os maiores elogios a Mick Schumacher. “Ele comete poucos erros. Tem talento, preparação e também inteligênc­ia. Esta combinação é prometedor­a”, disse Rob Niessing.

O austríaco Gerhard Berger, antigo piloto de Fórmula 1, antevê, em declaraçõe­s ao The Guardian, dificuldad­es para Mick: “É muito difícil seguir as pisadas do pai. Conheço- o bem, tem os pés assentes no chão e o bichinho das corridas. Cresceu neste ambiente, mas sabe distanciar- se.”

A porta- voz da família Schumacher já pediu alguma sensibilid­ade para com o adolescent­e. “É preciso ter sempre em mente que ele só tem 16 anos. É evidente que quando ouvimos o nome Schumacher pensamos automatica­mente na Fórmula 1. E claro que Mick tem esse objetivo, mas calma... há que superar uma etapa de cada vez. Primeiro tem de aprender a dominar um monolugar da Fórmula 4”, explicou Sabine Kehm.

O jovem Schumacher vai estrear- se no mesmo circuito em que o pai debutou numa corrida oficial, mas ao volante de uma moto. O que não deixa de ser um bom prenúncio.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal