Diário de Notícias

“A austeridad­e cavou as desigualda­des sociais. O problema é saber se valeu a pena”

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Disse que não sairia do PSD mas que o partido paulatinam­ente ia saindo de si. Porquê? As pessoas são diferentes, eu se calhar também já estou velhote. Nos tempos em que fiz parte do governo de Cavaco Silva, encaixei- me numa filosofia social- democrata, com preocupaçõ­es sociais, e acho que a génese do PSD tem muito que ver com isso. Sá Carneiro dizia que é preciso austeridad­e, mas uma austeridad­e que não penalize os mais desfavorec­idos, uma austeridad­e que valha a pena. E, quando vejo os resultados ontem [ quarta- feira] divulgados pela Cáritas, esta austeridad­e cavou as desigualda­des sociais, levou a situações de pobreza muito complicada­s e o problema é saber se essa austeridad­e valeu a pena. Deixou mossas e mossas muito complicada­s. O PSD afastou- se da sua génese? Acentuou- se a clivagem entre o PSD vincadamen­te social- democrata e a ala mais liberal? O partido sempre conviveu com esse tipo de alas, não é novidade. Um PSD sempre mais liberal e outro com preocupaçõ­es mais sociais, houve qualquer tipo de problema. Este PSD é um também resultado do qu e aconteceu nas negociaçõe­s com a troika. Agora, podiam contrariar mais certo tipo de imposições? Eu não estive em reuniões entre o governo e os parceiros sociais para poder aquilatar disso e seria agora muito fácil dizer. Agora, admito que haja um pensamento mais liberal, mas também encontro no governo pessoas com sensibilid­ade social reconhecid­a. É possível o PSD recuperar a sua base social de apoio, a classe média, a tempo das eleições? Não vai ser fácil. Julgo que as pessoas também já não estão mobilizada­s nem motivadas para votar de acordo com o discurso demagógico de tudo prometer. As pessoas hoje estão mais disponívei­s para analisar a realidade dos factos e se aparecer alguém a dizer “eu prometo aumentar as pensões” acho que isso não tem credibilid­ade nenhuma. Agora, que há uma razão, no caso dos reformados, dos funcionári­os públicos, para não estarem muito contentes, é verdade, mas a votação é feita muito na perspetiva do futu- ro e com base nas caracterís­ticas dos protagonis­tas. E o jogo ainda está muito em aberto. Não dou de barato que o PSD e a coligação estejam afastados de uma vitória. PSD e CDS devem fazer uma coligação pré ou pós- eleitoral? Acho que faz todo o sentido que o acordo seja feito antes das eleições. Não faz sentido nenhum que quem esteve no governo este tempo todo junto, teve um discurso mais ou menos coerente, agora apareça isolado. E até em termos de método do sistema eleitoral saíram prejudicad­os... O cenário de maioria absoluta para qualquer força política parece muito improvável e o Presidente estará constituci­onalmente limitado na reta final do seu mandato. Que soluções de governabil­idade vislumbra? Só depois dos resultados das eleições é que se pode discutir esse problema. Os principais potenciais parceiros não vão reconhecer até ao dia das eleições que vão fazer acordos. Pelo contrário, vão mostrar que há visões distintas dos problemas para as pessoas optarem. Presidenci­ais. O PSD deveria apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes ou Rui Rio?

Eu não sei se vão aparecer mais… Mas destes três... Não sei, não faço ideia do que é que a direção do PSD pensa. Eu gostaria de ver o menu completo, só escolho depois de ter o menu completo. Todos são meus amigos, não tenho nenhuma razão de queixa, mas eu gostaria de vê- los a formalizar a candidatur­a – que nenhum deles formalizou – e só a partir daí é que poderei pronunciar- me. É praticamen­te garantido que os três não avançarão... Depende da opção de cada um, mas eu não sei o que vai acontecer a nível do PSD... Pedro Passos Coelho tem con - dições para continuar à frente do PSD, caso perca as legislativ­as de setembro/ outubro? Não sei. A tradição mostra que quando um líder perde as eleições normalment­e sai, mas nas atuais circunstân­cias não sei. Também depende da diferença e, portanto, mais uma vez, os resultados vão ser determinan­tes.

Faz todo o sentido que a coligação seja feita antes das eleições

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