Quadro do Banco de Portugal suspeito de corrupção
Polícia Judiciária realizou buscas em agências do Banco BIC no caso que envolve as sociedades Money One e Transfex
O funcionário foi constituído arguido por suspeitas do crime de corrupção passiva. Durante anos, terá passado informações a um grupo de pessoas que tinha montado um esquema de lavagem de dinheiro.
Durante anos, um quadro do Banco de Portugal terá passado informações a um grupo de pessoas que tinha montado um esquema de “lavagem de dinheiro” proveniente do tráfico de droga. O funcionário do supervisor terá informado os elementos do grupo detido nos últimos dias pela Polícia Judiciária das ações de fiscalização e terá ainda passado informações sobre ações de prevenção do branqueamento de capitais. Por isso, foi constituído arguido pelo crime de corrupção passiva, no processo que envolve cinco gestores das empresas Money One e Transfex, por suspeitas de “lavagem de dinheiro” proveniente do tráfico de droga em Espanha.
Numa declaração enviada ao DN, o Banco de Portugal confirmou as suspeitas sobre o funcionário, acrescentando: “Desta forma, se for provado o envolvimento do colaborador no caso referente à Money One, o Banco de Portugal agirá disciplinarmente. Entretanto, o colaborador em causa será suspenso e será aberto um processo para averiguações.”
A ligação de um quadro do Banco de Portugal ao suposto esquema de branqueamento de capitais é mais uma peça da complicada investigação levada a cabo pelos investigadores da Unidade Nacional Contra a Corrupção ( UNCC). Segundo fonte judicial, os suspeitos do processo terão mantido nos últimos anos uma “muito bem organizada estrutura” de branqueamento de capitais, cuja principal origem seria Espanha e o tráfico de droga. “Desde há vários anos que, até nos filmes, se vê que as organizações que se dedicam ao trá- fico de droga precisam de uma estrutura que branqueie e introduza o dinheiro de forma lícita no sistema”, declarou ao DN a mesma fonte. O grupo detido nos últimos dias utilizava, ainda de acordo com a mesma fonte judicial, software de encriptação para as comunicações, assim como utilizaria carros de alta cilindrada, devidamente adaptados com fundos falsos, para o transporte de dinheiro de Espanha para Portugal.
E, tal como o DN adiantou ontem, um dos primeiros “contactos” da investigação com o esquema de branqueamento de capitais ocorreu quando elementos da Brigada de Trânsito, por indicação da PJ, realizaram uma operação stop a um carro e, depois de uma busca, encontraram dois milhões de euros num fundo falso. O dinheiro acabou por ficar apreendido.
Ontem, os cinco detidos pela UNCC foram presentes ao juiz de instrução Carlos Alexandre, que determinou a aplicação da prisão preventiva a três, tendo aos restantes aplicado medidas de suspensão de exercício de atividade na área financeira, proibição de ausência do país e de contactos entre eles. Estão em causa suspeitas da prática, entre outros, dos crimes de branqueamento de capitais, corrupção ativa e passiva, fraude fiscal, associação criminosa e atividade ilícita de receção de depósitos e outros fundos reembolsáveis.
As empresas ligadas a remessas de dinheiro, como a Money One, acabam por ser veículos privilegiados de branqueamento de capitais, uma vez que a circulação de dinheiro é o seu negócio. Para dar a aparência de circulação legítima de dinheiro, os suspeitos terão criado várias empresas de fachada, em Portugal e no estrangeiro,
Funcionário do Banco de Portugal foi suspenso
Ministério Público mandou congelar mais de cem contas
bancárias
simulando entre elas relações comerciais. A quantidade de empresas criadas será de tal ordem que, segundo a mesma fonte judicial, foram congeladas mais de cem contas bancárias. Banco BIC sob suspeita Além de buscas domiciliárias, empresas e escritórios de advogados, os inspetores da Judiciária fizeram ainda buscas a agências do banco BIC. Em causa estão suspeitas de que quadros deste banco terão facilitado depósitos de milhares de euros em numerário, sem dar o alerta de branqueamento.
Ao DN, o banco confirmou as buscas: “Duas agências foram visitadas por autoridades judiciárias, no âmbito de uma operação que, segundo as notícias vindas a público, envolveu igualmente outras entidades bancárias, por as entidades sob investigação serem detentoras de contas abertas nestas instituições. O banco prestou todas as informações, não tendo sido constituído arguido qualquer colaborador.”