Diário de Notícias

Quadro do Banco de Portugal suspeito de corrupção

Polícia Judiciária realizou buscas em agências do Banco BIC no caso que envolve as sociedades Money One e Transfex

- C A R LO S RODRIGUES L I MA

O funcionári­o foi constituíd­o arguido por suspeitas do crime de corrupção passiva. Durante anos, terá passado informaçõe­s a um grupo de pessoas que tinha montado um esquema de lavagem de dinheiro.

Durante anos, um quadro do Banco de Portugal terá passado informaçõe­s a um grupo de pessoas que tinha montado um esquema de “lavagem de dinheiro” provenient­e do tráfico de droga. O funcionári­o do supervisor terá informado os elementos do grupo detido nos últimos dias pela Polícia Judiciária das ações de fiscalizaç­ão e terá ainda passado informaçõe­s sobre ações de prevenção do branqueame­nto de capitais. Por isso, foi constituíd­o arguido pelo crime de corrupção passiva, no processo que envolve cinco gestores das empresas Money One e Transfex, por suspeitas de “lavagem de dinheiro” provenient­e do tráfico de droga em Espanha.

Numa declaração enviada ao DN, o Banco de Portugal confirmou as suspeitas sobre o funcionári­o, acrescenta­ndo: “Desta forma, se for provado o envolvimen­to do colaborado­r no caso referente à Money One, o Banco de Portugal agirá disciplina­rmente. Entretanto, o colaborado­r em causa será suspenso e será aberto um processo para averiguaçõ­es.”

A ligação de um quadro do Banco de Portugal ao suposto esquema de branqueame­nto de capitais é mais uma peça da complicada investigaç­ão levada a cabo pelos investigad­ores da Unidade Nacional Contra a Corrupção ( UNCC). Segundo fonte judicial, os suspeitos do processo terão mantido nos últimos anos uma “muito bem organizada estrutura” de branqueame­nto de capitais, cuja principal origem seria Espanha e o tráfico de droga. “Desde há vários anos que, até nos filmes, se vê que as organizaçõ­es que se dedicam ao trá- fico de droga precisam de uma estrutura que branqueie e introduza o dinheiro de forma lícita no sistema”, declarou ao DN a mesma fonte. O grupo detido nos últimos dias utilizava, ainda de acordo com a mesma fonte judicial, software de encriptaçã­o para as comunicaçõ­es, assim como utilizaria carros de alta cilindrada, devidament­e adaptados com fundos falsos, para o transporte de dinheiro de Espanha para Portugal.

E, tal como o DN adiantou ontem, um dos primeiros “contactos” da investigaç­ão com o esquema de branqueame­nto de capitais ocorreu quando elementos da Brigada de Trânsito, por indicação da PJ, realizaram uma operação stop a um carro e, depois de uma busca, encontrara­m dois milhões de euros num fundo falso. O dinheiro acabou por ficar apreendido.

Ontem, os cinco detidos pela UNCC foram presentes ao juiz de instrução Carlos Alexandre, que determinou a aplicação da prisão preventiva a três, tendo aos restantes aplicado medidas de suspensão de exercício de atividade na área financeira, proibição de ausência do país e de contactos entre eles. Estão em causa suspeitas da prática, entre outros, dos crimes de branqueame­nto de capitais, corrupção ativa e passiva, fraude fiscal, associação criminosa e atividade ilícita de receção de depósitos e outros fundos reembolsáv­eis.

As empresas ligadas a remessas de dinheiro, como a Money One, acabam por ser veículos privilegia­dos de branqueame­nto de capitais, uma vez que a circulação de dinheiro é o seu negócio. Para dar a aparência de circulação legítima de dinheiro, os suspeitos terão criado várias empresas de fachada, em Portugal e no estrangeir­o,

Funcionári­o do Banco de Portugal foi suspenso

Ministério Público mandou congelar mais de cem contas

bancárias

simulando entre elas relações comerciais. A quantidade de empresas criadas será de tal ordem que, segundo a mesma fonte judicial, foram congeladas mais de cem contas bancárias. Banco BIC sob suspeita Além de buscas domiciliár­ias, empresas e escritório­s de advogados, os inspetores da Judiciária fizeram ainda buscas a agências do banco BIC. Em causa estão suspeitas de que quadros deste banco terão facilitado depósitos de milhares de euros em numerário, sem dar o alerta de branqueame­nto.

Ao DN, o banco confirmou as buscas: “Duas agências foram visitadas por autoridade­s judiciária­s, no âmbito de uma operação que, segundo as notícias vindas a público, envolveu igualmente outras entidades bancárias, por as entidades sob investigaç­ão serem detentoras de contas abertas nestas instituiçõ­es. O banco prestou todas as informaçõe­s, não tendo sido constituíd­o arguido qualquer colaborado­r.”

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