Presidente da República considera essencial a concertação entre Presidência e executivo para defender os interesses de Portugal
Cruzar o mar da Noruega, ao encontro das grandes quintas de aquicultura, inspirou o Presidente da República. À chegada a uma das ilhas da região de Bergen, Bekkjarvik, Cavaco Silva apelou à “sintonia” entre Belém e o governo para que os interesses de Portugal não fiquem em águas de bacalhau.
No último de três dias de visita oficial à Noruega, o Chefe do Estado garantiu que é preciso “concertação” entre a Presidência e o executivo para “assegurar a sintonia de linguagem”. E exemplificou com a postura dos quatro ministros que o acompanharam na visita – Nuno Crato, Aguiar- Branco, Jorge Moreira da Silva e Assunção Cristas. “Só assim é possível defender os interesses de Portugal”, garantiu. Doutrina, aliás, que desenvolveu no prefácio dos Roteiros VIII, em que falou da importância da diplomacia presidencial.
Naquela ilha, que segundo um jornalista norueguês é a “ilha” dos que enriqueceram com a comercialização do peixe, e onde o Presidente almoçou, Cavaco falou do interesse português na região: aprender com os noruegueses como produzir mais peixe. Lembrou que Portugal é um dos maiores consumidores de peixe per capita do mundo, mas importamos mais de metade do que consumimos. “Precisamos de aumentar a produção de peixe. É preciso dar um salto em frente.”
Pouco antes tinha visitado a Leroy Fish Farm, uma das quintas norueguesas dedicadas à aquicultura de salmão, onde nas enormes jaulas instaladas naquelas frias águas os peixes são alimentados e criados. De cada uma saem seis mil toneladas de salmão, ou seja, bastariam duas para abastecer Portugal durante um ano, visto que consumimos cerca de 12 mil toneladas só deste peixe.
E foi atrás do conhecimento e da tecnologia desta produção de larga escala que levou o Presidente, investigadores e empresários deste setor do mar ao Intituto de Investigação Marinha noruguês. Peixes minúsculos em balões, incluindo bacalhaus com apenas quatro meses de vida, frascos com fitoplâncton ali produzido para a alimentação natural dos animais e enormes tanques com outros peixes já adultos foram algumas das etapas do ciclo da investigação que o administrador do Instituto, Tore Nepstad, quis mostrar a Cavaco Silva.
Também a remar todos para o mesmo lado na Noruega estiveram os empresários portugueses do setor, que vai muito além da aquicultura. Como por exemplo a de Pedro Lima, a Sea4us, que desenvolve produtos para combater a dor crónica. Com dois polos, um na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova e outro em Sagres, a empresa está a testar uma resposta eficaz para um problema que atinge uma em cada cinco pessoas.
“A indústria procurava uma molécula eficaz contra a dor crónica. Nós descobrimo- la, por acaso, num organismo do nosso mar”, refere Pedro Lima. Estão a ser feitos testes pré- clínicos em cobaias, mas é preciso mais financiamento para passar à fase seguinte dos testes em humanos. “É um processo que envolve milhões”, diz o responsável pela Sea4us. Na Noruega veio à procura de parceiros e lamenta que os bancos portugueses ainda não se interessem por este tipo de investimentos.
Essa também é uma das queixas de Helena Abreu, bióloga e uma das fundadoras da Algaplus, empresa sediada em Ílhavo há três anos e que trabalha na produção de macroalgas em aquicultura. Embora tenha uma componente de investigação, a produção é vocacionada para a alimentação e também a cosmética, entre outras valências. “Neste setor o risco é muito grande e os bancos têm dificuldade em investir.” O candidato presidencial Henrique Neto mostrou- se ontem surpreendido por saber que, ao contrário do afirmado por responsáveis políticos nos últimos anos, o alargamento do canal do Panamá terá efeitos residuais na atividade do porto de Sines. “Deixei- me quase enganar por Passos Coelho”, disse em tom de desabafo.
A observação de Henrique Neto aconteceu em mais uma ação de campanha e de divulgação da sua candidatura que continua sem apoios políticos e com uma máquina de escassos recursos, que já leva duas semanas on the road. Ontem a viagem – começou na Gare do Oriente – foi até ao porto de Sines, onde foi recebido pelo presidente desta infraestrutura pública, João Franco, que explicou que o alargamento do canal do Panamá “não vai ter um impacto significativo” no tráfego marítimo do porto português.
“O alargamento pode ser muito bom para [ os portos de] Lisboa e Setúbal, mas para nós não vai ter impacto significativo” em Sines, sublinhou João Franco, pois os “novos” navios terão cerca de 12,5 toneladas – inferior à dos que Sines quer atrair e são usados no transporte intercontinental.
Note- se que, entre outros responsáveis políticos, também o Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou que “o canal do Panamá, com a extensão que está em curso, [...] abre também novas potencialidades para Portugal, e em particular para o porto de Sines”.
Henrique Neto centrou a sua intervenção na importância estratégica de Sines para o desenvolvimento da economia portuguesa, criticando o governo por não potenciar as capacidades do porto como de transbordo ( ou
em inglês) de mercadorias que os navios mais pequenos ( como os de 12,5 toneladas) depois distribuem por outras regiões na Europa e ou África.
“O crescimento de um porto como o de Sines será tanto maior quanto o for o fator transhipment”, frisou o empresário candidato, mostrando- se também surpreso, pela positiva, ao saber que já se iniciou o processo de alargamento do terminal de Sines para contentores, envolvendo investimento estrangeiro na casa dos 40 milhões de euros. Para Neto “a eficiência” do porto de Sines em termos logísticos – dimensão dos cais ou tempo de permanência dos contentores, por exemplo – pode ser ainda um elemento de atração de novas fábricas ( e mais emprego), que receberiam “componentes de todo o lado” para montagem de produtos finais e posterior exportação também por via marítima.
“Este é o grande argumento para o investimento estrangeiro”, pois essas empresas “trazem o seu mercado” muito mais vasto que o português. Por isso é que “o poder polí tico tem de fazer crescer Sines”, referiu Henrique Neto.
Ao DN, João Franco precisou que o ativo de Sines ronda os 500 milhões de euros e que essa infraestrutura pública registou, em 2014, um volume de negócios da ordem dos 42 milhões, resultados líquidos de 12 milhões, “endividamento zero” e prazos médios de pagamento de 26 dias aos fornecedores.
Henrique Neto conversa com um administrador de Sines