Sete dicas para saber em quem votar em outubro
SÍLVIA DE OLIVEIRA
Afalta de espelhos é um problema sério. Os estudos – conhece aquele que prova que as pessoas que têm gatos são mais inteligentes? – sobre a nossa personalidade e como ela está a mudar confirmam as dificuldades que temos ( sempre tivemos) em lidar com o nosso reflexo. Tenho uma gata chamada Pimenta. De facto, se pensarmos bem, o país está dividido entre os que vomitam selfies com a sua cara- metade ao pôr do Sol e os que cospem vídeos dos treinos que fazem para conseguir os abdominais do Cristiano Ronaldo. Segundo outro estudo, os primeiros sofrem de falta de autoestima, já os segundos são narcisistas e reclamam nas redes sociais a recompensa da comunidade. Somos, afinal, fáceis de entender. Ou oito ou oitenta. E somos assim na vida pessoal, mas também no local de trabalho, um pouco por todo o lado. Quantas vezes não se cruzou já, numa daquelas reuniões, com um tipo que acha que fez tudo o que havia para fazer naquela santa empresa e que ainda não ultrapassou – o mais certo é nunca conseguir – aquela fase da infância do “mãe, olha, fui eu que fiz!”. O problema, diz o estudo exaustivo que tenho feito ao longo de anos e anos, é da difícil relação que temos com os espelhos. Ra- ramente nos enxergamos. O que não costuma dar bom resultado. Tudo isto não teria importância se não mexesse com a perceção que temos uns dos outros e do mundo que nos rodeia. Como bem disse o antigo chanceler alemão, Ludwig Erhard, 50% da economia é psicologia. Foi Angela Merkel quem o citou, quando esteve em Portugal há quase três anos. Quer isto dizer que, grosso modo, metade do que acontece ou pode acontecer em casa, na empresa e no país está dependente daquilo que sentimos, seja verdade ou a mais pura ilusão. Estamos cá, sem ilusões, para manipular e sermos manipulados. Este texto, por exemplo, não é cem por cento inocente, ainda que inofensivo, praticamente irrelevante. Recuso as teses requentadas do bando de mentecaptos sujeitos à inteligência do grupinho de iluminados, mas não temos feito bem o nosso trabalho. A propósito, agora poderia ocupar o espaço que me f alta com as sete ( sete, jamais oito) dicas para arrumar a grande dúvida do momento: quem tem razão, Passos, que quer uma redução mais lenta da austeridade, o pagamento antecipado ao FMI e a recuperação do investimento através da continuação da descida do IRS; ou Costa, que quer aliviar mais rapidamente a carga fiscal, para nos pôr a consumir e, assim, meter a economia a crescer? Sentiu? E se o título fosse esse mesmo: 7 ( sete!) dicas para saber em quem votar em outubro? Imagine os cliques, o buzz que seria. Agora, não se esqueça, um estudo, recentemente elaborado por psiquiatras espanhóis, concluiu que deitar- se no sofá e não fazer nada pode ser bastante produtivo. Se não se pensar, então, pode ser perfeito.