As zonas com mais falta de médicos são Lisboa e Algarve
Decreto- lei com compensação financeira para fixar médicos durante cinco anos deverá ser publicado na próxima semana
O decreto- lei que estabelece os incentivos financeiros para a fixação de médicos nas zonas carenciadas durante cinco anos deverá ser publicado na próxima semana. O documento, que estabelece as regras previstas no Orçamento do Estado para este ano, está para promulgação do Presidente da República. Mas o que se poderia pensar ser uma ajuda para levar médicos para o interior virá afinal responder a faltas sobretudo nas zonas de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. Medicina Geral e Familiar e anestesiologia são duas das especialidades mais carenciadas. Cada médico poderá receber 21 mil euros.
“As duas grandes áreas carenciadas são Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. Há ainda falhas em zonas pontuais no centro e no Alentejo, sobretudo o Litoral. Mas de uma forma geral estas e o Norte não apresentam problemas”, referiu ao DN fonte do Ministério da Saúde. São estas as linhas gerais do mapa de zonas carenciadas. Quanto a especialidades destacam- se “medicina geral e familiar, anestesiologia, médicos de cuidados intensivos e reumatologistas”, disse a mesma fonte.
Ontem, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, adiantou à Antena 1 que “o decreto- lei relativo aos incentivos à colocação de médicos no interior será publicado no início da próxima semana”. A seguir será a vez do despacho com zonas e especialidades carenciadas. “A partir daí, os médicos que se queiram deslocar beneficiam des- tes incentivos. Por muito estranho que pareça aquilo a que chamávamos interior pode ser perto de Lisboa”, acrescentou, dando o exemplo do Seixal ou de Santarém.
Mas poderá ser ainda mais perto. Quando o ministério deu a conhecer as medidas, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo referiu numa nota que podiam contribuir para uma maior cobertura de médicos de família. Entre as zonas mais carenciadas estão Sintra, Alhandra, Alverca, entre outras. Nos hospitais da região as falhas também já são conhecidas. Nomeadamente nos hospitais Amadora- Sintra e Garcia de Orta. O hospital de Almada publicou esta semana um anúncio a pedir com urgência anestesistas. Admitem em tempo parcial ou total para urgência, atividade programada e suplementar. Com a possibilidade de um contrato individual de trabalho. Oferecem ainda alojamento gratuito.
O incentivo tem a duração de cinco anos. Começa em mil euros mensais, seis meses após a colocação passa para 500 e após um ano e até ao final será de 250 euros mensais. Dinheiro que terá de ser devolvido caso não seja cumprido o prazo dos cinco anos. Haverá ainda apoio na deslocação da família e para encontrar escola para os filhos. O Diário Económico avançou no início de maio que mesmo os médicos que moram nas zonas carenciadas recebem apoio, mas o valor é mais reduzido. Os incentivos são para todos os médicos que terminem o internato este ano. São 23 os países europeus, incluindo Portugal, que há três anos trabalham juntos no projeto ACCORD, que tem o apoio da Comissão Europeia. Entre as principais conclusões, apresentadas terça- feira em Madrid, estão a criação de um registo internacional de dadores vivos que mostre as melhores práticas, resultados depois da doação e garanta o seguimento destas pessoas e o trabalho mais próximo com as unidades de cuidados intensivos para identificar possíveis dadores em morte cerebral.
Portugal foi um dos nove países que participaram no projeto- piloto para a criação do registo europeu de dadores vivos, com dados de dois hospitais: Centro Hospitalar do Porto ( Santo António) e Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra. Analisaram dados pré- transplantes, até à alta e um ano de seguimento. Porquê um registo? “Há um aumento dos dadores vivos e temos uma responsabilidade com eles. São pessoas saudáveis que deram um órgão para salvar a vida de outro. Temos a responsabilidade de ter dados gerais que nos permitam analisar quais os procedimentos mais seguros e usá- los para informar possíveis dadores sobre os riscos”, explicou Kirsten Ooms- de Vries, da fundação de transplantes holandesa.
Em Portugal todos os dadores vivos já são seguidos. “Temos a vantagem de o serem nos centros de transplantação. O registo ajudará a ver eventuais incidentes e dar informação aos possíveis dadores. A longo prazo a ver se podem vir a desenvolver doença renal crónica”, apontou Fernando Macário, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação. Em 2014 fizemos 54 transplantes de rim com dadores vivos. No primeiro trimestre deste ano são 14.
O projeto enfrentou alguns desafios, pois nem todos os países têm registo nacional. Portugal deverá ter o seu até ao final do ano, que incluirá informação sobre dadores cadáveres e vivos e que seguirá a base do ACCORD. “O objetivo é usufruirmos da informação do que está a ser feito ao momento em todo o país para termos um retrato mais completo e estender os bons resultados”, disse Ana França, do Instituto Português do Sangue e Transplantação ( IPST).
Espanha deu formação a 900 médicos intensivistas