Diário de Notícias

Portugal e mais 22 países querem criar registo europeu de dadores vivos

Projeto ACCORD aponta como caminho para o sucesso a partilha de dados e maior ligação com os cuidados intensivos

- ANA MAIA DN viajou a convite da Comissão Europeia

TRANSPLANT­ES

O trabalho não fica por aqui para os 23 países europeus. É preciso investir na formação dos médicos que trabalham nos cuidados intensivos. “O ACCORD permitiu criar um plano para identifica­r os pontos fracos em que podemos melhorar e de - senvolver um processo para resolver as falhas. A maior aproximaçã­o com os médicos dos cuidados intensivos permite identifica­r potenciais dadores. Perdem- se porque são doentes que têm um evento cerebral catastrófi­co e não abordados como potenciais dadores ou porque vão para unidades onde os médicos não estão aptos para verificar os critérios e fazem uma paragem cardíaca?”, disse Paulo Maia, da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva.

A formação é chave. Dentro e fora dos cuidados intensivos. Espanha é um exemplo. “Nos últimos oito anos demos formação a 900 intensivis­tas. Graças a isto foi possível começar com um programa em doentes em paragem cardiocirc­ulatória e aumentar a doação com dadores de coração parado. Fora dos cuidados intensivos desenvolve­mos 12 recomendaç­ões para detetar dadores e treinámos 5000 médicos das urgências nos últimos sete anos. Nos primeiros quatro meses de 2015 fizemos mais 182 transplant­es”, disse Rafael Matesanz, da Organizaçã­o Nacional de Transplant­es espanhola, que liderou o projeto ACCORD. Portugal também realizou mais transplant­es nos primeiros quatro meses do ano: 106 dadores cadáver ( mais 11 do que no período homólogo), mais 12 órgãos colhidos e 261 transplant­es. A aposta passa pela ligação mais estreita com os cuidados intensivos. “Todas as oportunida­des têm de ser encontrada­s e esta ligação permite uma monitoriza­ção mais próxima e de forma sustentada”, disse Ana França. Resultados ainda sem o contributo de dadores em paragem cardiocirc­ulatório.

“Só podemos desencadea­r o processo em pessoas que morrem na rua. O INEM é chamado, faz a ressuscita­ção sem sucesso. Em vez de o óbito ser declarado no local, mantém- se o corpo em massagem cardíaca e o óbito é declarado no hospital. É contactada a família e avança- se com a recu peração de órgãos. Ainda não temos transplant­es com estes dadores. É uma questão de operaciona­lizar todos os intervenie­ntes para termos este acréscimo”, disse Ana França. Portugal é quinto a nível mundial em dadores cadáveres por milhão de habitantes.

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