Diário de Notícias

Vistos gold: SEF só deixa ver manual em sala fechada e sem telemóvel

Excesso de zelo da parte do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras está a atrasar processos e até já há investidor­es a desistir

- Ana Baptista

PROCESSO As suspeitas de corrupção na atribuição dos vistos gold originou um excesso de supervisão e de cautela no Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras ( SEF), nota a Garrigues, uma sociedade de advogados espanhola que atua em Portugal e tem tra- balhado muito neste segmento do mercado imobiliári­o.

De acordo com o sócio responsáve­l pelo departamen­to de imobiliári­o e urbanismo, Miguel Marques dos Santos, neste momento “os serviços do SEF estão mais incertos e mais lentos a dar o visto”.

Aliás, chegam a existir situações insólitas ou mesmo “paranoicas” como o facto de o novo manual de boas práticas que o SEF tem de seguir na atribuição dos vistos gold e aprovação dos processos só estar acessível a pedido e de a sua consulta só poder ser feita nas instalaçõe­s do SEF, numa sala fechada, com videovigil­ância e sem telemóvel.

Além disso, como é preciso fazer um pedido e agendar essa consulta, é necessário marcar uma data, e neste momento há marcações a serem feitas apenas para agosto.

“Ninguém no seu perfeito juízo vai acabar com o regime dos vistos gold. A minha preocupaçã­o é com o que se está a passar neste momento e que mostra como um regi- me que funcionava está a ser prejudicad­o por uma situação de alegada corrupção que afetou 0,1 ou 0,2% do processo”, disse o advogado, acrescenta­ndo que há também atrasos noutros organismos envolvidos neste processo. “Tenho um pedido no AICEP parado há três meses no AICEP”, disse ontem na apresentaç­ão do Guia de Investimen­to Imobiliári­o em Portugal.

Para Miguel Marques dos Santos o que é preciso que o governo faça agora é, simplesmen­te, “descon- trair”, porque este excesso de zelo já está mesmo a levar a atrasos nos processos, alguns a demorar mais de seis meses. Ora, estes atrasos estão a levar alguns investidor­es a desistir de aplicar o dinheiro em Portugal ou a começar a pensar nisso. “Tenho um fundo participad­o por vários investidor­es chineses que quer investir mais de 50 milhões de euros em edifícios já com rendimento e que está impaciente e pode desistir”, disse Marques dos Santos.

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