Diário de Notícias

Protestos de polícias voltam a ganhar força. Ministra dificulta acordo

Direção da PSP não foi ouvida sobre projeto de estatuto desta polícia. Sindicatos admitem contestaçã­o forte em todo o país

- VA L E NTI NA MARCELI NO

“Neste momento, estamos mais a caminho de uma contestaçã­o forte e generaliza­da em todo o país do que de um consenso.” É o prognóstic­o de Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical de Profission­ais de Polícia ( ASPP), a mais representa­tiva estrutura sindical da PSP, na véspera da terceira e última reunião com a ministra da Administra­ção Interna, para negociar o novo estatuto desta força de segurança. O descontent­amento sobe até à hierarquia da PSP, com a própria Direção Nacional a ser ignorada por Anabela Rodrigues neste processo fulcral para a polícia, apurou o DN.

Em uma semana, Paulo Rodrigues substituiu o “otimismo” que admitia sentir ao fim do segundo encontro com Anabela Rodrigues, por um “enorme ceticismo”. Isto porque, nas reuniões com os outros sindicatos, a ministra não assumiu as cedências que teria acordado com a ASPP, baralhando os polícias e criando apreensão no próprio governo. Paulo Rodrigues já não confia e, por isso, no encontro de hoje terá “outra atitude”. “Vamos exigir uma ata da reunião, para que fique registado tudo o que é dito”, salienta e, “para que não se perca mais tempo nestas negociaçõe­s, vamos exigir o resultado de uma equação simples: proposta do governo + proposta sindicatos igual a quê? É disto que se trata”.

Conforme noticiou o DN, a gestão política deste processo tinha causado profundo desagrado na coligação governamen­tal, principalm­ente depois de Anabela Rodrigues ter posto em causa o trabalho do seu antecessor, Miguel Macedo. Passos Coelho e Paulo Portas pressionar­am para que fossem evitados conflitos com os polícias em ano de campanha eleitoral, chamando até a ministra das Finanças para avalizar os encargos necessário­s para satisfazer as revindicaç­ões dos sindicatos.

Mas a confusão impôs- se, com os sindicatos a saírem das reuniões “de mãos a abanar”, como sintetiza Pedro Magrinho, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Polícia ( Fenpol). “Já estamos a lutar só para não perdermos direitos que temos”, sublinha este dirigente, que pediu a “intervençã­o direta e célere” do primeiro- ministro no processo em curso.

Idêntico ceticismo têm os oficiais da PSP, que comandam esta organizaçã­o. “Há abertura para algumas questões, mas só em pormenores. Nada do que é estruturan­te, como o horário de trabalho ou o regime de férias, vai ao encontro das revindicaç­ões dos polícias”, assinala Henrique Figueiredo, do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia ( SNOP). “Em cada reunião a nossa esperança vai diminuindo e, por isso, temos de começar a pensar em protestos que sejam tão prolongado­s no tempo como as medidas que nos querem impor”, avança.

Antes mesmo da conclusão da terceira ronda de conversaçõ­es, os sindicatos querem voltar a reunir- se para tomar uma nova posição conjunta. O encontro será ainda nesta semana, segundo disse ao DN a Fenpol. A PSP tem 12 estr uturas sindicais que, pela primeira vez na história, se uniram contra a proposta de estatuto que o governo lhe tinha apresentad­o em março e subscrever­am um conjunto de reivindica­ções consensuai­s entre todas.

Os dirigentes sindicais que participar­am confirmara­m ao DN que Anabela Rodrigues tem seguido a grelha do alinhament­o dessas reivindica­ções, mas dificultan­do um entendimen­to. É o caso do horário de trabalho. Os polícias querem 36 horas, a ministra quer criar dois horários diferentes na PSP. Um para os operaciona­is ( 36 horas), outro para os polícias que desempenha­m cargos administra­tivos ( 40 horas), o que é “inconcebív­el” para os sindicatos, haver dois horários na mesma instituiçã­o. Cerca de 20% dos polícias estão à secretária, mas podem, a qualquer momento, ser chamados para uma operação. A perda de dias de férias também está na mira da ministra, a contrariar os sindicatos.

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