Diário de Notícias

Espanha tem de pedir remédios para salvar criança com difteria

Autoridade­s tentam descobrir a fonte do contágio. Doença não é detetada há décadas em países desenvolvi­dos, mas não está erradicada. Especialis­tas dizem que vacinação é essencial

- J OANA C A P UCHO

Um rapaz de 6 anos está internado num hospital em Barcelona, Espanha, com um diagnóstic­o de difteria, uma doença que não era identifica­da no país desde 1987. Segundo o Departamen­to de Saúde da Catalunha, a criança não estava imunizada contra a doença – que tem taxas de vacinação entre 90% e 95% no país – porque os pais opõem- se à vacinação. A criança está em estado crítico e o caso é ainda mais grave porque Espanha já não tem remédios contra a doença. Tiveram de vir da Rússia, processo agilizado pelo próprio embaixador Yuri Korchagin.

Os primeiros sintomas surgiram no dia 23 de maio: mal- estar generaliza­do, dores de cabeça, febre e amígdalas inflamadas. Mas o rapaz só foi levado para o hospital de Olot ( Girona) cinco dias depois, quando o seu estado se agravou, tendo surgido, nesse mesmo dia, suspeitas de que se tratava de difteria. Quando o diagnóstic­o foi confirmado, a criança foi transferid­a para o Hospital Universitá­rio Vall D’Hebron, em Barcelona, onde permanece internada nos cuidados intensivos em “estado muito grave”.

Citado pelo El País, o secretário- geral da Saúde, Rúben Moreno, classifico­u de “irresponsá­veis” as campanhas contra a vacinação. “As consequênc­ias de não vacinar uma criança podem ser dramáticas”, afirmou, esclarecen­do que o direito à vacinação é das crianças e não dos pais. À semelhança do que acontece em Portugal, a difteria faz parte do plano nacional de vacinação, tendo sido praticamen­te eliminada nos países desenvolvi­dos. Tal como no nosso país, o último registo da doença em Espanha data de 1987. “A vacinação é essencial. Se parássemos de nos vacinar, a doença emergia”, alerta Graça Freitas, subdiretor­a- geral da Saúde.

Como não há sinais de difteria no país há cerca de 30 anos, não existiam medicament­os para o tratamento do rapaz, pelo que foi o embaixador russo que fez chegar a medicação a Barcelona, em mala diplomátic­a. “Ninguém tem medicament­os atualmente. Não há reservas, porque não têm sido identifica­dos casos. Só existem dois ou três países que têm e já as disponibil­izaram. Agora recorre- se à solidaried­ade de quem tem”, explicou ao DN Graça Freitas.

Neste momento, as autoridade­s de saúde tentam perceber qual a origem do contágio. Na escola que o rapaz frequenta, em Olot, foram pedidos os boletins de vacinas de todos os alunos, mas não há suspeitas de mais casos. Segundo Graça Freitas, “é preciso perceber o percurso da criança nos últimos dias para se saber como foi contaminad­a”. À partida, existem duas hipóteses: “Ou viajou para algum país onde existe difteria, ou teve contac- to com algum viajante infetado.” Entretanto, está a ser administra­da medicação preventiva e reforços nas vacinas às pessoas com quem esteve.

Contactado pelo DN, Luís Varandas, presidente da Comissão de Vacinas da Sociedade Portuguesa de Pediatria, destaca que “a vacina contra a difteria é extremamen­te eficaz”, por isso, se a criança tivesse sido vacinada “a probabilid­ade de isto acontecer seria ínfima”. Embora se possa pensar que a doença está erradicada, o especialis­ta destaca que “está apenas eliminada nos países onde a taxa de vacinação é muito elevada, como Portugal, onde ronda os 97% a 98%”. A única erradicada, esclarece, é a varíola. Contudo, será pouco provável a existência de um surto em Espanha, já que a taxa de vacinação no país também é elevada.

Segundo o pediatra Luís Varandas, a transmissã­o da difteria faz- se por via respiratór­ia, através de gotículas de saliva. Embora a bactéria se aloje na garganta, produz uma toxina que pode provocar a morte. A taxa de mortalidad­e chega aos 50%, sem tratamento, e desce para os 5% com o uso de medicação adequada.

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