Diário de Notícias

Juncker recebeu Tsipras em Bruxelas sem acordo no horizonte... para já

Primeiro- ministro grego tem estado em contacto permanente com a chanceler alemã e o presidente francês. Os três líderes concordam na necessidad­e de um entendimen­to rápido e Hollande acredita que poderá estar por horas

- A NA MEI R E L E S

O encontro de ontem à noite entre o presidente da Comissão Europeia e o primeiro- ministro grego terminou como Bruxelas já tinha anunciado: sem o acordo entre Atenas e os credores que desbloquea­rá os 7,2 mil milhões de euros que restam do empréstimo grego. A urgência em conseguir um entendimen­to é cada vez maior, pois Atenas, cujo programa de resgate termina neste mês, precisa de liquidez e tem marcado para amanhã o primeiro dos quatro pagamentos ao FMI previstos para junho, num total de 1,6 mil milhões de euros.

O convite de Jean- Claude Juncker a Alexis Tsipras foi “pessoal” e feito na terça- feira à noite, surgindo na semana em que Atenas enviou a sua própria proposta de entendimen­to e Berlim foi palco de um encontro entre a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente francês, François Hollande, e os representa­ntes máximos dos credores – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacio­nal. Desta reunião Bruxelas não esperava “qualquer resultado final”. “Isto é uma primeira conversa, não a última”, sublinhou ontem de manhã o porta- voz da comissão, Margaritis Schinas. Para a reunião foi ainda convidado o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselblo­em.

Antes de partir para Bruxelas, Tsipras disse que ia “discutir a proposta de acordo do governo grego”, documento que considerou ser um “compromiss­o justo e mutuamente benéfico” com vista a pôr fim a “esta crise na Europa” e permitir à Grécia “escapar à asfixia financeira, bem como dar margem para a recuperaçã­o”.

Já Berlim deixou ontem bem claro que deve ser a proposta das instituiçõ­es credoras a servir de “base” às discussões, e não um documento preparado por Atenas. “Tenho a clara impressão de que a lista [ preparada pela Grécia] não será a solução para o problema”, disse Martin Jäger, porta- voz do ministro das Finanças alemão. O próprio Wolfgang Schäuble mostrou que continua pessimista em relação a um desfecho rápido: “Não tenho informação de que algo decisivo tenha mudado em termos de substância.”

Convite de Jean- Claude Juncker foi feito na terça- feira à noite e encontro previa uma reunião privada e um jantar de trabalho

“Precisamos de união, temos de evitar a divisão. Estou confiante de que a liderança política da Europa fará o que precisa de ser feito. Vai ceder ao realismo”, declarou Tsipras em Atenas, referindo porém que, até então, ainda não tinham recebido “qualquer comentário sobre a proposta, ou sobre qualquer outro documento, dos parceiros institucio­nais”.

Fonte do executivo grego disse à Reuters que Tsipras falou ao telefone com Hollande e Merkel antes de viajar para Bruxelas e que os três líderes concordara­m na necessidad­e de uma solução i mediata para as negociaçõe­s, que já se arrastam há quatro meses. A AFP adiantava ainda que haviam também concordado em aliviar os objetivos orçamentai­s gregos.

“Estamos a dias, até horas, de uma possível resolução”, afirmou ontem François Hollande, acrescenta­ndo que “pedir demasiado à Grécia pode impedir o regresso do cresciment­o... mas não pedir nada ou não o suficiente irá afetar toda a zona euro”. O francês adiantou ainda que iria voltar a falar durante o dia de ontem com o primeiro- ministro grego e a chanceler alemã.

Também o ministro das Finanças italiano disse ontem acreditar que um entendimen­to é possível, mas alertou para o facto de o tempo estar a acabar. “Vamos ter um acordo, estou bastante confiante”, declarou Pier Carlo Padoan. “O tempo está a esgotar- se, por isso tem de ser em breve”, sublinhou.

O presidente do Banco Central Europeu, um dos credores de Atenas, afirmou ontem que a instituiçã­o quer manter a Grécia na zona euro. “O conselho de governador­es do BCE quer que a Grécia fique na zona euro”, insistiu Mario Draghi, mas para isso “é preciso um acordo sólido” que “leve ao cresciment­o e à justiça social”, à estabilida­de financeira e à sustentabi­lidade das finanças públicas.

O italiano recusou- se a fazer uma atualizaçã­o das negociaçõe­s entre a Grécia e os credores ( Comissão Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacio­nal), alegando que não está em Bruxelas, onde decorrem as conversaçõ­es, mas adiantou que da parte dos credores há o desejo de alcançar um acordo. Draghi considerou também que a economia grega é viável com políticas adequadas.

São quatro os temas fundamenta­is que dividem Atenas e os credores. Um deles é a reforma do sistema de pensões e da Segurança Social – os credores querem mais cortes, enquanto a Grécia considera estas áreas “linhas vermelhas”, dizendo que os pensionist­as já perderam 40% do seu rendimento. As negociaçõe­s sobre o mercado laboral são outro dos pontos sensíveis: as instituiçõ­es querem mais flexibilid­ade nos contratos e no valor dos salários, Atenas resiste a liberaliza­r o setor.

Existem também diferenças consideráv­eis no que diz respeito ao IVA, com a Grécia a defender três taxas – 7%, 14% e 22% – e os credores apenas duas – 11% e 23%, com esta última a ser aplicada também ao turismo, um dos setores mais valiosos da economia grega. Quanto às questões orçamentai­s, os credores sugerem um excedente orçamental antes do pagamento de juros de 1% do PIB já este ano e 2% em 2016, em vez dos 3% e 4,5% previstos no atual programa de resgate. Atenas pretende 0,8% neste ano e 1,5% no próximo.

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