Luanda e oposição trocam acusações sobre ataque a seita no Huambo
Governo e UNITA divergem no número de mortos. Fundador da seita, que pregava o fim do mundo, está preso desde 16 de abril
HUAMBO também o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu, no final de maio, a realização de uma investigação independente ao sucedido na região de São Pedro Sumé num ponto designado como monte ou serra do Sumi, de onde é natural o fundador da seita.
Os advogados da associação Mãos Livres que se ofereceram para defender Kalupeteka, de 52 anos, afirmaram no início da semana terem sido impedidos, até agora, de contactar o seu cliente. Kalupeteka tem, entretanto, sido interrogado pelas autoridades, segundo Salvador Freire, um dos elementos da Mãos Livres.
O líder parlamentar da UNITA, Raul Danda, falando terça- feira à noite na SIC Notícias, indicou que terão perdido a vida cerca de mil das quatro mil pessoas que estavam no local quando surgiram as unidades da polícia e do exército angolano. O dirigente do principal partido da oposição acusou as forças governamentais de terem usado de força desproporcionada; citando familiares de pessoas que teriam estado em São Pedro Sumé, afirmou que muitas dessas pessoas não voltaram a casa e nunca mais foram vistas. O que, na sua perspetiva, invalida a afirmação oficial da existência de 13 mortos civis e nove polícias.
Em Luanda, na última semana de abril, quando foram conhecidas as notícias sobre o sucedido com o líder da Luz do Mundo, Raul Danda e o vice- presidente da bancada parlamentar do MPLA, João Pinto, esgrimiram argumentos semelhantes aos utilizados na emissão da SIC Notícias. O dirigente do partido no poder em Angola sugeriu que o interesse da UNITA teria a ver com o receio de surgirem “documentos que a comprometam”, referência ao facto de, no período da guerra civil, o Huambo ter sido uma das principais zonas de influência da UNITA. Em contrapartida, este movimento classificou como “imbuídas de má- fé” aquelas declarações, notando que a seita estava ilegal mas atuava “com o beneplácito das autoridades locais com que desenvolveu, desde 2011, laços privilegiados”, o que lhe permitiu acesso a “bens materiais e espaços de intervenção na comunicação social pública”.
Quatro dias após os incidentes na serra do Sumi, o presidente José Eduardo dos Santos afirmou que a seita seria “completamente” desmantelada por representar “uma ameaça à paz e à unidade nacional”. Kalupeteka vinha afirmando que o mundo iria acabar no corrente ano e incitava os seguidores a vender os seus bens e a partir para o interior das florestas.