Como a Áustria foi obrigada a restituir o que os nazis levaram
Estreia hoje o filme A Mulher de Ouro, sobre a devolução do quadro de Klimt à sua legítima herdeira. Uma história de factos reais
Helen Mirren e Ryan Reynolds são Maria Altmann, a herdeira deO Retrato de Adele Bloch- Bauer, e o advogado Randy Schoenberg “Possivelmente não haverá nada que seja como o caso Klimt”, responde o advogado Randol Schoenberg, por e- mail ao DN, sobre o processo que moveu contra o Estado austríaco em nome da judia Maria Altmann para recuperar o quadro A Mulher de Ouro que havia sido roubado pelos nazis à sua família e cuja história chega ao cinema hoje.
A obra de arte foi devolvida em 2006, quase uma década de disputa judicial depois, e pode ser vista agora na Neue Gallery, em Nova Iorque. A ação do filme, realizado pelo britânico Simon Curtis, começa em 1998, no momento em que a irmã de Maria Altmann morre e a personagem interpretada por Helen Mir- ren ( com sotaque alemão) empreende a busca pelo quadro, uma das 650 mil obras que se calcula terem sido roubadas pelos nazis.
Foi através do documentário Adele’s Wish que o realizador Simon Curtis chegou à história. “Pensei que daria um grande filme”, conta ao telefone com o DN. O passo seguinte envolve Harvey Weinstein, coprodutor de A Mulher de Ouro, e Hollywood. “É uma história sobre uma família dividida”, explica.
Os flashbacks de Maria Altmann levam os espectadores até antes da Segunda Guerra Mundial, à vida feliz com a família – os Bloch- Bauer, que vivem num apartamento em Viena – à entrada em cena dos nazis e à fuga para os EUA. O tio e a mulher apoiam artistas. Entre eles conta- se Gustav Klimt, a quem é encomendado o Retrato de Adele Maria Altmann refugiou- se nos Estados Unidos durante
a II Guerra Mundial Bloch- Bauer, tia da protagonista, em 1907.
Maria Altmann e o advogado Randy Schoenberg vão a Viena em 1998 expor por que razão o quadro A Mulher de Ouro lhe deve ser restituído. Invocam que o testamento de Adele em que esta diz que o quadro deve ir para a Galeria Belvedere após a morte do marido é nulo pois o legítimo proprietário é Ferdinand Bloch- Bauer. O caso esbarra em vários obstáculos jurídicos que deixam a herdeira sem opções. De regresso aos EUA, Schoenberg consegue que o caso Klimt seja adotado pela justiça norte- americana, ao abrigo da Foreign Sovereign Immunities Act, que permite a uma nação levar outra a tribunal. A vitória de Altmann fez jurisprudência e, segundo o advogado, outras obras foram recuperadas.
Na ficção, Randy ( Ryan Reynolds) toma consciência do seu passado na viagem a Viena; na vida real, o advogado, presidente do Museu do Holocausto de Los Angeles, diz que tinha consciência do seu passado. “Mas trabalhar com ela [ Maria] tanto tempo permitiu- me aprofundar muito a história da minha própria família.”
Maria Altmann morreu em 2011 e Schoenberg diz que continua a pressionar em outros casos, como o retrato de Amalie Zuckerkandl, também de Klimt e também da família Bloch- Bauer, que, afirma, “os austríacos ainda não devolveram”.
Uma vez nos EUA, o Retrato de Adele Bloch- Bauer, a que os austríacos chamavam A Mulher de Ouro, foi vendido por 135 milhões de dólares ( 120 milhões de euros) a Ronald Lauder para a Neue Gallery, onde está desde 2006, uma decisão contestada por alguns críticos de arte, que preferiam ver o quadro numa instituição pública.