A guerra para além da guerra
U
JOÃO LOPES m filme como
de Simon Curtis, não pode deixar de evocar a memória muito próxima de
( 2014), interpretado e dirigido por George Clooney. Em ambos encontramos o mesmo facto histórico: o roubo de muitos milhares de obras de arte pelos nazis. No primeiro, o clima é de dramática urgência: ainda em plena guerra, um grupo de oficiais dos Aliados tenta recuperar essas obras, nalguns casos ameaçadas de destruição; no segundo, a partir de uma ação iniciada em 1998, somos confrontados com um labirinto de questões éticas e judiciais em torno de um quadro de Gustav Klimt. Numa opção feliz, o filme de Curtis abre com uma encenação da produção do próprio quadro, mostrando o pintor a aplicar uma folha de ouro na tela. Assim se estabelece um laço, de uma só vez material e simbólico, entre o trabalho de Klimt e as convulsões legais protagonizadas por Maria Altmann ( Helen Mirren) e o seu advogado, E. Randol Schoenberg ( Ryan Reynolds). Mesmo considerando que
obedece a um modelo de narrativa relativamente convencional, por vezes previsível, o certo é que o filme confirma a importância de um fenómeno que foi adquirindo especial significado através de filmes como ( 2012), de Cate Shortland, ou ( 2013), de Pawel Pawlikowski, sem esquecer os sinais premonitórios que já se encontravam no admirável ( 2006), de Steven Soderbergh. Estamos, de facto, perante uma reavaliação das memórias da Segunda Guerra Mundial que tende a secundarizar as cenas de combate para nos revelar experiências singulares de personagens arrastadas pelo turbilhão da história. Num tempo tão marcado por estereótipos de “super- heróis”, o cinema revaloriza, assim, os mais clássicos valores humanistas.