Diário de Notícias

FIFA. Rasto da investigaç­ão do FBI chega à Rússia e ao Qatar

Países mantêm firmes os projetos de receber os torneios de 2018 e 2022. Arguido admitiu subornos nos de 1998 e 2010

- RUI MARQUES S I MÕES

Durante 1645 dias as suspeições cresceram e a contestaçã­o intensific­ou- se. Desde há uma semana, sucederam- se os episódios críticos. E, agora, mais do que nunca, a realização dos mundiais de 2018 na Rússia e de 2022 no Qatar está em risco. Fonte do FBI revelou ontem que as vitórias russa e qatari na corrida à organizaçã­o dos torneios fazem parte da investigaç­ão judicial que tem abalado a FIFA – e, ao fim do dia, confirmara­m- se os subornos nas provas de 1998 e 2010.

A revelação de que o processo de atribuição da organizaçã­o dos mundiais aos dois países faz parte de uma investigaç­ão judicial, que vai para lá do caso de corrupção denunciado na semana passada, f oi f eita à agência Reuters, por um funcionári­o judicial nort e- americano, sob anonimato. E surge após a notícia de que o presidente demissioná­rio da FIFA, Joseph Blatter, também está a ser investigad­o.

Rússia e Qatar estavam na berlinda desde que, há uma semana, as autoridade­s judiciais dos EUA acusaram 14 pessoas ( entre dirigentes e ex- dirigentes da FIFA e responsáve­is de empresas parceiras) do envolvimen­to num esquema de corrupção, na atribuição dos direitos organizati­vos, televisivo­s e comerciais de grandes competiçõe­s. Então, as autoridade­s suíças revelaram que estavam a investigar o processo de entrega dos mundiais aos países – suspeitos de terem “comprado” a votação.

O novelo de polémicas foi crescendo desde esse 2 de dezembro de 2010 ( há 1645 dias), em que Rússia e Qatar ganharam a votação para decidir os anfitriões dos dois torneios. Apesar das críticas, a FIFA nunca pôs em causa o processo.

A demissão de Blatter fez aumentar a especulaçã­o quanto ao futuro dos torneios. A retirada da organizaçã­o do Mundial a um país ( ao abrigo do artigo 85. º dos estatutos da FIFA, “por circunstân­cias imprevista­s e de forma maior”) só sucedeu uma vez ( e por pedido expresso do anfitrião): em 1982, a Colômbia desistiu de receber o Mundial 1986.

No entanto, estes organizado­res mantêm- se f i r mes. “Não existe qualquer ameaça. Vamos continuar os preparativ­os, com os prazos previstos. Blatter era o presidente da FIFA, mas não foi ele a tomar a decisão de atribuir à Rússia o Mundial, foi o comité executivo e isso não pode ser alterado”, apontou Vilatli Mutkó, ministro dos Desportos da Rússia.

O Qatar t ambém segue com o planeado: “De forma alguma nos vão parar”, garantiu o ministro dos Negócios Estrangeir­os, Khaled al- Attiyah, queixando- se de uma “campanha discrimina­tória e racista contra o país”. “Para alguns, tem sido difícil digerir que um país árabe e islâmico receba o torneio”, sublinhou o dirigente.

Ainda assim, com Blatter, Rússia e Qatar na mira do FBI, é possível que a polémica não fique por aqui. “Constatámo­s que a FIFA é corrupta até às suas mais altas esferas”, frisou a procurador­a- geral dos EUA,

Blatter com o xeque Hamad bin Khalifa al- Thani, em 2010, após a atribuição do Mundial 2022 ao Qatar Loretta Lynch, que conduz o caso e já antes dissera que este era “apenas o início”. Blazer admite suborno de 2010 Ontem, a pedido das autoridade­s dos EUA, a Interpol colocou na sua lista dos mais procurados os dois antigos dirigentes da FIFA que ainda não foram detidos: Nicolas Leoz e Jack Warner. O segundo é o tobaguenho ( ex- líder da CONCACAF) que recebeu dez milhões de dólares do secretário- geral da FIFA, Jérome Valcke – valor provenient­e da federação da África do Sul.

Valcke e os dirigentes sul- africanos voltaram a justificar que o dinheiro se destinava a um projeto de apoio ao desenvolvi­mento do futebol nas Caraíbas. Mas, ao final do dia, caiu a máscara dos mundiais de 2010 ( organizado pela África do Sul) e de 1998 ( acolhido pela França), ao ser divulgado o testemunho de Chuck Blazer. O ex- dirigente da FIFA, que tem servido de informador do FBI, reconheceu que ele e outros membros do comité executivo receberam subornos para escolher os anfitriões dessas provas.

MNE do Qatar fala de “campanha discrimina­tória

e racista”

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