Diário de Notícias

Ser português custa 7 mil euros no mercado negro

Há pelo menos mil indianos a circular pela Europa, pelos Estados Unidos e Canadá com documentos falsos, vendidos por rede transnacio­nal com sede em Lisboa que foi apanhada pelo SEF.

- RUTE COELHO

Uma rede transnacio­nal, com sede em Lisboa, exigia entre 7000 e dez mil euros para tratar da documentaç­ão falsa para pessoas interessad­as em obter a nacionalid­ade portuguesa e assim poderem circular pelo espaço europeu, Estados Unidos e Canadá. Ao fim de ano e meio a investigar a rede de imigração ilegal e falsificaç­ão de documentos, o Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras ( SEF) identifico­u pelo menos mil indianos que pagaram para ter a nacionalid­ade portuguesa através de certificad­os de nascimento forjados e que estarão agora a viver e a trabalhar em Inglaterra, Estados Unidos e Canadá.

Para os assentos e certificad­os de nascimento foram usados dados verdadeiro­s de cidadãos indianos realmente nascidos nos antigos território­s portuguese­s da Índia ( Goa, Damão e Diu), explicou ao DN fonte do SEF ligada à investigaç­ão. Sete dos elementos da rede que residiam na área da Grande Lisboa foram apanhados pelo Ser- viço de Estrangeir­os e Fronteiras ( SEF) anteontem, tendo três deles sido detidos e outros cinco apenas constituíd­os arguidos. São todos oriundos da Índia e do Paquistão. Um deles residia em Inglaterra e foi detido por se ter deslocado a Lisboa em negócios.

O DN soube que alguns deles viviam oficialmen­te do rendimento social de inserção ( RSI), apesar de terem ganho fortunas com a atividade ilegal obviamente não declarada.

Com recurso a esta fraude, foram emitidos passaporte­s, cartões do cidadão, cartas de condução e outra documentaç­ão portuguesa a cidadãos indianos mas que não são oriundos das antigas colónias portuguesa­s na Índia.

A investigaç­ão iniciou- se com um grupo de seis indianos que tentou entrar nos Estados Unidos com passaporte­s portuguese­s obtidos de forma fraudulent­a. Falsificaç­ões complexas A entrada desses seis homens nos nos Estados Unidos foi barrada e as autoridade­s norte- americanas de imigração trocaram informaçõe­s com o SEF.

Através de troca de informação com a Europol e oficiais de ligação norte- americanos e canadianos, os inspetores do SEF foram ligando as pontas de uma complexa teia de falsificad­ores, tendo chegado então a identifica­r pelo menos mil beneficiad­os com a nacionalid­ade portuguesa que estarão a viver nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.

“Se chegarem a usar algum documento falsificad­o num aeroporto ou noutro local desses países serão alvo de medida cautelar de apreensão de documentos”, explicou ao DN António Patrício, responsáve­l da Direção Central de Investigaç­ão do SEF. As notícias sobre o desmantela­mento da rede poderão ter um efeito dissuasor no uso desses documentos, acrescento­u.

O SEF executou 15 mandados de busca em residência­s, estabeleci­mentos comerciais e veículos dos cinco elementos da organizaçã­o, nos concelhos de Lisboa e Vila Franca de Xira. Numa das buscas foram apreendido­s, de uma assentada, 200 documentos falsos. Vinte mil euros, ouro e joias No cumpriment­o dos mandados de busca e detenção, os inspetores apreendera­m, entre outros artigos, 20 mil euros em dinheiro, e abundante quantidade de peças em ouro e joias. Foi também apreendida volumosa documentaç­ão relacionad­a com o processo fraudulent­o, bem como abundante material informátic­o, telemóveis, correspond­ência, uma viatura e cartões de crédito. A operação que teve o envolvimen­to de 60 inspetores do SEF foi designada de Livro Mágico.

Segundo o SEF, entre a documentaç­ão aprendida há prova abundante de que muitos dos que adquiriram a nacionalid­ade portuguesa têm identidade­s diferentes daquelas com que se apresentar­am na Conservató­ria dos Registos Centrais a fazer o pedido.

A investigaç­ão vai prosseguir até porque alguns líderes da organizaçã­o estarão a viver em outros países, pelo que se manterá a cooperação internacio­nal entre polícias.

O SEF suspeita que terão sido emitidos “milhares de documentos falsos pela rede”, embora por enquanto tenham sido identifica­dos apenas perto de mil indianos.

Um grupo de seis indianos que tentou entrar nos EUA fez iniciar a investigaç­ão

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