Diário de Notícias

Governo trava tentativa de parar venda a um dia de ter propostas finais

Nova providênci­a cautelar suspende processo. Conselho de Ministros reúne- se para garantir que operação não é travada

- A NA MARGARIDA PI NHEI RO

Nova providênci­a cautelar, nova invocação de interesse público. A um dia de receber propostas finais para a TAP, Conselho de Ministros reúne- se para fundamenta­r resolução e manter operação que quer fechar neste mês.

O governo volta a garantir a continuida­de do processo de privatizaç­ão da TAP, a um dia da apresentaç­ão das propostas. Depois de a 14 de maio ter travado uma providênci­a cautelar que intentava contra o caderno de encargos, hoje o executivo reúne- se em Conselho de Ministros para aprovar uma nova resolução a fundamenta­r o interesse público da venda da companhia aérea. Em causa está uma nova providênci­a cautelar intentada pelo movimento Não TAP os Olhos, que alega ilegalidad­es no decreto- lei que arrancou com o processo. O grupo, liderado por António Pedro Vasconcelo­s, diz que o governo atropelou a Lei- Quadro das Privatizaç­ões avançando com a contrataçã­o da Deloitte e da PwC para assessores financeiro­s sem abrir concurso público e que isso constitui “vício de ilegalidad­e qualificad­a e vício de constituci­onalidade grave”.

O governo, que quer ver o processo fechado até ao final da primeira quinzena de junho, desvaloriz­a o novo bloqueio. “O interesse público [ da privatizaç­ão] está à vista de todos”, afirmou ontem Sérgio Monteiro, secretário de Estado dos Transporte­s, lembrando que não é a primeira vez que os processos de privatizaç­ão e de concessão lançados pelo governo sofrem golpes jurídicos – já aconteceu com a STCP e com o Metropolit­ano de Lisboa, por exemplo. O governante, que tem liderado os processos de privatizaç­ão, confirmava, assim, o que Passos Coelho afirmara pouco antes: “Não é a primeira vez que existem providênci­as cautelares apresentad­as por grupos de cidadãos junto das instâncias judiciais. O processo não é novo”, disse, avançando com a intenção de invocar o interesse público da privatizaç­ão.

As providênci­as cautelares são o meio jurídico mais eficaz para travar um processo administra­tivo de forma rápida. E a Associação Peço a Palavra, ligada ao movimento Não TAP os Olhos, não tem poupado esforços nesse sentido. Em maio avançou com esta iniciativa pela primeira vez e volta a utilizá- la agora.

Rosário Furtado Leite, representa­nte da associação, admitiu ao DN/ Dinheiro Vivo que o governo “pode agir” através de uma resolução fundamenta­da para travar a providênci­a cautelar, mas “até o fazer o processo está suspenso”, uma vez que nas “três ou quatro linhas que citam a lei” o Supremo Tribunal Administra­tivo ( STA) refere “o artigo 128. º do Código do Processo Administra­tivo, que obriga à suspensão imediata dos processos em execução”. Questionad­o pelo DN/ Dinheiro Vivo, o STA “confirma a apresentaç­ão de uma providênci­a cautelar”, referindo que no despacho “apenas foi ordenado o cumpriment­o do disposto no art. º 117. º , n. º 1 do CPTA”.

Ou seja, o tribunal aceita o requerimen­to do movimento e dá ao interessad­o, neste caso ao governo, dez dias para se opor. Mas o calendário corre contra o executivo e não dá essa margem. É por isso que a resolução fundamenta­da segue ainda hoje para o tribunal e, a avaliar pela resolução apresentad­a há um mês, o governo dirá que não há alternativ­a à privatizaç­ão da empresa: ou a venda ou a insolvênci­a, referiam na resolução anterior.

“A privatizaç­ão afigura- se como a salvação para um momento atual de quase rutura”, referia o documento, avançado pelo DN/ Dinheiro Vivo. O governo falava ainda em “stress de tesouraria” e lembrava que “a privatizaç­ão afigura- se como a única salvação para um momento atual de quase rutura”. Sem ela, a empresa teria de receber uma injeção financeira do Estado e deixaria de ser a TAP que hoje existe.

Com a suspensão da providênci­a cautelar, o executivo poderá manter a previsão e receber até às 17.00 de amanhã as propostas melhoradas de David Neeleman e Germán Efromovich. Sérgio Monteiro espera um esforço dos candidatos na área financeira das suas ofertas, mas não dá descanso aos gabinetes jurídicos: “Seremos intransige­ntes na defesa do interesse particular do Estado, analisando o cumpriment­o das regras do caderno de encargos, mesmo que as propostas financeira­s sejam melhores.”

Quem não está satisfeito com a

invocação do interesse público da venda é o Partido Socialista, que, através de Rui Paulo Figueiredo, lembra que “interesse público é parar a privatizaç­ão”. O deputado socialista deixa ainda um aviso para dizer que estão “muito atentos” aos passos do governo e que até à sua conclusão o processo pode ser revertido. “Não evitaremos invocar essa cláusula”, admite o deputado.

A providênci­a cautelar corre em paralelo com uma ação principal e, apesar de agora travada, não bloqueia esta outra ferramenta ( ver texto ao lado).

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Governo quer assunto fechado até meados deste mês e desvaloriz­a o novo bloqueio, lembrando que não é a primeira vez que os processos de privatizaç­ão e de concessão sofrem golpes jurídicos
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