Tsipras em retrospetiva
Q
uem não consegue sair da trincheira analítica tem de responder a estas questões: se Tsipras queria tanto tirar a Grécia do euro, por que razão apresentou um plano ao encontro das exigências dos credores? Se o objetivo de Tsipras era partir a zona euro e a UE, porque passou cinco meses a negociar com a
troika? Não era suposto ter sido eleito em janeiro para implodir a UE num abrir e fechar de olhos? Começa a ser tempo de separar Tsipras do Syriza e dizer o seguinte: o primeiro- ministro grego, como tantos outros revolucionários de esquerda que a Europa tem dado ao mundo ( exemplos portugueses não faltam), é sobretudo um pragmático social- democrata. A prova é que esteve disposto a perder o apoio da sua bancada para fazer passar um duro pacote com o amparo da oposição pró- europeia ( ND, Pasok e To Potami), de forma a manter a Grécia no euro. Muitos dirão que o referendo foi apenas um expediente para reforçar o peso negocial de Tsipras. Estou de acordo. Aliás, Tsipras já o disse: o “não” deu- lhe um mandato reforçado para negociar, não para tirar a Grécia do euro. Esse mandato traduziu- se nisto: Tsipras passou de líder de fação para líder nacional. Em cinco meses, esta é uma transformação radical que só abona a seu favor. Só que esta mutação implicou assumir- se como um tático esquivo das encruzilhadas que ia encontrando – algumas provocadas por si, outras pelo exterior –, deixando de lado uma estratégia de médio longo prazo para a Grécia. E diga- se que o plano de reformas em cima da mesa continua a não responder a este dilema existencial. Mas se essa postura trocou a governação por rondas intermináveis em Bruxelas, a situação de beco a que a Grécia chegou ( provocada e autoinfligida) não lhe deixava grande alternativa. A haver acordo amanhã, todos são responsáveis pela disfuncionalidade a que a Europa chegou. Tsipras, em retrospetiva, foi só mais um, não o.