Resgate dos bancos implica bail- in. Depósitos estão em risco
REGRAS Para haver ajuda pública à banca é preciso, a priori que acionistas, obrigacionistas e até depositantes paguem parte da fatura
Os bancos gregos foram severamente danificados nas últimas semanas e, caso o programa de resgate vá adiante, terá de haver um plano de saneamento só para os reestruturar e recapitalizar .
Mas, ao contrário do passado, em que foram os contribuintes a pagar o custo das falências bancárias, as novas regras europeias impõem que haja bail- in sempre que há uma linha pública de financiamento: assim, os bancos gregos terão de ser “salvos” via resgate interno, isto é, com o dinheiro de acionistas, credores e, possivelmente, depositantes “não garantidos”, com poupanças superiores a 100 mil euros. Por esta ordem. Isto é seguro, apurou o DN/ Dinheiro Vivo.
Não é claro se o envelope dos bancos vai dentro ou fora do resgate principal ( se este for aprovado nas reuniões de hoje e amanhã, claro). A Reuters fala em 10 a 14 mil milhões de euros de buraco.
Como vai ser financiado é o que está a ser trabalhado. Quase certo é que os fundos bancários internos não vão chegar para tapar o buraco, pelo que o ESM ( mecanismo ou fundo europeu) deve ser chamado.
O ESM pode emprestar dinheiro de várias formas: ou indiretamente, como no caso de Espanha e Chipre, ou diretamente através de um instrumento ( DRI) ainda por estrear. Klaus Regling , diretor do mecanismo, já disse que o novo veículo “pronto a usar”. Deixou claro que em “circunstâncias específicas” “o ESM pode recapitalizar bancos diretamente, mas apenas se os investidores privados participarem no resgate interno”. A diretiva europeia da recuperação de bancos ( DRRB) diz que privados são titulares de ações, obrigações e até de depósitos acima de 100 mil euros.
Problema: da forma como está a Grécia, arrasada e internacionalmente descredibilizada, pode ser difícil encontrar investidores ( capital novo), pelo que o barco começa a inclinar para os clientes obrigacionistas ( credores do banco, que ficam sujeitos a haircut ou desconto nos títulos) e aforradores.
As regras europeias garantem os depósitos até 100 mil euros, mas há quem considere “questionável” a garantia dada aos de valor inferior. Quem dá é soberano, o Estado grego, podendo esse fundo ser insuficiente para responder a uma corrida aos balcões quando os bancos abrirem.
O FT escreveu que o fundo de garantia teria três mil milhões de euros, se tanto. Em maio, as famílias gregas tinham 111 milhões de euros em depósitos. Mesmo com a drenagem recente, o fundo não chegará. Mas cortar depósitos abaixo de 100 mil euros levantaria um problema de confiança grave na zona euro.
Em casos extremos, o fundo europeu pode entrar diretamente na gestão dos bancos, lê- se na página da instituição. Podia ser uma forma de compensar, deixando intactos os depósitos garantidos por lei.
O DN/ Dinheiro Vivo questionou as instituições envolvidas na negociação. Comissão Europeia, BCE e ESM não quiseram comentar. O FMI também não.
A Autoridade Bancária Europeia ( EBA) respondeu que a legislação a aplicar é a que está em vigor ( DRRB). Deixou uma nota de tranquilidade: “Temos estado a acompanhar a situação de forma contínua” e “até agora o impacto dos eventos recentes na exposição aos ativos gregos e através das suas operações tem sido limitada”, disse fonte oficial da EBA.