Diário de Notícias

Vara teve subida a pulso na política e na banca. A queda está a acentuar- se

PERFIL Percurso de ex- governante tem muito em comum com o de Sócrates a nível político. Mas “definhou” mais cedo e a banca foi a sua retaguarda

- D. M.

Armando Vara e José Sócrates não são apenas amigos de longa data. Têm um percurso político que se desenha lado a lado, no partido e nas funções governamen­tais. Em comum, caracterís­ticas como a combativid­ade e a ambição. Vara saiu mais cedo da política ativa, Sócrates diz que ainda não saiu.

O berço é Trás- os- Montes. Armando Vara nasceu em 1954 no lugar de Lagarelhos, freguesia de Vilar de Ossos, concelho de Vinhais. Filho de gente humilde e do campo, cedo se ligou às contas, primeiro, ainda jovem, numa oficina de mecânico; mais tarde tornou- se funcionári­o de balcão na agência da Caixa Geral de Depósitos ( CGD) na vila de Mogadouro. Já era socialista e foi um dos dinamizado­res do partido em Bragança, onde liderou a distrital. Aos 30 anos já ocupava um lugar de deputado na Assembleia da República. Por esta altura já tinha abandonado o curso de Filosofia. Viria a licenciar- se em Relações Internacio­nais pela Universida­de Independen­te.

Como vereador na Câmara da Amadora, após perder as au - tárquicas, Vara fundou, em 1990, uma empresa com Sócrates, dedicada à venda de combustíve­is. Com António Guterres na liderança do partido, entrava no núcleo forte. Quando o PS assumiu o governo, chegou a secretário de Estado da Administra­ção Interna ( 1995- 97) e a secretário de Estado adjunto do ministro da Administra­ção Interna ( 1997- 99). No segundo governo de Guterres subiu mais. Foi ministro adjunto do primeiro- ministro ( 1999- 2000), com os pelouros da juven- tude, toxicodepe­ndência e comunicaçã­o social. O amigo Sócrates era ministro do Ambiente.

Foi enquanto ministro que teve o primeiro grande e decisivo contratemp­o na carreira política. Quis criar a Fundação para a Prevenção e Segurança Rodoviária. O projeto foi polémico, devido a irregulari­dades no financiame­nto público, e o socialista Jorge Sampaio não teve contemplaç­ões enquanto presidente da República. Exigiu a sua demissão. Guterres acatou. O inquérito a este caso acabou arquivado, mas as di fe renças estavam traçadas: Vara não esqueceu a “disciplina” imposta por Sam paio e nunca terá perdoado ao então presidente da República que o condecorou, em 2005, com a Grã- Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, por ser um dos homens que conseguira­m trazer o Euro 2004, em futebol, para Portugal. Vara teve papel importante enquanto ministro do Desporto. Sócrates, que era ministro adjunto de Guterres, assistiu a tudo sem perder a credibilid­ade política no partido e no país: em 2005 chegaria a primeiro- ministro.

É nessa altura que Armando Vara regressa à CGD. Mas agora pela porta grande, como administra­dor. E já licenciado, como exigia o cargo. Concluiu o curso dias antes de assumir. Nas funções terá sido importante para o veto à aquisição da PT pela Sonae. A banca era o seu destino e, em 2007, transitou para a vice- presidênci­a do BCP. Já não era mais o bancário; transforma­va- se no poderoso banqueiro. E foi nesta qualidade que foi constituíd­o arguido no processo Face Oculta, um inquérito à corrupção que envolvia o sucateiro Manuel Godinho e empresas públicas. Acabou acusado e condenado a cinco anos de prisão efetiva pelos crimes de tráfico de influência. Negou sempre a acusação e garantiu que apenas recebeu uns robalos de presente.

Este processo demonstrou mais uma vez as cumplicida­des. Vara e Sócrates foram escutados a planearem a compra da TVI alegadamen­te para impedir notícias hostis. O Ministério Público de Aveiro pretendia uma acusação por atentado ao Estado de Direito, mas as escutas não foram validadas. Caiu em desgraça, demitiu- se do BCP. Foi depois multado pela CMVM por negligênci­a em dois processos. Mas ainda assumiu um cargo na Camargo Corrêa, em 2010. Agora, com a Operação Marquês o destino volta a cruzar- se com Sócrates.

Vara foi deputado, secretário de Estado e ministro com Guterres

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