“António Costa, o salvador da pátria, ainda não chegou às sondagens de Seguro”
O dirigente nega corte de 600 milhões em pensões e classifica as propostas do PS de “aventureirismo”. Revela que programa da maioria vai promover o trabalho após a idade da reforma no público e no privado
Comecemos pelas linhas gerais do programa eleitoral, que propõem estabelecer um teto à dívida. Uma revisão constitucional é um dos objetivos da maioria para próxima legislatura? Essa questão envolve um consenso alargado. Implica dois terços. E os partidos da oposição, a começar pelo PS, já afirmaram que não estão disponíveis para uma revisão constitucional alargada. Nessa perspetiva não faria sentido ser uma questão prioritária, o que não significa que não coloquemos no programa eleitoral questões que envolvem necessariamente a revisão constitucional. A questão da regra de ouro, como vulgarmente é conhecida, é uma delas, mas não será a única. Mas não lhe posso dizer nada sobre as linhas gerais porque o Conselho Nacional é só amanhã [ entrevista realizada ontem]. Confirma propostas como a ADSE alargada ao setor empresarial do Estado, o aumento do abono de família ou o plafonamento na Segurança Social? Não vou entrar na análise de medidas concretas. Posso apenas dizer que o programa vai ter quatro dimensões: a questão demográfica ( ver texto secundário); um segundo aspeto relativo à competitividade económica e das empresas. E isso significa também apresentarmos medidas que permitam às empresas atingir essa competitividade no ponto de vista do financiamento, dos custos de contexto da sua atividade, da ligação das empresas ao mundo tecnológico e da desburocratização e digitalização da administração pública. Uma terceira di- mensão é a qualificação das pessoas. Num mundo global, a capacidade que cada um de nós tiver para afirmar as suas qualidades, contribuir para a sociedade, é essencial. Uma quarta dimensão em que o programa será bastante afirmativo é a questão do Estado. Precisamos de continuar o percurso de reforma do Estado, de continuar a modernizar a administração pública, a descentralizar e a aproximar a decisão dos cidadãos. E de continuar a simplificar a relação entre o cidadão e a administração pública e digitalizar cada vez mais essa relação. Permita- me a provocação: fala de qualificação e na atividade sénior, penso nas Novas Oportunidades, fala numa simplificação da administração pública, penso no Simplex, fala na modernização tecnológica, penso no choque tecnológico. Afinal não pretendem um afastamento de Sócrates? Temos um princípio que é: o que está bem deve aprofundar- se. O que está mal, deve ser mudado. As Novas Oportunidades é um bom exemplo do que estava mal e de como é errado o caminho que foi seguido. O que nos interessa a nós é qualificar realmente as pessoas e não fingir que qualificamos. A nossa perspetiva é diferente e demonstrámo- lo nesta última legislatura e não pretendemos regressar a soluções erradas. Nas linhas gerais, ao contrário do que estava no Plano Nacional de Reformas, já não há uma referência ao corte de 600 milhões nas pensões. A maioria deixou cair definitivamente este número? Nós não vamos cortar 600 milhões de euros. Não faria sentido propormos isso quando em tempos propusemos medidas que introduziam um corte de 200 milhões e foram chumbadas pelo TC. O que está em causa é reconhecer que há um problema de sustentabilidade da Segurança Social. Coisa que, infelizmente, o PS no seu programa eleitoral não quer reconhecer, porque acha mais simpático não o fazer. Assumimos que é preciso que haja um debate alargado na sociedade e um consenso no qual o PS devia incluir- se. E temos feito esse desafio ao PS que tem sempre recusado. E para essa questão, como o vice- presidente Paulo Portas costuma dizer, há “linhas vermelhas”? O PS quer, por exemplo, diversificar fontes de financiamento e investir parte do fundo da Segurança Social em reabilitação urbana. É um mau princípio quando se parte para negociações de uma forma fechada, mas posso- lhe dizer que essa proposta do PS de utilização do fundo de pensões na reabilitação urbana é manifestamente uma daquelas que só pode agravar a debilidade da Segurança Social e essa não merece o nosso apoio. Em matéria da Segurança Social, o PS quer igualmente baixar a TSU para trabalhadores. É uma medida irresponsável porque vai custar milhares de milhões de euros à Segurança Social. Trata- se de um corte imediato com a perspetiva de que, no futuro, o crescimento económico ou a diversifica- ção de fontes de financiamento possam colmatar essa lacuna. Não podemos brincar com as pensões e o que o PS faz é uma manifestação de irresponsabilidade. O programa do PS tem a vantagem de haver um desapertar do cinto mais rápido. Reposição da sobretaxa do IRS e dos cortes na função pública mais rapidamente. Não teme custos eleitorais? Não faço essa análise porque não tenho uma perspetiva paternalista sobre os portugueses. O que os portugueses precisam é de ter propostas claras e de ter opções racionais face a essas propostas. E há propostas claras: as nossas e as do PS. O PS insiste no modelo económico que levou Portugal ao desastre, que é o crescimento por via do aumento do consumo, em vez de valorizar, como nós, um modelo assente no crescimento do investimento privado, nas exportações e nos bens transacionáveis e na recuperação gradual do poder de compra. O PS já teve várias opiniões. A opção que os portugueses têm é clara: ou o aventureirismo de quem acha que se pode fazer tudo rapidamente correndo os riscos de voltar ao passado ou fazer as coisas com gradualismo, prudência e sentido de equilíbrio. Estou inteiramente confiante no julgamento dos portugueses. Acredita que a coligação está mais perto de vencer as eleições do que, por exemplo, há um ano? A sondagem tornada pública hoje [ quinta- feira], da Intercampus, dá o PS à frente por 4,9 pontos. Sondagens são sondagens. Já tivemos sondagens num sentido e noutro. Os nossos estudos internos estão mais próximos da sondagem da Católica [ a última deu a coligação à frente] do que a de hoje [ quinta- feira]. E vale a pena sublinhar um ponto, é que o António Costa chegou a líder do PS com a fama de salvador da pátria. E registo nas sondagens que Costa ainda não chegou aos valores de António José Seguro. A máquina já está no terreno e fizeram algumas ações de rua. Como está a ser a recetividade? Pelas informações que tenho recebido o entendimento entre as estruturas do PSD e do CDS é irrepreensível e tenho notado isso também ao nível da elaboração do programa eleitoral, mas também pelas informações que vou recebendo quer das estruturas quer dos meus colegas da direção nacional, as ações no terreno têm corrido muito bem e a recetividade tem sido até maior do que porventura esperaríamos. No passado, houve campanhas em que se contavam o número de balões azuis e laranjas e se via a cor dos guardanapos. A luta de egos não pode afetar a campanha? Seguramente que não. Os partidos têm a sua diversidade e as suas ca-
Não podemos brincar com as pensões. O PS insiste no modelo que levou Portugal ao desastre”
racterísticas específicas. Isso enriquece, não diminui. Agora estamos de tal forma motivados no projeto comum em que estamos que esse tipo de egoísmos partidários estarão ausentes da campanha. Então é normal, após a polémica da biografia, o vice- primeiro- ministro vir dizer: “Apresenta- se ao serviço o líder da oposição, se tiverem dúvidas enviem sms”? Só lhe posso dizer que, entre nós, brincamos muito hoje em dia com a questão das sms. Esta pode ser uma campanha de casos. Nas linhas gerais é referida a separação entre o poder e a justiça. Luís Montenegro voltou a falar de Sócrates nas jornadas. A maioria vai utilizar a prisão como arma de arremesso? Seguramente que não. Temos sido coerentes no discurso desde que se registou a prisão de José Sócrates. Não misturamos questões de política com questões de justiça, nem pretendemos tentar tirar partido dessa situação de dificuldade em que está José Sócrates por força disso e, na opinião de alguns, o PS. Agora não nos peçam é que não afirmemos as nossa posições. A Grécia também pode contaminar a campanha. Se o governo de Tsipras conseguir um bom acordo e reestruturar a dívida, a maioria pode sair prejudicada? Quero que a maioria seja julgada pelo que fez e as propostas que tem. Não quero que a maioria seja julgada pelos portugueses pelo que se passa na Grécia ou noutro sítio. Agora, é óbvio que a Grécia nos transmite uma ideia de que se as políticas corretas forem implementadas, é possível ultrapassar as crises. Como o demonstra Portugal. Se tivéssemos seguido o caminho de facilitação que o PS defendeu, onde estaríamos? Seguramente muito mais próximos das dificuldades que a Grécia passa. Mudando de assunto: disse em novembro que Rui Rio seria um excelente candidato presidencial e que estranhava não ser falado para esse cargo. Rio é o grande ativo para Belém? O que disse foi que estranhava que na área do PSD se falasse de Marcelo e Santana, e que eu raramente nunca visse citado o nome de Rio. Quis sublinhar essa estranheza e não manifestar o apoio a ninguém, como muitas vezes foi interpreta- do malevolamente por pessoas mal- intencionadas. O apoio de Pinto Balsemão a Rio é importante? É o militante número um do partido, mas manifestou uma posição pessoal. No que diz respeito ao PSD a nossa estratégia está traçada. Não confundimos a questão legislativa com a presidencial. No PSD outra questão que se evita é da sucessão de Passos Coelho. O PSD tem pessoas bem preparadas para essa sucessão? Mal andaria um partido com a responsabilidade do PSD que não tivesse nos seus quadros pessoas que pudessem vir a assumir funções de relevo no partido, incluindo a sua direção. Agora não vamos desviar soluções numa discussão que não se vai colocar. Estou convencido de que o próximo líder do PSD se chamará Passos Coelho. Penso que é próximo de José Eduardo Martins, que já disse que no próximo congresso não deixará de expor as suas posições. Eu conheço bem o Zé Eduardo Martins, sou amigo dele, e só me posso regozijar com o facto de ele ter dito publicamente que quer ir ao congresso e que quer ter intervenção. Porque julgo que o contributo de militantes muito qualificados como ele enriquece o partido. Agora o que daí ele queira fazer, isso já é um problema dele. Uma das críticas que ele faz ao PSD de Passos, é o afastamento da linha social- democrata. Rejeito absolutamente. Se há preocupação que tivemos ao longo destes quatro anos foi precisamente tomar medidas que protegessem os mais desprotegidos da crise e das consequências da aplicação do memorando de entendimento.
Se tivéssemos seguido o caminho de facilitação do PS estaríamos mais próximos da Grécia”