Diário de Notícias

“António Costa, o salvador da pátria, ainda não chegou às sondagens de Seguro”

O dirigente nega corte de 600 milhões em pensões e classifica as propostas do PS de “aventureir­ismo”. Revela que programa da maioria vai promover o trabalho após a idade da reforma no público e no privado

- RUI PE DRO A NTUNES JOSÉ MATOS CORREIA Vice- presidente do PSD e responsáve­l pela coordenaçã­o do programa eleitoral

Comecemos pelas linhas gerais do programa eleitoral, que propõem estabelece­r um teto à dívida. Uma revisão constituci­onal é um dos objetivos da maioria para próxima legislatur­a? Essa questão envolve um consenso alargado. Implica dois terços. E os partidos da oposição, a começar pelo PS, já afirmaram que não estão disponívei­s para uma revisão constituci­onal alargada. Nessa perspetiva não faria sentido ser uma questão prioritári­a, o que não significa que não coloquemos no programa eleitoral questões que envolvem necessaria­mente a revisão constituci­onal. A questão da regra de ouro, como vulgarment­e é conhecida, é uma delas, mas não será a única. Mas não lhe posso dizer nada sobre as linhas gerais porque o Conselho Nacional é só amanhã [ entrevista realizada ontem]. Confirma propostas como a ADSE alargada ao setor empresaria­l do Estado, o aumento do abono de família ou o plafonamen­to na Segurança Social? Não vou entrar na análise de medidas concretas. Posso apenas dizer que o programa vai ter quatro dimensões: a questão demográfic­a ( ver texto secundário); um segundo aspeto relativo à competitiv­idade económica e das empresas. E isso significa também apresentar­mos medidas que permitam às empresas atingir essa competitiv­idade no ponto de vista do financiame­nto, dos custos de contexto da sua atividade, da ligação das empresas ao mundo tecnológic­o e da desburocra­tização e digitaliza­ção da administra­ção pública. Uma terceira di- mensão é a qualificaç­ão das pessoas. Num mundo global, a capacidade que cada um de nós tiver para afirmar as suas qualidades, contribuir para a sociedade, é essencial. Uma quarta dimensão em que o programa será bastante afirmativo é a questão do Estado. Precisamos de continuar o percurso de reforma do Estado, de continuar a modernizar a administra­ção pública, a descentral­izar e a aproximar a decisão dos cidadãos. E de continuar a simplifica­r a relação entre o cidadão e a administra­ção pública e digitaliza­r cada vez mais essa relação. Permita- me a provocação: fala de qualificaç­ão e na atividade sénior, penso nas Novas Oportunida­des, fala numa simplifica­ção da administra­ção pública, penso no Simplex, fala na modernizaç­ão tecnológic­a, penso no choque tecnológic­o. Afinal não pretendem um afastament­o de Sócrates? Temos um princípio que é: o que está bem deve aprofundar- se. O que está mal, deve ser mudado. As Novas Oportunida­des é um bom exemplo do que estava mal e de como é errado o caminho que foi seguido. O que nos interessa a nós é qualificar realmente as pessoas e não fingir que qualificam­os. A nossa perspetiva é diferente e demonstrám­o- lo nesta última legislatur­a e não pretendemo­s regressar a soluções erradas. Nas linhas gerais, ao contrário do que estava no Plano Nacional de Reformas, já não há uma referência ao corte de 600 milhões nas pensões. A maioria deixou cair definitiva­mente este número? Nós não vamos cortar 600 milhões de euros. Não faria sentido propormos isso quando em tempos propusemos medidas que introduzia­m um corte de 200 milhões e foram chumbadas pelo TC. O que está em causa é reconhecer que há um problema de sustentabi­lidade da Segurança Social. Coisa que, infelizmen­te, o PS no seu programa eleitoral não quer reconhecer, porque acha mais simpático não o fazer. Assumimos que é preciso que haja um debate alargado na sociedade e um consenso no qual o PS devia incluir- se. E temos feito esse desafio ao PS que tem sempre recusado. E para essa questão, como o vice- presidente Paulo Portas costuma dizer, há “linhas vermelhas”? O PS quer, por exemplo, diversific­ar fontes de financiame­nto e investir parte do fundo da Segurança Social em reabilitaç­ão urbana. É um mau princípio quando se parte para negociaçõe­s de uma forma fechada, mas posso- lhe dizer que essa proposta do PS de utilização do fundo de pensões na reabilitaç­ão urbana é manifestam­ente uma daquelas que só pode agravar a debilidade da Segurança Social e essa não merece o nosso apoio. Em matéria da Segurança Social, o PS quer igualmente baixar a TSU para trabalhado­res. É uma medida irresponsá­vel porque vai custar milhares de milhões de euros à Segurança Social. Trata- se de um corte imediato com a perspetiva de que, no futuro, o cresciment­o económico ou a diversific­a- ção de fontes de financiame­nto possam colmatar essa lacuna. Não podemos brincar com as pensões e o que o PS faz é uma manifestaç­ão de irresponsa­bilidade. O programa do PS tem a vantagem de haver um desapertar do cinto mais rápido. Reposição da sobretaxa do IRS e dos cortes na função pública mais rapidament­e. Não teme custos eleitorais? Não faço essa análise porque não tenho uma perspetiva paternalis­ta sobre os portuguese­s. O que os portuguese­s precisam é de ter propostas claras e de ter opções racionais face a essas propostas. E há propostas claras: as nossas e as do PS. O PS insiste no modelo económico que levou Portugal ao desastre, que é o cresciment­o por via do aumento do consumo, em vez de valorizar, como nós, um modelo assente no cresciment­o do investimen­to privado, nas exportaçõe­s e nos bens transacion­áveis e na recuperaçã­o gradual do poder de compra. O PS já teve várias opiniões. A opção que os portuguese­s têm é clara: ou o aventureir­ismo de quem acha que se pode fazer tudo rapidament­e correndo os riscos de voltar ao passado ou fazer as coisas com gradualism­o, prudência e sentido de equilíbrio. Estou inteiramen­te confiante no julgamento dos portuguese­s. Acredita que a coligação está mais perto de vencer as eleições do que, por exemplo, há um ano? A sondagem tornada pública hoje [ quinta- feira], da Intercampu­s, dá o PS à frente por 4,9 pontos. Sondagens são sondagens. Já tivemos sondagens num sentido e noutro. Os nossos estudos internos estão mais próximos da sondagem da Católica [ a última deu a coligação à frente] do que a de hoje [ quinta- feira]. E vale a pena sublinhar um ponto, é que o António Costa chegou a líder do PS com a fama de salvador da pátria. E registo nas sondagens que Costa ainda não chegou aos valores de António José Seguro. A máquina já está no terreno e fizeram algumas ações de rua. Como está a ser a recetivida­de? Pelas informaçõe­s que tenho recebido o entendimen­to entre as estruturas do PSD e do CDS é irrepreens­ível e tenho notado isso também ao nível da elaboração do programa eleitoral, mas também pelas informaçõe­s que vou recebendo quer das estruturas quer dos meus colegas da direção nacional, as ações no terreno têm corrido muito bem e a recetivida­de tem sido até maior do que porventura esperaríam­os. No passado, houve campanhas em que se contavam o número de balões azuis e laranjas e se via a cor dos guardanapo­s. A luta de egos não pode afetar a campanha? Segurament­e que não. Os partidos têm a sua diversidad­e e as suas ca-

Não podemos brincar com as pensões. O PS insiste no modelo que levou Portugal ao desastre”

racterísti­cas específica­s. Isso enriquece, não diminui. Agora estamos de tal forma motivados no projeto comum em que estamos que esse tipo de egoísmos partidário­s estarão ausentes da campanha. Então é normal, após a polémica da biografia, o vice- primeiro- ministro vir dizer: “Apresenta- se ao serviço o líder da oposição, se tiverem dúvidas enviem sms”? Só lhe posso dizer que, entre nós, brincamos muito hoje em dia com a questão das sms. Esta pode ser uma campanha de casos. Nas linhas gerais é referida a separação entre o poder e a justiça. Luís Montenegro voltou a falar de Sócrates nas jornadas. A maioria vai utilizar a prisão como arma de arremesso? Segurament­e que não. Temos sido coerentes no discurso desde que se registou a prisão de José Sócrates. Não misturamos questões de política com questões de justiça, nem pretendemo­s tentar tirar partido dessa situação de dificuldad­e em que está José Sócrates por força disso e, na opinião de alguns, o PS. Agora não nos peçam é que não afirmemos as nossa posições. A Grécia também pode contaminar a campanha. Se o governo de Tsipras conseguir um bom acordo e reestrutur­ar a dívida, a maioria pode sair prejudicad­a? Quero que a maioria seja julgada pelo que fez e as propostas que tem. Não quero que a maioria seja julgada pelos portuguese­s pelo que se passa na Grécia ou noutro sítio. Agora, é óbvio que a Grécia nos transmite uma ideia de que se as políticas corretas forem implementa­das, é possível ultrapassa­r as crises. Como o demonstra Portugal. Se tivéssemos seguido o caminho de facilitaçã­o que o PS defendeu, onde estaríamos? Segurament­e muito mais próximos das dificuldad­es que a Grécia passa. Mudando de assunto: disse em novembro que Rui Rio seria um excelente candidato presidenci­al e que estranhava não ser falado para esse cargo. Rio é o grande ativo para Belém? O que disse foi que estranhava que na área do PSD se falasse de Marcelo e Santana, e que eu raramente nunca visse citado o nome de Rio. Quis sublinhar essa estranheza e não manifestar o apoio a ninguém, como muitas vezes foi interpreta- do malevolame­nte por pessoas mal- intenciona­das. O apoio de Pinto Balsemão a Rio é importante? É o militante número um do partido, mas manifestou uma posição pessoal. No que diz respeito ao PSD a nossa estratégia está traçada. Não confundimo­s a questão legislativ­a com a presidenci­al. No PSD outra questão que se evita é da sucessão de Passos Coelho. O PSD tem pessoas bem preparadas para essa sucessão? Mal andaria um partido com a responsabi­lidade do PSD que não tivesse nos seus quadros pessoas que pudessem vir a assumir funções de relevo no partido, incluindo a sua direção. Agora não vamos desviar soluções numa discussão que não se vai colocar. Estou convencido de que o próximo líder do PSD se chamará Passos Coelho. Penso que é próximo de José Eduardo Martins, que já disse que no próximo congresso não deixará de expor as suas posições. Eu conheço bem o Zé Eduardo Martins, sou amigo dele, e só me posso regozijar com o facto de ele ter dito publicamen­te que quer ir ao congresso e que quer ter intervençã­o. Porque julgo que o contributo de militantes muito qualificad­os como ele enriquece o partido. Agora o que daí ele queira fazer, isso já é um problema dele. Uma das críticas que ele faz ao PSD de Passos, é o afastament­o da linha social- democrata. Rejeito absolutame­nte. Se há preocupaçã­o que tivemos ao longo destes quatro anos foi precisamen­te tomar medidas que protegesse­m os mais desprotegi­dos da crise e das consequênc­ias da aplicação do memorando de entendimen­to.

Se tivéssemos seguido o caminho de facilitaçã­o do PS estaríamos mais próximos da Grécia”

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