Êxodo de turistas da Tunísia após avisos de três países
Terrorismo. Reino Unido, Dinamarca e Irlanda aconselharam os seus cidadãos a deixarem o país que este ano já foi alvo de dois atentados
Milhares de turistas apressaram- se ontem a abandonar a Tunísia, depois de os governos britânico, dinamarquês e irlandês terem desaconselhado os cidadãos a viajarem para aquele país magrebino.
“É altamente provável um novo ataque terrorista”, declarou logo na quinta- feira à tarde o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Philip Hammond, referindo- se ao atentado que no dia 26 de junho custou a vida a 38 pessoas numa praia junto ao hotel RIU Imperial Marhaba em Sousse. A maioria das vítimas mortais eram de nacionalidade britânica.
O ataque foi levado a cabo por um terrorista tunisino de 23 anos, Seifeddine Rezgui Yacoub, que alegadamente recebeu treino em campos situados na Líbia. A 18 de março, desta feita em Tunes, no Museu Nacional do Bardo, 21 pessoas, na maioria turistas, foram mortas num ataque realizado por dois homens armados. Ambos os atentados foram reivindicados pelo chamado Estado Islâmico.
“Se está na Tunísia e não tem razões fundamentais para isso, é aconselhado a partir”, advertiu ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros dinamarquês na sua página na internet. Horas antes, a Irlanda também recomendou aos seus cidadãos que abandonem a Tunísia e evitem fazer “qualquer viagem desnecessária ao país”.
Portugal manteve o nível de alerta no Portal das Comunidades. Na página dedicada à Tunísia, atualizada pela última vez no dia 4, recorda- se que foi reinstaurado o estado de emergência na Tunísia, aconselha- se atenção às zonas onde ocorreram incidentes. “Aconselha- se os cidadãos portugueses a adoção de cuidados elementares de vigilância e prudência, bem como a observância das recomendações das autoridades locais sobre procedimentos de segurança nos locais de trabalho, nas residências e nas deslocações em território tunisino”, lê- se nessa mesma página.
O estado de emergência foi de- clarado no dia 4 pelo presidente tunisino Beji Caid Essebsi. Trata- se da quarta vez desde 1978 que tal medida é imposta no país que, em 2011, foi palco do início da chamada Primavera Árabe – revolta que levou à queda de Zine El Abidine ben Ali. Depois dele caíram no Egito e Líbia os poderosos Honis Mubarak e Muammar al- Kadhafi.
Na Síria a história foi diferente. Bashar al- Assad permanece no poder e a oposição ao seu regime dividiu- se, metamorfoseou- se e, há mais de um ano, deu origem ao Estado Islâmico. O grupo sunita controla agora importantes partes dos territórios sírio e iraquiano, estendendo já a sua influência a zonas como a Líbia e a Tunísia.
A decisão de apelar ao regresso dos turistas deverá ter um forte impacto no turismo do país, com perdas que desde o ataque de Sousse estavam já estimadas em 450 milhões de euros para 2015. Há o risco de o setor colapsar, avisou a ministra do Turismo, Selma Rekik, citada pela agência Reuters. 14,5% do PIB foi o peso do turismo na economia tunisina em 2014, sendo um importante criador de emprego.
Indignado com a decisão de países como o Reino Unido, o embaixador tunisino em Londres disse: “É isto que os terroristas querem. Os hotéis vão ter de fechar e esta é uma indústria muito importante.” Na BBC, Nabil Ammar lembrou: “Uma das fontes de que se alimenta o terrorismo é a falta de esperança.”