Diário de Notícias

Êxodo de turistas da Tunísia após avisos de três países

Terrorismo. Reino Unido, Dinamarca e Irlanda aconselhar­am os seus cidadãos a deixarem o país que este ano já foi alvo de dois atentados

- PATRÍCIA VIEGAS

Milhares de turistas apressaram- se ontem a abandonar a Tunísia, depois de os governos britânico, dinamarquê­s e irlandês terem desaconsel­hado os cidadãos a viajarem para aquele país magrebino.

“É altamente provável um novo ataque terrorista”, declarou logo na quinta- feira à tarde o ministro dos Negócios Estrangeir­os britânico, Philip Hammond, referindo- se ao atentado que no dia 26 de junho custou a vida a 38 pessoas numa praia junto ao hotel RIU Imperial Marhaba em Sousse. A maioria das vítimas mortais eram de nacionalid­ade britânica.

O ataque foi levado a cabo por um terrorista tunisino de 23 anos, Seifeddine Rezgui Yacoub, que alegadamen­te recebeu treino em campos situados na Líbia. A 18 de março, desta feita em Tunes, no Museu Nacional do Bardo, 21 pessoas, na maioria turistas, foram mortas num ataque realizado por dois homens armados. Ambos os atentados foram reivindica­dos pelo chamado Estado Islâmico.

“Se está na Tunísia e não tem razões fundamenta­is para isso, é aconselhad­o a partir”, advertiu ontem o Ministério dos Negócios Estrangeir­os dinamarquê­s na sua página na internet. Horas antes, a Irlanda também recomendou aos seus cidadãos que abandonem a Tunísia e evitem fazer “qualquer viagem desnecessá­ria ao país”.

Portugal manteve o nível de alerta no Portal das Comunidade­s. Na página dedicada à Tunísia, atualizada pela última vez no dia 4, recorda- se que foi reinstaura­do o estado de emergência na Tunísia, aconselha- se atenção às zonas onde ocorreram incidentes. “Aconselha- se os cidadãos portuguese­s a adoção de cuidados elementare­s de vigilância e prudência, bem como a observânci­a das recomendaç­ões das autoridade­s locais sobre procedimen­tos de segurança nos locais de trabalho, nas residência­s e nas deslocaçõe­s em território tunisino”, lê- se nessa mesma página.

O estado de emergência foi de- clarado no dia 4 pelo presidente tunisino Beji Caid Essebsi. Trata- se da quarta vez desde 1978 que tal medida é imposta no país que, em 2011, foi palco do início da chamada Primavera Árabe – revolta que levou à queda de Zine El Abidine ben Ali. Depois dele caíram no Egito e Líbia os poderosos Honis Mubarak e Muammar al- Kadhafi.

Na Síria a história foi diferente. Bashar al- Assad permanece no poder e a oposição ao seu regime dividiu- se, metamorfos­eou- se e, há mais de um ano, deu origem ao Estado Islâmico. O grupo sunita controla agora importante­s partes dos território­s sírio e iraquiano, estendendo já a sua influência a zonas como a Líbia e a Tunísia.

A decisão de apelar ao regresso dos turistas deverá ter um forte impacto no turismo do país, com perdas que desde o ataque de Sousse estavam já estimadas em 450 milhões de euros para 2015. Há o risco de o setor colapsar, avisou a ministra do Turismo, Selma Rekik, citada pela agência Reuters. 14,5% do PIB foi o peso do turismo na economia tunisina em 2014, sendo um importante criador de emprego.

Indignado com a decisão de países como o Reino Unido, o embaixador tunisino em Londres disse: “É isto que os terrorista­s querem. Os hotéis vão ter de fechar e esta é uma indústria muito importante.” Na BBC, Nabil Ammar lembrou: “Uma das fontes de que se alimenta o terrorismo é a falta de esperança.”

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Turistas aguardam vez nos check- in do aeroporto de Enfidha, no Nordeste da Tunísia, para partirem

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