A apanhar sol em Algés
Tatuagens douradas com símbolos geométricos e chapéu branco à cowboy são as modas deste festival
Há uma fila de pessoas, ordeiramente, à espera da sua vez. Não para ver concertos. Não para comprar um cachorro ou uma cerveja. Nem sequer para ir à uma fila de pessoas, ordeiramente, à espera da sua vez para fazer uma tatuagem falsa no braço ou nas costas ou na cara. Uma tatuagem dourada com símbolos geométricos. Uma daquelas tatuagens de brincar, como as que as crianças fazem, a dizer “estamos cá”. “É divertido”, justifica- se Joana, 17 anos e uma tatuagem acabadinha de fazer na parte de trás do pescoço. “Amanhã vou à praia e ainda se vai ver, depois vai sair com a água.”
Todos os festivais têm as suas “modas” e, neste ano, o NOS Alive tem as tatuagens douradas. Isso e os chapéus brancos, à cowboy, que são muito úteis durante a tarde, quando os primeiros festivaleiros chegam ao recinto, ainda de manga curta e óculos de sol. Quando os Blasted Mechanism subiram ao palco principal, pelas seis da tarde, com os seus habituais fatos animalescos, tocaram para um pequeno mar de chapéus brancos espalhados à sua frente. Mas, atenção, que o vento começava a levantar- se e assim como voavam preservativos transformados em balões também começaram a voar chapéus pelo recinto junto ao Tejo, no Passeio Marítimo de Algés.
Com vista para a marina fica o palco de comédia do NOS Alive. Por volta das 18.30, a sala está bastante composta, mas o público é difícil. Rui Xará faz piadas sobre música com a sua pronúncia do Norte. Antes dele, Jorge Picoto tinha- se esforçado por arrancar umas poucas gargalhadas com o seu material sobre animais. O palco da comédia é o sítio para onde se vai quando se quer descansar os ouvidos da música ( sobretudo se essa música for pesada como a dos Marmozets, que, entretanto, já estão no palco maior).
Matthew tem 28 anos e veio do Reino Unido com um amigo passar férias a Portugal, “aproveitar o sol” e, by the way, ver alguns concertos. “Ontem [ quinta] vimos Alt- J e Muse. Hoje [ ontem] queremos ver Future Islands. Também temos festivais no Reino Unido mas lá não podemos ir à praia”, ri- se. “E os preços também são mais acessíveis.” Claro que isso é uma questão de perspetiva. Uma cerveja aqui custa dois euros. É o preço normal de festival, parece. É caro para quem está habituado às imperiais do café. É barato para o Mattthew de pele vermelha. Deveria ter pedido um chapéu à cowboy.