Diário de Notícias

Caso Sócrates corre o risco de se tornar mais um megaproces­so

Um processo com mais de 20 mil folhas, o maior banco português, contas na Suíça, uma multinacio­nal, nove arguidos, incluindo o ex- primeiro- ministro José Sócrates e o ex- banqueiro Armando Vara. Operação Marquês pode arrastar- se no tribunal.

- CARLOS RODRIGUES LIMA

Com a entrada de Armando Vara no rol de arguidos da Operação Marquês, e que consigo arrasta a Caixa Geral de Depósitos, esta investigaç­ão, que tem como suspeito mais mediático o antigo primeiro- ministro José Sócrates, está cada vez mais a tornar- se num megaproces­so que, pela sua complexida­de, poderá ser mais um a arrastar- se nos tribunais.

Armando Vara é o nono arguido num processo que, segundo informaçõe­s recolhidas pelo DN, conta já com mais de 20 mil folhas nos volumes principais, às quais se juntam centenas de anexos e apensos. Tudo porque nos últimos meses o Ministério Público tem disparado em várias direções.

Ontem, Vara ouviu o juiz Carlos Alexandre aplicar- lhe as medidas de coação de prisão domiciliár­ia sujeita a vigilância eletrónica e proibição de contactar os outros oito arguidos do processo. Foi ainda confirmado o que já antecipava desde a sua detenção na quinta- feira: é suspeito dos crimes de corrupção passiva, fraude f i scal qualificad­a e branqueame­nto de capitais.

Contas feitas, no processo Operação Marquês há suspeitas sobre um administra­dor do Grupo Lena, empresa que fatura mais de 500 milhões de euros/ ano, outro da Octapharma, uma multinacio­nal ligada ao comércio de medicament­os, ainda outro suspeito de um resort de luxo, no Algarve, o Vale do Lobo, e agora de um ex- administra­dor da Caixa, Armando Vara, que é suspeito de ter facilitado uma concessão de crédito aos promotores de Vale do Lobo. Refi- ra- se, em termos de comparação, que o primeiro processo do chamado caso BPN começou a ser julgado em dezembro de 2010. Mais de quatro anos depois, o caso ainda está em tribunal, dada a quantidade de arguidos, mas sobretudo de documentos carregados para os autos que todos têm que analisar.

Depois do Plano Regional de Ordenament­o do Território do Algarve ( PROTAL), o procurador responsáve­l pela Operação Marquês, que envolve José Sócrates – em prisão preventiva desde novembro de 2014 por suspeita de fraude fiscal, branqueame­nto de capitais e corrupção –, está agora a investigar a relação entre a Caixa Geral de Depósitos e o empreendim­ento turístico algarvio. Armando Vara será suspeito de, enquanto administra­dor da CGD, ter facilitado um empréstimo de cerca de 200 milhões de euros aos promotores do empreendim­ento, sendo que o banco entrou no capital da empresa proprietár­ia do resort com 25%.

Ouvido durante quatro horas e meia pelo juiz Carlos Alexandre, o antigo administra­dor da CGD terá dado a sua versão dos factos sobre o financiame­nto a Vale do Lobo. Vara terá dito que a decisão de concessão de crédito não foi unicamente sua, mas sim do Conselho de Crédito da CGD que aprovava, ou não, as propostas feitas pelos administra­dores ou diretores de topo.

No final, e segundo a Procurador­ia- Geral da República, Vara ficou a saber que foi “indiciado por factos suscetívei­s de integrarem os crimes de corrupção passiva, fraude fiscal qualificad­a e branqueame­nto de capitais”.

Para advogados ligados ao processo, o aparecimen­to de Armando Vara como arguido é uma “surpresa”. Todos os defensores de arguidos contactado­s pelo DN garantiram que os respetivos clientes não foram, até ao momento, confrontad­os ou questionad­os sobre o envolvimen­to de Vara em qualquer situação investigad­a na Operação Marquês. Uma das fontes com quem o DN falou, em tese, admitiu que a suspeita de corrupção passiva possa estar relacionad­a com a possibilid­ade de o Ministério Público alegar que o antigo administra­dor possa ter ganho algum dinheiro com o financiame­nto da Caixa Geral de Depósitos, uma espécie de “comissão”.

Recorde- se, porém, que já no âmbito do processo Face Oculta, no qual foi condenado em primeira instância a cinco anos de cadeia, estando a decorrer o recurso, as contas de Armando Vara, entre 2008 e 2009, foram passadas a pente fino por um perito da Polícia Judiciária, que não encontrou movimentos anormais de dinheiro.

Procurador­ia afirma que Vara é indiciado por corrupção passiva e fraude fiscal qualificad­a

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