Os gémeos que foram trocados e viveram 25 anos com o irmão errado
Parece uma telenovela mas foi bem real. As vidas de dois pares de gémeos colombianos cruzaram- se em dezembro de 1988, quando William e Carlos foram trocados, por engano. Só voltaram a encontrar- se no verão de 2013
Jorge e William. Carlos e Wilbur. Quatro nomes para dois pares de gémeos idênticos que viveram trocados durante 25 anos: dois deles foram trocados em bebés, em Bogotá, e todos cresceram separados dos seus respetivos gémeos. Jorge e Carlos foram criados juntos na capital colombiana, enquanto os seus irmãos verdadeiros, genes dos seus genes, cresceram numa zona rural remota, no Norte do país. A troca só foi descoberta em 2013, numa história que comoveu a Colômbia e que oferece uma oportunidade única de olhar para a identidade e estudar a influência dos genes e do meio.
Jorge e Carlos Bernal nasceram em dezembro 1988, dois bebés parecidos que foram ficando mais diferentes à medida que cresciam, como é normal com os gémeos fraternos. William e Wilbur Cañas nasceram no mesmo mês e a sua história é igual nisto, mas diferente em quase tudo o resto. As suas vidas cruzaram- se nesse mês de 1988 e só voltaram a encontrar- se no verão de 2013. O caso é contado pe - la revista do The New York Times, depois de ter sido revelada no ano passado por uma televisão colombiana.
O nó começou a ser desembaraçado por acaso, quando uma colega de trabalho de Jorge encontrou William a trabalhar num talho. A semelhança entre os dois não passou despercebida e Laura resolveu questionar o amigo. Jorge respondeu- l he que ti nha de facto um gémeo, mas que este era bastante diferente. E só quando viu uma f otografia resolveu i nvestigar.
O jovem estudante de Engenharia Mecânica chegou a pensar que o pai tivesse tido outro filho, mas no Facebook do seu sósia descobriu outra cara que conhecia bem, desde os primeiros dias de vida: a do seu irmão Carlos. "Acreditas em telenovelas?", perguntou ao irmão Jorge, antes de lhe contar tudo o que tinha desco- berto sobre o outro par de gémeos – que tinham nascido em dezembro de 1988 em Santander, no Nor - te do país, e crescido numa zona rural e de difícil acesso. E que eram iguais a eles. A hipótese de ter havido uma troca foi imediatamente colocada e isso significava que os dois não eram gémeos, nem sequer irmãos, e que um deles era filho de outra mãe e outro pai.
Noutra parte da cidade, William Cañas fazia o mesmo trabalho de detetive, empurrado pelas fotos que a namorada de um primo – e amiga de Laura – lhe mostrou. E encontrou a peça que faltava: William descobriu que quando tinham alguns dias foram enviados para a capital por serem prematuros e foram tratados numa maternidade de Bogotá – a mesma em que Jorge e Carlos Bernal nasceram, confirmou- lhe a amiga. Faltava apenas contar ao irmão Wilbur, que não precisou de grandes explicações além das imagens para perceber o que se estava a passar.
Dos quatro, Carlos e Wilbur foram os que tiveram mais dificuldades em aceitar a reunião, enquanto Jorge e William precisaram de apenas algumas horas para marcar um encontro, que amigos filmaram. No vídeo vê- se William a dizer a Jorge “no mesmo dia em que nascemos trouxeram- nos para Bogotá”, e uma amiga a corrigir: “A ti não te trouxeram William, levaram- te.” E a enormidade da situação parece cair- lhes em cima.
Mesmo depois de reunidos, e após reencontrarem as respetivas famílias, a viagem física e emocional dos dois pares de gémeos foi longa e com muitas lágrimas: William teve o desgosto de descobrir que os pais biológicos j á tinham morrido e Carlos teve a oportunidade conhecer os pais. Todos tiveram de reavaliar e explorar as suas identidades – a rel ação com os i r mãos e pais –e a sua duplicação através dos seus gémeos.
Porque a história é tão incrível e oferece uma oportunidade rara de estudar dois pares de gémeos idênticos separados à nascença,
Reencontro foi emocional, com lágrimas
e sorrisos
os jovens foram abordados pela psicóloga colombiana Yesika Montoya e por Nancy Segal, professora da California State University, que querem estudar o caso. Afinal, Carlos e Jorge cresceram na capital da Colômbia, com acesso à educação, enquanto os seus gémeos, William e Wilbur, cresceram numa zona rural e tiveram de deixar a escola aos 12 anos: os primeiros estão a tirar cursos à noite e os segundos são talhantes.
Serão os jovens mais parecidos com os irmãos biológicos e geneticamente idênticos ou com os irmãos “adotivos” com quem cresceram? Os resultados preliminares mostram que os gémeos idênticos são menos iguais do que Segal esperava. "Fiquei com um maior respeito pelo efeito de um ambiente extremamente diferente", concluiu. Uma diferença que separa as mãos calejadas de William das mãos cuidadas, de manicura, de Jorge. Mas depois de 25 anos separados, o futuro é de mãos dadas. Agora são quatro irmãos e não dois pares de gémeos.