Diário de Notícias

Sócrates pode ser libertado no dia do primeiro debate entre Passos e Costa

Primeiro frente- a- frente na TV marcado para 9 de setembro, dia em que termina o prazo para o juiz reavaliar prisão preventiva. Partidos não se lembraram do caso

- CARLOS RODRIGUES LIMA

“O assunto não estava na agenda do debate, mas a atualidade impõe.” Poderá ser desta forma o início do primeiro frente- a- frente entre Pedro Passos Coelho e António Costa, marcado para 9 de setembro. É que neste mesmo dia o juiz Carlos Alexandre pode tomar uma decisão sobre José Sócrates, podendo a libertação do ex- primeiro- ministro, preso na cadeia de Évora por suspeitas de corrupção, ser uma forte hipótese.

De acordo com testemunho­s recolhidos pelo DN junto de dirigentes do PS e do PSD e das estações de televisão, o fator José Sócrates nunca entrou na equação para o agendament­o dos debates. E se o ex- primeiro- ministro for libertado relegando o debate, em termos mediáticos, para segundo plano, quem fica mais prejudicad­o, Passos ou Costa?

É certo que o “fantasma” de Sócrates tem ensombrado, sobretudo, António Costa. E logo desde a primeira hora: a 24 de novembro de 2014, estavam os militantes do PS a votar para o novo secretário- geral e José Sócrates era detido no Aeroporto de Lisboa. Uns meses mais tarde, a 6 de junho deste ano, António Costa tentava galvanizar o partido numa Convenção Nacional quando surgiu nova “aparição” Sócrates: o juiz Carlos Alexandre aceitou a proposta do Ministério Público ( MP) de substituir a prisão preventiva por domiciliár­ia, mas o ex- primeiro- ministro recusou usar uma pulseira eletrónica. Aliás, é esta posição do MP que cria a expectativ­a de que em setembro o procurador Rosário Teixeira até poderá propor a libertação de Sócrates – caso se mantenha preso ( seja na cadeia ou em casa), sairá em novembro por esgotament­o do prazo da prisão preventiva, já que o próprio procurador admitiu não conseguir deduzir uma acusação antes do final do ano.

Outro episódio com o caso Sócrates a ofuscar Costa aconteceu no início de julho, na grande entrevista à TVI, que contou com a presença de cidadãos no estúdio a questionar diretament­e o líder do PS. Conclusão: nessa noite, Armando Vara foi detido no âmbito da Operação Marquês, o mesmo processo que envolve Sócrates.

Ora, como a última revisão da prisão preventiva do ex- líder do governo ocorreu a 9 de junho, o prazo para o juiz Carlos Alexandre se pronunciar sobre uma nova proposta do Ministério Público termina, precisamen­te, a 9 de setembro. E no processo da Operação Marquês, o juiz de instrução tem sempre deixado para o último dia a decisão: foi assim em fevereiro – manteve Sócrates preso, mas só tomou a decisão no limite, a 9 de março. Aconteceu o mesmo em junho.

“É óbvio que um acontecime­nto desses vai contaminar o debate entre os dois candidatos, sendo que António Costa pode ser mais prejudicad­o com isso”, comentou ao DN Ricardo Miranda, especialis­ta em criação de marcas da empresa Brandia Central. “Uma

Caso Sócrates esquecido pelo PS nas negociaçõe­s com televisões

eventual libertação de José Sócrates não vai condiciona­r o debate, vai sobrepor- se ao próprio debate, porque é um facto que suscita muito mais interesse”, adiantou, por sua vez, Carlos Coelho, especialis­ta em marketing.

Mas será só António Costa o prejudicad­o? Fonte da direção do PSD garantiu ao DN que o “fator Sócrates” nunca foi equacionad­o durante as negociaçõe­s com o PS e os três canais de televisão para os debates. “Ninguém se lembrou disso”, afirmou o interlocut­or do DN, refutando a tese de que apenas Costa poderá ser prejudicad­o: “Os debates são uma forma para Pedro Passos Coelho mostrar que é melhor do que António Costa. Se acontecer algo que ofusque o frente- a- frente, Passos Coelho também é prejudicad­o”, declarou a mesma fonte.

Por sua vez, fonte da Direção Nacional do PS, embora não admitindo claramente, deixou a entender que um eventual “caso” a 9 de setembro não foi ponderado. Ainda assim, este socialista ouvido pelo DN remeteu a posição do partido para uma entrevista do diretor de campanha, Ascenso Simões, ao Diário Económico: “As questões relativas ao engenheiro Sócrates têm dois níveis. Tem o nosso nível individual, de sofrimento enquanto amigos de Sócrates e de quem fez um caminho com ele. E podia ter uma ligação com a vida política, mas sentimos que não tem. Na nossa pré- campanha essas questões não têm sido relevantes.”

Por agora, só a campanha do PS tem suscitado maior controvérs­ia, sobretudo os cartazes ( ver pág. ao lado). “Muito infelizes”, na opinião de Carlos Coelho. “Revelam um falta de integração da campanha como um todo. O primeiro sobre o emprego estava eficaz, mas os que se seguiram já não tiveram o mesmo efeito, pareciam mensagens de seita religiosa”, sentenciou Ricardo Miranda, para quem a campanha do PS tem revelado falta de “coerência conceptual”.

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