Diário de Notícias

Cavaco questiona reforço do poder das secretas

Presidente quer saber se acesso aos metadados ( localizaçã­o das chamadas telefónica­s, por quem e quando) é inviolável sem haver um processo- crime. É o 22. º diploma com pedido de fiscalizaç­ão preventiva

- MANUEL C A R LO S F R E I R E com Lusa

O Presidente da República considera justificad­o o acesso das secretas aos metadados das comunicaçõ­es – quem, quando e onde falou – em matéria de luta contra o terrorismo transnacio­nal. Contudo, as dúvidas de constituci­onalidade suscitadas sobre essa norma levaram- no ontem a requerer, pela 22. ª vez, a fiscalizaç­ão preventiva de um diploma ao Palácio Ratton.

“Não estando em causa o mérito e a necessidad­e deste regime, em especial no contexto das ameaças à segurança colocadas pelo terrorismo transnacio­nal e tendo sido, de resto, aprovado por uma expressiva maioria, superior a dois terços dos deputados em efetividad­e de funções, importa saber se a citada norma é conforme à Constituiç­ão”, informou Belém.

Em causa, no novo regime jurídi- co do Sistema de Informaçõe­s da República, está saber- se se os metadados têm o mesmo tipo de proteção constituci­onal que os dados pessoais e se, além dos órgãos de investigaç­ão criminal, outros podem aceder- lhes. O diploma foi aprovado por PSD, CDS e PS, com os votos contra do PCP, BE, Os Verdes e o deputado Pedro Delgado Alves ( PS).

A Constituiç­ão diz ( art º 34 º ) que “é proibida toda a ingerência das autoridade­s públicas na correspond­ência, nas telecomuni­cações e nos demais meios de comunicaçã­o, salvos os casos previstos na lei em matéria de processo criminal”.

O deputado e constituci­onalista Pedro Delgado Alves disse ao DN que “não se trata de discordar da questão em abstrato, mas de como está redigida”, pois “não existe um processo- crime que dê garantias a quem é intercetad­o” ou permita “fundamenta­r [ a medida] junto da autoridade que a vai autorizar”.

“Não se trata de interceder e fazer escutas, mas de saber quem, quando e onde falou” e se isso está protegido da ingerência nas comunicaçõ­es, acrescento­u.

O constituci­onalista Jorge Bacelar Gouveia, ligado ao PSD, adiantou ao DN que não considera a norma inconstitu­cional, pois “a proteção máxima” dada pela Lei Fundamenta­l “é para os dados pessoais” e não para os metadados.

De qualquer forma, observou o académico, “o Presidente fez bem” em recorrer ao Tribunal Constituci­onal “para não permitir a entrada em vigor de uma lei” como esta quando há dúvidas sobre a sua constituci­onalidade.

“O PCP desde o primeiro momento colocou a questão da inconstitu­cionalidad­e e fomos acompanhad­os pelos pareceres do Conselho Superior do Ministério Público e também pela Comissão Nacional da Proteção de Dados”, disse o dirigente Francisco Pereira.

Para o líder parlamenta­r do BE, Pedro Filipe Soares, “esta era uma violação grosseira da Constituiç­ão no que toca aos direitos fundamenta­is das pessoas, porque dava total liberdade, sem qualquer suspeita, para os serviços de informaçõe­s irem procurar e vasculhar a vida privada de cada um”. Além de “uma derrota do governo”, o pedido de Cavaco também o é para o PS, que “se colocou ao lado daqueles que procuram afrontar o Tribunal Constituci­onal e os direitos fundamenta­is dos cidadãos”.

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