O LUGAR NO MAPA
DESCOBERTA São 10 horas de uma manhã quente de verão. As alemãs Celia e Stephanie, 39 e 40 anos, e os escoceses Elaine e Alistair, 54 anos, saem para a volta pelo bairro que o hotel oferece, capitaneada por Inês Ramires, ex- hospedeira que criou com uma sócia uma agência de turismo, a Tailor Made Travel. Celia e Stephanie chegaram no dia anterior, por recomendação da irmã de uma delas, que esteve no hotel. Os escoceses vieram pelo site Mr and Mrs Smith, especializado em hotéis- boutique e de charme. “Estamos a celebrar os nossos anos de casados”, diz Alistair, que já conhecia Portugal. “E gostei muito da piscina encarnada e da vista, achei o hotel muito bonito.”
A primeira paragem é logo à porta do hotel. Inês chama a atenção para a obra de Alexandre Farto, o famoso artista de street art que adotou o nome de Vhils, encomendada pelo Memmo para uma parede da travessa das Merceeiras. É o rosto enrugado de um homem, três metros por dois, esculpido no reboco. “É uma das pessoas daqui de Alfama que ele quis que ficasse marcada aqui”, garante Inês. Ri: “O hotel gastou uma fortuna com isto e agora pôs aqui estas árvores [ refere duas plantas colocadas em enormes vasos de metal] à frente.”
O grupo prossegue travessa fora, sobe na direção da Graça. Detém- se na enorme bela- sombra que ocupa grande parte do passeio junto aos muros do Limoeiro, a antiga prisão onde agora funciona o Centro de Estudos Judiciários. Inês explica que a árvore, apesar do seu tamanho, tem apenas 80 anos e que é originária da América do Sul. Alistair senta- se nas enormes raízes para uma foto. A próxima paragem é nos painéis de azulejo do miradouro de Santa Luzia: o que representa o Terreiro do Paço original, arrasado pelo terramoto de 1755, e o que encena o heroísmo de Martim Moniz, que segundo a lenda se entalou na porta da cidade para garantir a conquista aos mouros. Inês graceja: “Dizem que não foi nada assim, mas gosto de acreditar que há heróis assim na nossa história.” A fábula da fundação do país é entrecortada pelo som de elétricos e riquexós até chegar às Portas do Sol, onde um homem, que Inês informa ser húngaro, dedilha uma guitarra portuguesa e de onde se inicia a descida para o intrincado de Alfama. Balcões e estrados a postos para a animação noturna das festas de Santo António, molhos de turistas em peregrinação. Já perto do fim da volta, na Rua de São João da Praça, Alistair para numa mercearia antiga para comprar cerejas do Fundão – “Hum, são ótimas” – enquanto Inês aponta para uma casa de vinhos, explica os três tipos de Porto e gaba a excelência dos vinhos portugueses. O mini- tour, que com a sua descontração pausada faz até uma lisboeta encontrar coisas novas na cidade, termina, ao fim de quase duas horas, sobre as escadas da Sé.