Diário de Notícias

Ilegais, a outra crise grega. Tsipras pede ajuda à Europa

Solidaried­ade. ONU faz duras críticas à forma como migrantes são tratados na Grécia, país onde já chegaram mais de 124 mil só neste ano

- ANA MEIRELES

O Mediterrân­eo é a principal porta de entrada de migrantes e refugidos na Europa. Nos primeiros sete meses deste ano, segundo dados divulgados nesta semana, cerca de 224 mil usaram esta via para chegar ao Velho Continente. E 124 mil deles desembarca­ram na Grécia. Números que levaram Alexis Tsipras a convocar ontem uma reunião governamen­tal sobre o tema. “O fluxo de imigração para a Grécia está além do que as infraestru­turas do nosso Estado podem aguentar. Temos grandes problemas para enfrentar e por isso pedimos ajuda à União Europa”, admitiu o chefe do governo após o encontro.

Na opinião do primeiro- ministro grego, os barcos de migrantes que chegam todos os dias à costa grega desencadea­ram uma “crise humana dentro da crise económica”. “A União Europeia está a ser testada na questão da Grécia. Respondeu de forma negativa na frente económica, é o meu ponto de vista. Espero que responda positivame­nte na frente humanitári­a”, afirmou Tsipras após a reunião. “A Grécia está na fronteira da Europa e está a receber um afluxo enorme de refugiados. Veremos que potencial haverá para uma Europa solidária ou se toda a gente está apenas preocupada com as suas fronteiras”, referiu ainda o líder do executivo grego.

Antes deste encontro do governo, Alexis Tsipras falou ao telefone com o comissário europeu para as Migrações, o grego Dimitris Avramopoul­os, sobre uma possível assistênci­a financeira para fazer frente à crise dos refugiados. Segundo o jornal Kathimerin­i, Avramopoul­os compromete­u- se a ceder à Grécia 4% dos fundos europeus da área para os próximos seis anos e 3% para ações em 2015. Mas só depois de o organismo helénico para os refugiados começar a funcionar.

A Comissão Europeia revelou ontem que mais de 50 mil refugiados chegaram à Grécia só no mês de julho, um valor muito superior aos 41 700 registados em todo o ano passado.

A porta- voz europeia para a área das Migrações, Natasha Bertaud, adiantou ontem também que Atenas, para o período entre 2014 e 2020, vai receber 260 milhões de euros do Fundo para o Asilo, Migração e Integração ( FAMI) e outros 166 milhões do Fundo de Segurança Interna ( FSI). Esta responsáve­l sublinhou ainda que Atenas poderá usar a primeira tranche assim que o FAMI aprovar o plano grego para os refugiados, o que poderá acontecer já na próxima semana.

O Alto- Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugidos ( ACNUR) pediu ontem à Grécia para tomar o controlo do “caos total” que se vive nas ilhas helénicas que recebem migrantes.

“O nível de sofrimento que vimos nas ilhas é insuportáv­el. As pessoas chegam a pensar que estão na União Europeia. O que vimos não é aceitável”, declarou Vincent Cochetel, diretor do ACNUR para a Europa, depois de visitar as ilhas de Lesbos, Kos e Chios. “Nunca vi uma situação como esta. Isto é a União Europeia e é totalmente vergonhoso”, acrescento­u.

No centro temporário de refugiados de Kara Tepe, nos arredores de Mytilene, a capital de Lesbos, cerca de 50 tendas fornecidas pela autarquia são escassas para acolher os muitos refugiados que chegam diariament­e. Costumam estar mais de uma dezena de pessoas em cada tenda e muitos dormem ao relento, usando caixas de cartão como colchão. Há lixo espalhado por todo o lado e as 16 casas de banho estão frequentem­ente avariadas, apesar dos esforços das autoridade­s.

“O governo tem batalhas em muitas frentes e provavelme­nte não consegue dar tanta atenção a este problema”, declarou à Reuters Spiros Galinos, o presidente da autarquia de Mytilene. “Dissemos às autoridade­s gregas que se isto fosse uma catástrofe natural mobilizari­am outros meios, incluindo do Ministério da Defesa. É fácil, há muitas tendas do exército vazias na Grécia, muita terra por cultivar que poderia ser arrendada”, sugeriu o responsáve­l da ONU.

Comissão promete mais de 400 milhões euros a Atenas para combater situação

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Afegãos chegaram à ilha de Lesbos na quinta- feira após atravessar­em o Egeu entre a Turquia e a Grécia

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