O cérebro de Jesus
Jorge Jesus não nasceu no tempo da informação e da imagem, como é bem evidente. E por isso nestas coisas corre sempre em pista própria, com as suas ideias no seu português. Não foi, mais uma vez, elegantíssimo com um colega, no caso Rui Vitória, ao dizer que fazem tudo igual mas falta o cérebro do Benfica, ou seja, ele próprio. Não se ignora que o Benfica também pôs a circular como Jesus andava a telefonar a ex- subordinados a pedir coisas que a estrutura do Benfica tinha criado no seu tempo, o que também não é amigável, como não o foi, pelo contrário, o responsável da comunicação do Benfica quando ele deixou o clube. Curiosamente, Jesus e Luís Filipe Vieira, o seu ex- presidente, conversaram bem domingo passado, no casamento do empresário Jorge Mendes, como o treinador conversou longamente – e recebeu um forte abraço – com o presidente do FC Porto. Mas quando está em causa um título como a Supertaça, tão importante para o Sporting que precisa de criar certezas com vista ao play- off da Liga dos Campeões, todas as armas saltam fora. E esta época, com tanto investimento, é capaz de valer tudo. O Benfica dá sinais de algum atraso, de dúvidas, mas o clube voltou a saber, nos últimos anos, como se constrói uma boa equipa. Depois de anos a perder jogadores para o FC Porto por hesitar em pôr dinheiro na mesa, Luís Filipe Vieira hoje sabe que em certas ocasiões é mesmo necessário o cheque à vista. Como fez agora com Mitroglou enquanto o Sporting esperava a melhor oportunidade. O cérebro de Jesus defronta amanhã a ideia de Jesus sem o cérebro, disse Jesus. Como se, no fundo, não fosse inteligente pegar numa equipa bicampeã e só mudar o necessário, como tem feito Rui Vitória, por muito que se discuta se vai funcionar no Benfica. Já sobre o cérebro de Jesus não tenho dúvidas de que funciona bem – mas só no campo mesmo.