Pequenos acionistas desconfiam das contas do BES mau
Grupo diz que números relativos às contas do primeiro semestre de 2014 não batem certo. E fala em “falsificação mercantil da escrita”
Consórcio para a Defesa dos Investidores do BES diz que resultados do primeiro semestre de 2014 não batem certo.
O Consórcio para a Defesa dos Investidores do BES, um grupo de pequenos acionistas do antigo Banco Espírito Santo, criticou fortemente os resultados revelados ontem pela administração do BES mau, relativos ao primeiro semestre do ano passado. O grupo considera que “o balanço apresentado” agora pela administração liderada por Máximo dos Santos, nomeado pelo Banco de Portugal a 4 de agosto de 2014, “não tem a mínima consistência”, tendo em conta os números revelados a 30 de junho do ano passado.
“Segundo essas contas”, refere o comunicado, “os prejuízos do exercício relativos ao primeiro semestre de 2014 eram de 3,7 mil milhões de euros”. “Havia, assim, uma diferença muito grande entre o capital próprio [ mais de 6,5 mil milhões] e os prejuízos, que colocava o BES completamente fora de um quadro falimentar, pelo que a resolução só podia entender- se como uma medida política.” Para o grupo de pequenos acionistas, o balanço publicado nesta sexta- feira no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ( CMVM), “relativamente ao primeiro dia da resolução – 4 de agosto de 2014 –, é uma falsificação, porque não tem qualquer consistência com o balanço em que o Banco de Portugal assentou a própria medida de resolução”.
De acordo com as contas dos pequenos acionistas, de 3 para 4 de agosto de 2014, “os homens de palha do Banco de Portugal, que nem sequer detinham a administração nessa data, conseguiram aumentar os prejuízos de 3,7 mil milhões para 8,9 mil milhões de euros”. “Isto chama- se falsificação de escrita mercantil e é punido pela lei penal.”
Em declarações ao DN, Miguel Reis, advogado que representa o consórcio, mostra- se surpreendido por existirem dois balanços: “Há um ano foi publicado um que nada tem a ver com o que foi revelado nesta semana. Um deles é falso.” O advogado critica ainda a falta de demonstrações contabilísticas das transferências de ativos do BES para o Novo Banco: “O balanço agora apresentado não reflete essas transferências, o que confirma a teoria de assalto ao BES.”
O BES anunciou, na sexta- feira, que tinha um buraco financeiro de 2,4 mil milhões de euros há um ano, após a resolução do Banco de Portugal que dividiu o banco em dois – Novo Banco e BES mau, para onde foram transferidos os ativos mais problemáticos.
Em comunicado enviado à CMVM, a instituição agora liderada por Luís Máximo dos Santos revelou o balanço do banco mau a 4 de agosto do ano passado e a conclusão é que, na altura, o banco tinha um ativo avaliado em 193,4 milhões de euros, mas as suas responsabilidades ( o passivo) eram de 2,6 mil milhões. Na radiografia tirada às contas do BES mau, do total do passivo anunciado, cerca de mil milhões de euros são provisões para fazer face “a determinadas contingências devidamente identificadas”, como, por exemplo, um montante de 667,6 milhões “relacionados com dívida emitida pelo Grupo Espírito Santo e subscrita por clientes de retalho do BES”, explica a instituição. Ou seja, o montante que a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial vem reclamando junto do Novo Banco e do Banco de Portugal. Aliás, esta questão já tinha sido levantada pelo presidente do BES mau quando, em fevereiro, na comissão de inquérito parlamentar do BES e GES, disse que “a provisão não se evaporou” e que estaria registada nas contas do banco mau.
Luís Máximo dos Santos adiantou, no entanto, que, “por muito extraordinariamente eficiente que fosse a administração do banco”, não se antevia que pudesse “haver recursos suficientes”. “Com os ativos que temos, o grau de recuperabilidade é baixo.”
Nessas provisões também estão incluídos 271,9 milhões de euros para “determinadas obrigações para o BES, no âmbito da aquisição por parte de clientes venezuelanos de dívida emitida pelo Grupo Espírito Santo”. No passivo do banco está também o empréstimo de 834,6 milhões de dólares ( 760 milhões de euros) contraído pelo BES à Oak Finance, uma sociedade veículo do banco Goldman Sachs, e que não foi transferido para o Novo Banco por decisão do Banco de Portugal.