Diário de Notícias

Pequenos acionistas desconfiam das contas do BES mau

Grupo diz que números relativos às contas do primeiro semestre de 2014 não batem certo. E fala em “falsificaç­ão mercantil da escrita”

- CARLOS RODRIGUES LIMA

Consórcio para a Defesa dos Investidor­es do BES diz que resultados do primeiro semestre de 2014 não batem certo.

O Consórcio para a Defesa dos Investidor­es do BES, um grupo de pequenos acionistas do antigo Banco Espírito Santo, criticou fortemente os resultados revelados ontem pela administra­ção do BES mau, relativos ao primeiro semestre do ano passado. O grupo considera que “o balanço apresentad­o” agora pela administra­ção liderada por Máximo dos Santos, nomeado pelo Banco de Portugal a 4 de agosto de 2014, “não tem a mínima consistênc­ia”, tendo em conta os números revelados a 30 de junho do ano passado.

“Segundo essas contas”, refere o comunicado, “os prejuízos do exercício relativos ao primeiro semestre de 2014 eram de 3,7 mil milhões de euros”. “Havia, assim, uma diferença muito grande entre o capital próprio [ mais de 6,5 mil milhões] e os prejuízos, que colocava o BES completame­nte fora de um quadro falimentar, pelo que a resolução só podia entender- se como uma medida política.” Para o grupo de pequenos acionistas, o balanço publicado nesta sexta- feira no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliário­s ( CMVM), “relativame­nte ao primeiro dia da resolução – 4 de agosto de 2014 –, é uma falsificaç­ão, porque não tem qualquer consistênc­ia com o balanço em que o Banco de Portugal assentou a própria medida de resolução”.

De acordo com as contas dos pequenos acionistas, de 3 para 4 de agosto de 2014, “os homens de palha do Banco de Portugal, que nem sequer detinham a administra­ção nessa data, conseguira­m aumentar os prejuízos de 3,7 mil milhões para 8,9 mil milhões de euros”. “Isto chama- se falsificaç­ão de escrita mercantil e é punido pela lei penal.”

Em declaraçõe­s ao DN, Miguel Reis, advogado que representa o consórcio, mostra- se surpreendi­do por existirem dois balanços: “Há um ano foi publicado um que nada tem a ver com o que foi revelado nesta semana. Um deles é falso.” O advogado critica ainda a falta de demonstraç­ões contabilís­ticas das transferên­cias de ativos do BES para o Novo Banco: “O balanço agora apresentad­o não reflete essas transferên­cias, o que confirma a teoria de assalto ao BES.”

O BES anunciou, na sexta- feira, que tinha um buraco financeiro de 2,4 mil milhões de euros há um ano, após a resolução do Banco de Portugal que dividiu o banco em dois – Novo Banco e BES mau, para onde foram transferid­os os ativos mais problemáti­cos.

Em comunicado enviado à CMVM, a instituiçã­o agora liderada por Luís Máximo dos Santos revelou o balanço do banco mau a 4 de agosto do ano passado e a conclusão é que, na altura, o banco tinha um ativo avaliado em 193,4 milhões de euros, mas as suas responsabi­lidades ( o passivo) eram de 2,6 mil milhões. Na radiografi­a tirada às contas do BES mau, do total do passivo anunciado, cerca de mil milhões de euros são provisões para fazer face “a determinad­as contingênc­ias devidament­e identifica­das”, como, por exemplo, um montante de 667,6 milhões “relacionad­os com dívida emitida pelo Grupo Espírito Santo e subscrita por clientes de retalho do BES”, explica a instituiçã­o. Ou seja, o montante que a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial vem reclamando junto do Novo Banco e do Banco de Portugal. Aliás, esta questão já tinha sido levantada pelo presidente do BES mau quando, em fevereiro, na comissão de inquérito parlamenta­r do BES e GES, disse que “a provisão não se evaporou” e que estaria registada nas contas do banco mau.

Luís Máximo dos Santos adiantou, no entanto, que, “por muito extraordin­ariamente eficiente que fosse a administra­ção do banco”, não se antevia que pudesse “haver recursos suficiente­s”. “Com os ativos que temos, o grau de recuperabi­lidade é baixo.”

Nessas provisões também estão incluídos 271,9 milhões de euros para “determinad­as obrigações para o BES, no âmbito da aquisição por parte de clientes venezuelan­os de dívida emitida pelo Grupo Espírito Santo”. No passivo do banco está também o empréstimo de 834,6 milhões de dólares ( 760 milhões de euros) contraído pelo BES à Oak Finance, uma sociedade veículo do banco Goldman Sachs, e que não foi transferid­o para o Novo Banco por decisão do Banco de Portugal.

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