Diário de Notícias

“Coligação propõe reforma estrutural dos sistemas de pensões”

A situação económica de Portugal foi o ponto de partida para o desafio que o DN lançou a personalid­ades associadas aos diversos partidos. Este segundo olhar ( depois do de Mário Centeno, candidato a deputado pelo PS) para o estado do país e para os progra

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Depois do socialista Mário Centeno, as ideias de um dos responsáve­is pela elaboração do programa económico do PSD.

Nos últimos anos Portugal enfrentou um período de emergência económica e social. Em resultado da gestão irresponsá­vel das finanças públicas feita no passado e da necessidad­e de cumprir com sucesso o PAEF imposto pelos credores, o país foi obrigado a tomar medidas difíceis mas indispensá­veis no sentido de reconduzir as contas públicas a uma trajetória de sustentabi­lidade, voltar a ter acesso aos mercados financeiro­s internacio­nais, retomar um ciclo de cresciment­o, de investimen­to, de criação de emprego e de redução do desemprego.

Num contexto de grande adversidad­e e de escassez de recursos, os sistemas públicos de proteção social foram chamados, em parceria com toda a rede social e solidária, a implementa­r um programa de emergência social, procurando salvaguard­ar o mais possível das consequênc­ias das medidas de restrição financeira aqueles que, encontrand­o- se em situação de maior fragilidad­e, estavam mais expostos a situações de pobreza e exclusão social.

Não obstante os progressos registados no passado recente, a natureza estrutural dos problemas de sustentabi­lidade, adequação e equidade dos sistemas públicos de proteção social continua a colocar à sociedade port uguesa desafios urgentes e complexos, cuja resolução não pode mais ser adiada. Apesar de todas as medidas excecionai­s de aumento da receita e de contenção e corte da despesa adotadas nos últimos anos, o integral pagamento das prestações sociais só foi possível pela transferên­cia de dotações extraordin­árias crescentes do OE.

Neste quadro, o programa eleitoral da coligação apresenta uma estratégia integrada de reforma estrutural dos sistemas de proteção social que aponta para a criação de condições efetivas para a sua viabilidad­e económica, f i - nanceira, social e política, para a redução das desigualda­des sociais, para uma maior inclusão social, para a redução do desemprego jovem, estrutural e de longa duração.

Ao nível dos sistemas previdenci­ais de segurança social, é bem sabido que a sua sustentabi­lidade depende de um adequado equilíbrio entre o número de contribuin­tes e beneficiár­ios, dos níveis de emprego, de salários e de cresciment­o económico, das taxas efetivas de contribuiç­ão. Dado o seu modo de financiame­nto em repartição, em que as receitas correntes com contribuiç­ões e quotizaçõe­s são canalizada­s, no imediato, para pagamento das prestações sociais aos atuais beneficiár­ios, a sua sobrevivên­cia depende igualmente da confiança das gerações ativas no cumpriment­o futuro do contrato intergerac­ional.

Perante as dinâmicas des - favoráveis da demografia ( acentuado envelhecim­ento na base e no topo) projetadas para as próximas décadas, o programa eleitoral da coligação PSD- CDS apresenta desde logo uma aposta integrada em medidas destinadas a promover a recuperaçã­o dos

níveis de natali dade ( e . g. , aumento da cobertura e qualificaç­ão da rede de creches, aprofundam­ento do quociente familiar no IRS, aumento da compartici­pação pa ra as respostas da infância, medidas de conciliaçã­o f amília-t rabalho, majoração de pensões f uturas para f amílias com filhos).

Aposta também num efetivo prolongame­nto das carreiras laborais, objetivo que passa por manter os trabalhado­res saudáveis, qualificad­os e motivados ( e. g., programas de qualificaç­ão ao longo da vida, reforma a tempo parcial, prevenção da saúde física e mental, bonificaçã­o das carreiras longas), uma aposta no retorno de emigrantes.

Mas, na minha opinião, o programa eleitoral vai mais l onge e propõe à sociedade portuguesa, para discussão e aprovação no quadro de um amplo consenso social e político, os fundamento­s de uma reforma estrutural dos sistemas de pensões.

O modelo proposto preserva os princípios essenciais do atual sistema, a saber, a sua matriz pública, o caráter obrigatóri­o, único e universal da proteção social, o mecanismo de financiame­nto em repartição, a sua natureza solidária consubstan­ciada na atribuição de complement­os de pensão e pensões não contributi­vas aos trabalhado­res que chegam ao fim da sua vida ativa com carreiras insuficien­tes.

Mas aponta, pela primeira vez, para uma mudança de paradigma no sentido de criar um sistema mais sustentáve­l, que gere pensões adequadas à manutenção do nível de vida na velhice e que seja verdadeira­mente equitativo intra e intergerac­ionalmente.

Essa transforma­ção é materializ­ada, desde logo, no reforço do princípio da contributi­vidade e da transparên­cia na relação que se estabelece entre os contribuin­tes e o sistema de pensões, em resultado da criação de contas individuai­s (“Caderneta de Aforro para a Reforma”).

Estas registarão todos os movimentos do beneficiár­io junto do sistema relevantes para a formação da sua pensão, premiarão os trabalhado­res que mais contribuem monetariam­ente para o sistema, levarão à eliminação dos regimes especiais e à convergênc­ia integral dos sistemas públicos de pensões, e permitirão que o trabalhado­r acompanhe ao longo de toda a carreira contributi­va, de forma transparen­te, a constituiç­ão de direitos sobre o sistema e, dessa forma, melhor planifique as suas decisões de poupança, consumo, participaç­ão no mercado de trabalho e momento da reforma.

Ao tornar claro que as pensões dos regimes contributi­vos dependerão intrinseca­mente das contribuiç­ões feitas ao longo da vida, é expectável que esta medida gere fortes incentivos à participaç­ão formal no mercado do trabalho, reduza a fraude e evasão contributi­vas e diminua os períodos de desemprego e inatividad­e. A criação das contas individuai­s flexibiliz­ará ainda o processo de en trada na reforma, permitindo a introdução de mecanismos de reforma parcial.

A preocupaçã­o para com a confiança e transparên­cia do sistema está igualmente presente no compromiss­o de implementa­r um sistema de reporte permanente sobre a situação financeira do sistema e de desenvolve­r o relatório de sustentabi­lidade que anualmente acompanha o Orçamento do Estado ( OE) presentes no programa.

A re f or ma i nclui ai nda uma aposta ef et i va no desenvolvi­mento dos planos complement ares de re f or ma ( de natureza profi ss i onal – empresa – ou de iniciativa individual), uma medida importante para promover a diversific­ação das fontes de rendimento na velhice, fomentar a re s ponsabilid­ade i ndividual e coletiva na formação da pensão global e reforçar a poupança da economia.

O programa prevê ainda a anál i se e a calibragem em sede de concertaçã­o social, e a aprovação ( em caso de um consenso alargado e condições de cresciment­o adequadas) da introdução, para as gerações mais novas, de um limite superior para as contribuiç­ões que, em contrapart­ida, restringir­á igualmente a responsabi­lidade do Estado para com o valor da futura pensão. Dentro desse limite, a contribuiç­ão deve obrigatori­amente destinar- se ao sistema público e, a partir dele, garantir a liberdade de escolha ao trabalhado­r quanto à entidade ( pública, privada, mutualista) que f ará a gestão das contribuiç­ões excedentár­ias.

Esta proposta, bastante mitigada nos seus impactos de curto e médio prazo sobre o financiame­nto da Segurança Social, cont rast a com a proposta do PS de re dução da t axa s ocial única ( TSU) em 4% para os trabalhado­res ( denominada de plafonamen­to vertical), que não só retira uma fatia importante das receitas ao sistema como não cuida de exigir que a base contr i butiva i s enta fica sujeita a contribuiç­ões para regimes complement­ares de proteção social.

Ao nível do emprego, o programa da coligação aponta para a continuida­de das medidas de apoio à contrataçã­o em vigor, introduzin­do uma discrimina­ção positiva para os território­s de baixa densidade demográfic­a, privilegia­ndo a promoção de emprego permanente e de qualidade, e propõe- se i ntensifica­r o desenvolvi­mento de políticas ativas de emprego, orientando- as agora para os públicos considerad­os mais vulnerávei­s, nomeadamen­te os desemprega­dos de longa duração e os j ovens, com soluções mais ajustadas que promovam a integração e o emprego.

Ao nível das prestações sociais não contributi­vas, o programa da coligação mantém o compromiss­o de aumentar as pensões mais baixas, canalizand­o os recursos disponívei­s para os mais desfavorec­idos, um reforço das políticas destinadas às pessoas com deficiênci­a e o controlo mais apertado da j ustiça na atribuição de prestações sociais desta natureza. Aposta ainda em políticas de ativação dos desemprega­dos, dos beneficiár­ios do rendimento social de inserção ( RSI) e de integração das pessoas com incapacida­de e deficiênci­a mais eficazes.

Central no programa continua a ser o reforço da parceria com as instituiçõ­es do setor social, avançando agora para novas áreas co - mo a gestão dos programas de apoio alimentar, o apoio aos alunos com dificuldad­es de aprendizag­em e oriundos de famílias mais desfavorec­idas ou a criação de uma nova rede de serviços personaliz­ados para apoio a idosos e a pessoas com deficiênci­a.

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