“EU E O RICHARD DECIDIMOS: SE A POLÍTICA COMEÇAR A AFETAR A NOSSA RELAÇÃO, PARO LOGO”
Se não houvesse esta “oportunidade política” não tencionava ir viver para outro país? Não sei. Eu e o Richard [ Zimler] falámos muitas vezes sobre isso. A intenção era viajar por uns meses. Nós gostamos imenso do deserto americano, das Monta - nhas Rochosas, e iríamos de certeza passar uma parte do ano lá. Alugávamos uma casinha muito baratinha no meio de nenhures e ficávamos lá uns meses. Também gostava de conhecer mais a Europa – não gostava de ir para muito longe. O Oriente não me interessa muito. Não tenho grande curiosidade pela China. Ele não ficou aborrecido com esta decisão? Ficámos ambos apreensivos. Porque esta nova situação é uma coisa que envolvia duas pessoas que têm 37 anos de vida em conjunto e que não permitem o que quer que seja que altere as suas vidas. A nossa decisão foi a de que se isto começar a afetar a nossa relação ou a minha saúde eu pararei instantaneamente. Aí não há qualquer discussão. Isso é uma forma de estar que vem de família? Nasci muito tarde. Os meus pais estiveram casados 15 anos antes de eu nascer porque estavam na guerra e a única coisa que desejaram para mim foi que fosse feliz. Esse era um melhor posicionamento para com os filhos? Toda a vida deles acharam que a única coisa que era importante era eu sentir- me realizado naquilo que estava a fazer. Isso era ass i m porque e r a m pai s mais ve lhos e que já tinham vivido os desafios todos anteriormente. Hou ve uma sabedoria profunda que aprecio imenso, daí que não vá permitir o que quer que seja que interfira na minha vida de um modo indesejado. Não é uma forma de egoísmo, pois estou muito interessado nos problemas sociais e nas minhas preocupações em muitas áreas sociais fraturantes em Portugal. Mas essa necessidade de também comparticipar deve- se a sentir que recebi dos meus pais, da sociedade e dos meus amigos muitas coisas valiosas. Isto pode parece um bocadinho chacha mas não é. Ainda sente curiosidade em estudar? Tenho imensos livros que gostaria de ler. Principalmente na área do risco e perceber como é que entendemos o risco, como é que se o comunica e usa para tomar decisões. É uma área fascinante. Tem que ver com as suas áreas de estudo? Está entre as ciências sociais e as ciências humanas. Vejamos: para tomarmos uma decisão arriscada precisamos de três componentes: saber tudo sobre aquele assunto – e fica- se logo a perceber de imediato que há muita coisa que não sabe ou não se sabe; a segunda é perceber ou estar convencido de que se está a viver num mundo ou muito frágil ou muito robusto porque aí arrisca- se em função da própria capacidade; a terceira é a confiança. A confiança nas instituições que lhe dão a informação. Tem ou não confiança? E cada vez há menos confiança, como é o caso da discussão em torno das alterações climáticas. É um descrente nestas ameaças ambientais? Será que devemos acreditar no que andam a dizer sobre as alterações climáticas? Como é que se constroem os cenários na nossa cabeça para escolhermos a vida que queremos ter e a sociedade em que queremos viver. Essa equa ção fascina- me e acho que a Assembleia da República pode ser um laboratório interessantíssimo para estudar este assunto.